Haddad defende dar dinheiro aos microempresários

Em entrevista, o ex-prefeito diz que pequenos negócios não podem ser abandonados pelo governo e volta a criticar Bolsonaro pela condução da crise sanitária. E alerta: o presidente cultiva o sonho de impor uma ditadura. “Eu tenho a convicção de que ele vai exercer o poder absoluto, se puder. Ele não é um democrata”

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Ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad defende que o governo federal promova um programa que garanta recursos a fundo perdido para micro e pequenas empresas, responsáveis no país pela geração de 17 milhões de empregos. Seria uma espécie de seguro-quarentena, como o auxílio emergencial de R$ 600, aprovado pelo Congresso, e que o governo vem liberando a conta-gotas para os mais necessitados do país. O advogado e economista diz que a linha de crédito oferecida pelo governo para as microempresas não saiu do papel, o que está agravando a crise econômica, cujo impacto foi ampliado pela pandemia, mas já vinha fazendo água desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro.

“Eu não afastaria a hipótese da necessidade de um subsídio. A Alemanha foi lá e deu um enxoval para as empresas manterem por 60 dias as suas atividades”, defendeu Fernando Haddad em entrevista ao programa ‘Poder em Foco’, parceria do site Poder 360 e do SBT, conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. “Seria algo como o auxílio de R$ 600 pago a trabalhadores, mas adequado às especificidades das pequenas empresas”. Segundo Haddad, a burocracia e os bancos travaram o dinheiro para as pequenas e microempresas no pior momento da economia brasileira nos últimos 35 anos, com previsão de queda de 5% do PIB para 2020. Dos R$ 40 bilhões prometidos pelo governo, apenas R$ 1,8 bilhão foi efetivamente liberado pelas instituições financeiras.

Compromisso com os grandes

O próprio ministro da Fazenda, Paulo Guedes, resiste à ideia de conceder crédito barato às micro e pequenas empresas, porque tal iniciativa vai contra seu dogmatismo neoliberal. Na fatídica reunião de 22 de abril, quando Bolsonaro reuniu o ministério para discutir a crise econômica, o Posto Ipiranga deixou claro que ajudar microempreendedores individuais ou microempresas não é rentável para o próprio governo.

Guedes confessou que o foco do governo devem ser as grandes companhias e o próprio sistema financeiro, irrigado com R$ 1,3 bilhão liberados pelo Banco Central e o Tesouro, há dois meses. “Nós vamos botar dinheiro, e vamos ganhar dinheiro. Vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes companhias”, prometeu. E não titubeou ao apontar os riscos para os pequenos negócios, cuja importância para a economia do país e a manutenção do mercado de trabalho são fundamentais. “Nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas”, alegou.

Haddad diz que salvar vidas e pequenas empresas neste momento é crucial para o país. “Teria que criar linhas de crédito com risco Tesouro, mas carimbado para pagar a folha”, afirma. Atualmente, o programa do governo divide o risco: 15% fica com o setor bancário. O problema é que as instituições financeiras resistem a assumir as operações. Daí o baixo volume de empréstimos ao setor. 

“Tem uma hora em que a empresa é tão pequena que ela se confunde com o trabalhador. Tem que tratar o empresário como um trabalhador, porque é exatamente o que ele é. Ele é um trabalhador que está com um grupo de quatro pessoas, cinco pessoas, às vezes familiares, às vezes é um microempreendedor individual. Está na mesma situação, às vezes até mais precarizado do que o assalariado”, defendeu Haddad.

Impeachment é o caminho

Na entrevista, o ex-candidato à Presidência da República voltou a criticar Bolsonaro, não apenas pela condução do país durante a pandemia, mas pelo risco de uma ruptura institucional que ele vem ensaiando. “Eu tenho a convicção de que ele vai exercer o poder absoluto, se puder. Ele não é um democrata”, disse Haddad. Em diversas ocasiões, lembrou, Bolsonaro demonstrou seu apreço pelo regime militar instaurado com o golpe de 1964 e que durou até 1985. “Ele cultiva a ditadura”, afirma Haddad. O ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo defendeu o impeachment.

“Pra mim, um presidente que instaura o caos, que joga a população contra os seus prefeitos, contra o seu governador, contra o Poder Judiciário, contra a Polícia Federal, este governante não tem condições, numa crise deste tamanho, de permanecer no poder”, aponta Haddad. “Bolsonaro cometeu pelo menos três tipos previstos na Constituição considerados crimes de responsabilidade”, diz.

Ele também fez questão de ressaltar que o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, não seria solução para a crise política que o país atravessa, até porque não tem feito a defesa da democracia. “Ele já deixou claro que, tanto quanto o Bolsonaro, despreza a democracia”, afirma. Antes de ser eleito, Mourão chegou a falar em “autogolpe” como solução para um cenário de instabilidade política no país.

Da Redação

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