No mês da visibilidade trans é triste lembrar de um dado que aterroriza o Brasil, o país lidera o ranking de assassinatos de pessoas trans. Só em 2017, foram 179 homicídios de pessoas travestis ou transexuais, o equivalente a uma morte a cada 48 horas. Em 94% dos casos as vítimas eram mulheres, os números são os maiores dos últimos 10 anos, de acordo com dados do Mapa dos Assassinatos de Travestis e Transexuais, divulgado pela Associação Nacional de travestis e transexuais (Antra) em 2018 e noticiado pela Agência Brasil.
A secretária de Articulação Política da Antra e autora do estudo, Bruna Benevides, explicou em entrevista a Agência Brasil que “a gente diz que o machismo é a semente do ódio e do preconceito. É como se os corpos dessas pessoas que desafiam as normas tivessem que ser expurgados da sociedade. E é isso que a sociedade tem feito”.
Depois do Brasil na lista de países que mais matam travestis e transexuais está o México, com 56 assassinatos.
Entre 2016 e 2017 houve aumento de 15% das notificações de casos. A maior parte dos crimes ocorreu no Nordeste, com 69 mortes, em seguida o Sudeste com 57, Norte e Sul com 19 e Centro-Oeste com 15 assassinatos.
A idade também foi fator de destaque no levantamento, embora não tenha sido identificado a idade de 68 pessoas, dentre as outras 111 assassinadas, 67,9% tinham entre 16 e 29 anos, 23% entre os 30 e 39 anos, 7,3% entre 40 e 49 anos. Maiores de 50 anos, 1,8%. A expectativa de vida da população trans é de 35 anos.
A discriminação por cor fica evidente no Mapa: “80% dos casos foram identificadas como pessoas negras e pardas, ratificando o triste dado dos assassinatos da juventude negra no Brasil”. Para Bruna, “não é seguro, hoje, no Brasil, ser travesti e transexual, como não é seguro ser mulher e negro no país”.
Os crimes que ocorreram nas ruas configuram 55%, isso porque 70% das pessoas trans assassinadas eram profissionais do sexo. De acordo com o levantamento os dados mostram “o ódio às prostitutas, em um país que ainda não existe uma lei que regulamente a prostituição que, apesar de não ser crime, sofre um processo de criminalização e é constantemente desqualificada por valores sociais pautados em dogmas religiosos que querem manter o controle dos seus corpos e do que fazemos com eles”.
Tipos de agressões
O relatório evidencia também a crueldade desses assassinatos. Entre os homicídios registrados, 52% foram cometidos com o uso de armas de fogo, 18% por arma branca e 17%, por espancamento, asfixia e/ou estrangulamento. Em muitos, foi utilizado mais de um tipo de arma.
“A associação mais comum é com a agressão física, tortura, espancamento e facadas. Em 85% dos casos os assassinatos foram apresentados com requintes de crueldade como uso excessivo de violência, esquartejamentos, afogamentos e outras formas brutais de violência. O que denota o ódio presente nos casos. Onde vemos notícias de corpos gravemente mutilados, tendo objetos introduzidos no ânus das vítimas, tendo seus corpos incendiados e jogadas de viadutos”, diz o texto.
Não existem dados oficiais de violência contra pessoas trans no Brasil, por conta disso, o levantamento anual é feito através de pesquisa em matérias de jornais, informações da internet e relatos cedidos a organização. Os dados são colocados em um mapa virtual, que contém nome, identidade de gênero da vítima, local da morte, entre outras informações disponíveis.
Da Redação da Secretaria Nacional de Mulheres do PT com informações da Agência Brasil