Ao interrogar o coronel da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Eduardo Naime, nesta segunda-feira (26), a CPMI do Golpe começará a lançar luz sobre o papel de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, no 8 de Janeiro.
Naime era comandante de Operações da PMDF e estava subordinado a Torres, nomeado secretário de Segurança Pública em 2 de janeiro. Eles eram, portanto, dois dos principais responsáveis pela proteção da Esplanada dos Ministérios no dia do ataque às sedes dos Três Poderes. Proteção que, o mundo inteiro viu, não existiu.
A sucessão de erros na Segurança de Brasília foi tão grande que se torna impossível acreditar que se tratou de um simples erro involuntário. Tanto é assim que, logo após a tentativa frustrada de golpe, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a prisão de Torres, Naime e do ex-comandante-geral da PM Fábio Augusto Vieira. Dos três, apenas Naime continua preso.
Caso não se acovarde e fale a verdade aos deputados e senadores da CPMI, o coronel Naime – cuja esposa, aliás, recebeu emprego de Torres no Ministério da Justiça em 2021 – poderá responder muitas perguntas que continuam à espera de uma boa explicação:
– Por que ele, Torres e outros membros-chave da PM tiraram férias ou licença justamente no período em que Brasília vivia uma turbulência golpista, mesmo havendo uma ordem que proibia dispensa de PMs até 9 de janeiro?
– Por que, mesmo com informes da área de inteligência sobre a chegada de milhares de manifestantes dispostos a tomar o poder, os efetivos da PMDF não foram colocados de prontidão (que permitiria um acionamento mais rápido), mas apenas de sobreaviso (esperar em casa)?
– Por que, mesmo com os avisos da área de inteligência, foi colocado para comandar a segurança da Esplanada o inexperiente major Flávio Alencar, mais tarde preso também por ter sido flagrado por câmeras de segurança facilitando acesso dos golpistas ao prédio do STF?
– Por que, um dia após a fracassada tentativa de golpe, o coronel Naime tentou sair de Brasília, o que levou a Polícia Civil a investigá-lo por uma possível tentativa de fuga?
Todos esses “erros” foram cometidos pelo mesmo sistema de segurança que, uma semana antes, durante a posse do presidente Lula, tinha se mostrado extremamente competente e que havia, ao longo de 2022, atuado em um total de 522 atos públicos, nenhum deles com registro de vandalismo, segundo dados da Subsecretaria de Operações Integradas (Sopi) do DF.
O que mudou de 1º de janeiro para 8 de janeiro? O secretário passou a ser o bolsonarista Anderson Torres, aquele mesmo que guardava uma minuta golpista dentro de sua casa em Brasília. O ex-ministro de Bolsonaro, não há dúvidas, sabotou, com a ajuda de gente graúda da PMDF, a segurança de Brasília. “Houve uma operação estruturada de sabotagem. Ele montou a sabotagem e viajou”, resumiu o interventor nomeado por Lula, Ricardo Capelli.
O ridículo sem fim da oposição
Todos esses fatos tornam muito, muito ridícula a tentativa da oposição, hoje, de culpar o governo Lula pelo que ocorreu na Praça dos Três Poderes em Brasília. Primeiro porque, segundo a Constituição, é o governo do DF e a PM do DF que devem garantir a segurança e a ordem naquele local.
E, em segundo lugar, porque para que a direita impedisse o governo Lula de “ser omisso”, bastava Anderson Torres ordenar que a PM, que estava sob seu comando, agisse como sempre agiu. Sim, bastava o ex-ministro de Bolsonaro fazer o que ele estava sendo pago para fazer para que a tal “omissão de Lula” não desse em nada.
Como ressaltou o deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSol-RJ) na sessão de quinta-feira (22): “É o curioso e tragicômico caso de uma extrema direita que articulou um golpe e depois busca responsabilizar um governo eleito. Coloca mais peso de responsabilidade numa eventual omissão da vítima do que na incompetência do algoz. Isso é bizarro.”
Da Redação