Pesquisa da ONG Suíça Public Eye revela que 70% dos agrotóxicos utilizados no Brasil são altamente perigosos – 44% são proibidos na União Europeia por apresentarem riscos à saúde e ao meio ambiente.
O estudo “Lucros altamente perigosos”, feito em parceria com a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, lançado nesta quarta-feira (29), revela ainda que a empresa Suíça Syngenta ganha bilhões vendendo agrotóxicos altamente perigosos em países onde a legislação costuma ser mais fraca ou menos rigorosamente aplicada, como é o caso do Brasil.
Especializada em sementes e produtos químicos voltados para o agronegócio, a Syngenta que tem quase 70 pesticidas proibidos no mundo, é a principal vendedora de agrotóxicos no Brasil. Só em 2017, a empresa lucrou US$ 1,6 bilhão no país, o equivalente a 18% do que vendeu no mundo inteiro.
Dos 120 ingredientes ativos de agrotóxicos produzidos pela empresa, 51 não estão autorizados em seu país de origem e 16 foram banidos devido ao impacto à saúde humana e ao meio ambiente.
Já no Brasil, metade dos agrotóxicos mais vendidos pela Sygenta é composto por substâncias listadas como “altamente perigosas”, segundo a Rede de Ação contra Agrotóxicos, conhecida como PAN, sigla em inglês de Pesticide Action Network.
Segundo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (IBAMA) do Ministério do Meio Ambiente (MMA), cerca de 370.000 toneladas de agrotóxicos altamente perigosos foram pulverizadas em plantações no país – aproximadamente 20% do uso mundial.
A investigação aprofundada feita pela Public Eye no mundo obscuro dos agrotóxicos altamente perigosos também revela que a gigante suíça do setor de agroquímicos é uma das maiores responsáveis por inundar o mercado dos países de baixa e média renda com estes produtos.
“Este relatório traz a confirmação de denúncias que são feitas há anos pelos movimentos, organizações e especialistas sobre a perversidade das multinacionais de agrotóxicos”, disse o secretário do Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio.
Enquanto nos países sede seus piores venenos são proibidos, empresas como a Syngenta investem na fragilidade de legislação de países mais pobres para aumentarem seus lucros
– Daniel Gaio
Como o agronegócio se tornou o sustentáculo da economia brasileira, o poder político dos proprietários de terras cresceu. A bancada ruralista (um grupo parlamentar que representa os interesses da agroindústria) tem controlado em torno da metade do congresso brasileiro nos últimos anos e com o governo de Jair Bolsonaro (PSL), o poder do agronegócio está atingindo níveis sem precedentes.
A ministra que Bolsonaro escolheu para comandar a pasta da Agricultura é Tereza Cristina Dias que foi chefe do lobby agrícola no Congresso Nacional. Por sua atuação para forçar a flexibilização dos controles sobre os agrotóxicos recebeu o apelido de “Musa do Veneno”.
“O governo Bolsonaro trabalha para envenenar cada vez mais a população e deixá-la exposta às vontades de empresas que lucram com o nosso adoecimento. Só nos oito primeiros meses de 2019, o governo aprovou 290 agrotóxicos e trabalha para acabar com toda a legislação que garante alguma proteção a classe trabalhadora frente a este cruel cenário”, denuncia o dirigente CUTista.
Para a agrônoma e educadora da FASE, Francileia Paula de Castro, há uma estratégia internacional, principalmente na Europa e de multinacionais que residem nestes países, de destinar para nações de baixa renda, como o Brasil, Paraguai, Bolívia, Guiné e até para China, agrotóxicos que são banidos nestes países de origem aproveitando-se de uma legislação fraca para poder comercializar agrotóxicos altamente tóxicos.
“O questionamento é até que ponto os acordos internacionais interferem, inclusive nesta avalanche de agrotóxicos que foram liberados nos primeiros meses deste ano. Outro é, como a fragilização da legislação brasileira favorece estas indústrias e a comercialização de agrotóxicos altamente tóxicos no Brasil”, afirmou Francileia Paula de Castro.
Ela destacou que uma das propostas do documento da ONG Suíça Public Eye é cobrar dos parlamentos europeu e da Suíça uma forma de proibir a exportação de princípios ativos que já foram banidos em seus países de origem para países como Brasil, Argentina, Paraguai e outros.
“E também chamar a atenção da população que no relatório tem uns posicionamentos de organizações internacionais alertando para o problema, principalmente quando a gente tem uma situação de exploração e também de extermínio destes países”, finalizou a agrônoma.
O documento com 56 páginas traz outras análises dos impactos do uso do agrotóxico, como as transformações geográficas das intoxicações, um mergulho nas águas contaminadas do Brasil e os efeitos crônicos dos agrotóxicos na saúde humana no Brasil.
Por CUT