Partido dos Trabalhadores

25 de julho, dia de celebrar e exaltar as mulheres negras

Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é marco para o movimento na América Latina e busca valorizar a ancestralidade negra

Agência Brasil

"Não há democracia sem mulheres negras e sem mulheres negras nos espaços de poder", afirma a ministra da Cultura, Margareth Menezes

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, é uma data fundamental para o movimento negro da América Latina. Surgiu durante o 1º encontro de Mulheres Negras Latino Americanas e Caribenhas, realizado na República Dominicana, em 1992, no intuito de ampliar e trazer visibilidade à luta internacional das mulheres negras contra o racismo e o machismo. Com isso, a data passou a ser reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Segundo o Ministério das Mulheres, o encontro foi base para feministas discutirem como o racismo e o machismo interferem nas potencialidades de mulheres negras no continente americano. No Brasil, a data marca também a celebração do Dia Nacional de Tereza de Benguela, liderança quilombola, símbolo da resistência e luta abolicionista. 

Ainda de acordo com o ministério, o 25 de julho reflete o pensamento da brasileira Lélia Gonzalez, que defende o conceito de “amefricanidade”, um fazer político resultado da relação entre gênero, raça e classe social. O conceito denuncia também a força do colonialismo e do imperialismo sobre as experiências de mulheres das Américas.

Em 2013, o Odara – Instituto da Mulher Negra – criou o Julho das Pretas, “ação de incidência política e agenda conjunta e propositiva com organizações e movimento de mulheres negras do Brasil, voltada para o fortalecimento da ação política coletiva e autônoma das mulheres negras nas diversas esferas da sociedade.” No endereço www.bit.ly/JulhoDasPretas23 é possível acompanhar eventos em todo o país que ocorrem até o fim do mês para celebrar a data. 

Evento para celebrar a ancestralidade

O Ministério da Cultura, capitaneado pela ministra Margareth Menezes, realizou na segunda-feira (24), o encontro “Mulheres Negras nos Espaços de Poder” para celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Além da ministra, a embaixadora de Barbados, Tonika Sealy-Thompson, a secretária Nacional de Articulação Institucional e Participação Política do Ministério das Mulheres, Carmem Foro, a deputada federal Célia Xakriabá  (Psol-MG), e outras convidadas participaram. 

Durante a sua fala, Menezes destacou a potencialidade das mulheres negras e a importância da valorização da ancestralidade: “Somos energia. Toda matéria é energia condensada. E nessa energia, nessa formatação que somos, desse nosso DNA, nós trazemos a nossa ancestralidade, de todas as vidas que se foram para poder construir a nossa presença nesse momento. Então é muito importante a gente compreender o poder da nossa ancestralidade”, disse a ministra.

“Não há democracia sem mulheres negras e sem mulheres negras nos espaços de poder. Defender o local da mulher negra é defender a própria humanidade. As mulheres negras enfrentam o histórico de desigualdade e poucas representações em postos de poder político e social e nem sempre foi assim. Quero homenagear a honradez, a abnegação e a força dos milhões e milhares de mulheres negras que foram hostilizadas, aviltadas em sua condição humana e sofreram os piores massacres e mais longos na história da humanidade. Aquela arquitetura de poder que faz efeito até hoje. Apesar de tanto não e tanta dor que nos invade somos nós a alegria da cidade”, apontou Menezes.

Carmem Foro também ressaltou a força das mulheres negras e o quão importante é valorizar as negras no Brasil: “Nós temos muita força e às vezes a  gente se esquece. Nos livramos todos os dias do machismo e do racismo. Somos pressionadas todos os dias para esquecer quem somos. Nós precisamos nos cuidar para seguir porque nós temos responsabilidades tanto seja no lugar que nós estamos hoje, enquanto governo, porque a gente precisa pensar nas meninas negras que estão as escolas, nos dados que a segurança pública demonstrou na semana passada sobre estupro”, defendeu Foro.

“A gente precisa lembrar do acesso à saúde para as mulheres. Nós precisamos entender os locais que estamos são espaços de poder e a gente precisa valorar isso. Não esquecer que é uma luta coletiva. O julho das pretas nos fortalece para tudo aquilo que ainda vamos fazer por nós e por todas as que virão.”

A secretária nacional de mulheres do PT, Anne Moura, e as deputadas federais Juliana Cardoso (PT-SP), Denise Pessôa (PT-RS), Reginete Bispo (PT-RS) e Carol Dartora (PT-PR) comentaram sobre a importância da data para as mulheres negras brasileiras. 

Anne Moura:  

“O Julho das Pretas é um período não só de valorização das mulheres pretas e negras, mas também de debater estratégias para inserir, cada vez mais, essas companheiras nos debates políticos e estratégicos do país e do nosso partido. É extremamente valoroso ver que contamos com deputadas federais comprometidas com a luta por mais mulheres nos espaços de poder e decisão, além de companheiras que estão em cargos estratégicos no governo federal. Costumo dizer que é urgente repovoar o imaginário popular. E esse mês vem somar a esta causa. No dia 25 de Julho celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, além do Dia Nacional de Tereza de Benguela. A Secretaria Nacional de Mulheres do PT está voltada para o fortalecimento da ação política coletiva e autônoma das mulheres negras nas diversas esferas da sociedade. Contem com o nosso apoio, companheiras! Vamos vivas e juntas lutar e construir um Brasil sem racismo e machismo!”

Juliana Cardoso: 

“Quero saudar o movimento Odara, que há 10 anos promove o Julho das Pretas para dar visibilidade às lutas históricas para superarmos as desigualdades de gênero e de raça. Vivemos em uma sociedade que insiste em não reconhecer esse direito, o Julho das Pretas é uma oportunidade de falarmos da história de Teresa de Benguela, de Chica da Silva, de Marielle Franco, e de tantas outras, refletindo sobre a violência de gênero e raça. A mulher preta, quando ocupa um espaço de poder, seja qual for, parlamentar, ativista ou líder comunitária, desafia as estruturas de poder dominantes de combate à falta de representatividade. É importante ampliar suas vozes e trabalharmos juntas para construirmos uma sociedade mais inclusiva. Uma sociedade antirracista, onde todas as mulheres têm espaço e oportunidade igual para exercer o poder na política e de todas as esferas da nossa vida”.

Denise Pessôa:

“O Julho das Pretas é um momento muito importante para reflexão das mulheres negras na política. Nós ainda somos minoria na política, embora a gente tenha muitas responsabilidades na sociedade. Com a Reforma Política, que garante um fundo eleitoral de fato para as mulheres negras ocuparem a política, é que a gente precisa cada vez mais incentivar essas mulheres a participarem da política e a ocupá-la. É a voz de quem mais é oprimido na sociedade que precisa vir para os espaços públicos para contribuir para a gente mudar essa desigualdade que o Brasil vive”.

Reginete Bispo: 

“Nesse 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, afro-indígenas e da diáspora vim aqui destacar a importância de termos mulheres negras no parlamento. Primeiro porque nós, mulheres negras, somos o maior grupo populacional do país e precisamos estar representadas. Segundo porque a história de luta por justiça e liberdade, a resistência histórica nesse país foram feitas pelos povos indígenas e negros e, portanto, as mulheres negras estiveram à frente disso. Então nós trazemos conosco o legado histórico e ancestral que tem proposições para apresentar para o país mais justo, democrático e igualitário. Não há democracia sem a presença das mulheres negras. Porque como já disse Angela Davis “quando uma mulher se movimenta toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. Então democracia, justiça e liberdade passa pela nossa luta, nosso trabalho e, sobretudo, pela nossa representação nos espaços de poder e decisão”.

 Carol Dartora: 

“O mês de julho é o mês em que nós mulheres negras realizamos mais fortemente uma incidência política da agenda conjunta e propositiva com organizações movimentos de mulheres negras do Brasil e do mundo voltadas para o fortalecimento da ação política coletiva e autônoma das mulheres negras nas mais diversas esferas da sociedade. O julho das pretas traz, todos os anos, temas importantes e necessários relacionados à superação das desigualdade de gênero e raça e coloca a pauta da agenda do feminismo negro em evidência”.

Da Redação do Elas por Elas, com informações dos Ministérios das Mulheres e da Cultura, e do Instituto Odara