O dia era 19 de abril de 1980. A paralisação por reajuste salarial levava às ruas mais de 200 mil metalúrgicos naquela que seria na época a resposta mais aguda contra a Ditadura Militar vigente desde 1964.
A reação dos donos do poder foi imediata ao decretar a prisão do então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Inácio Lula da Silva. Diante da repercussão negativa e da enorme pressão popular, o líder sindical e maior porta-voz dos trabalhadores acabou absolvido pelo Superior Tribunal Militar após 31 dias.
O dia agora é 5 de abril de 2018. Lula recebe mais um duro golpe ao ter a prisão decretada pelo juiz Sergio Moro por um crime sem provas, num ataque articulado por aqueles que representam os mesmos interesses de quem o condenou 38 antes.
A história se repete. A resposta do povo também: milhares de pessoas partem em direção ao número 231 da Rua João Basso em São Bernardo do Campo, onde até hoje fica o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Moro levou apenas 22 minutos para acatar o pedido de prisão dado pelo TRF-4. A militância respondeu na mesma velocidade e, antes do início da noite, já ocupava a frente do sindicato.
Entre tensão, choro e revolta também havia alegria para resistir. E cada pessoa que chegava fazia questão de mostrar a que veio. “Lula, obrigada por tudo. Meu pai é sindicalista, esteve sempre junto de você e eu fui criada com todo esse embasamento de querer ajudar as pessoas. Obrigada por tudo o que você fez por nós”, agradeceu a Deisi Almeida.
Além de gratidão, havia espaço também para recado de apoio. Recado de luta. “Lula, você não está sozinho e você sabe disso. Esses milhões de brasileiros que te amam e vão sempre te amar e você nunca estará sozinho. Você é nosso pai e nunca deixará a gente órfão. Lula nós te amamos”, lembrou a militante identificada apenas como Fabiana.
Em pouco mais de uma hora o quarteirão estava tomado. “Lula guerreiro do povo brasileiro” era o que se ouvia por todas as partes. Movimentos sociais, partidos de esquerda, representantes sindicais e líderes políticos se uniam pela mesma causa.
Em nenhuma das falas houve espaço para a palavra derrota. “Eu estava na casa da minha namorada, vi a multidão e vim correndo pra cá para me juntar ao povo para lutar pelo democracia e pelo que é certo. Eu creio que Lula é inocente e que vai ser inocentado. Por isso vamos ficar aqui”, completou Fabiana.
De fato, ficaram. “A gente não tinha nem luz lá na zona rural. A luz era com querosene. Hoje a gente tem energia. A gente sofria muito. Por isso a gente agradece muito tudo que ele fez durante os oito anos como presidente. Obrigado por tudo”, disse Djalma Aguiar.
“Lula, muito obrigado por tudo que você fez pelo Brasil e por tudo que ainda pode fazer. Tenho certeza que essa é só mais uma etapa dessa luta de décadas e tenho certeza que em outubro vou digitar 13 e ver o seu nome na urna. Estou te esperando”, finalizou Rodrigo Siqueira.
Da Redação da Agência PT de Notícias