A exposição da face putrefata e brutal do fascismo talvez tenha sido o principal saldo político da caravana de Lula pelo Sul. Tiros, agressões, ovos, pedras, xingamentos revelaram a ação de milícias criminosas contra o ex-presidente e, essencialmente, contra a democracia.
A imensa e plural reação contra o atentado a Lula no Paraná forçou um recuo da extrema direita. A repulsa quase unânime à ação criminosa isolou seus expoentes e colocou na defensiva seus adeptos.
Mais: o escancaramento do fascismo, condensado nas balas contra a caravana, abriu caminho para a construção de uma frente ampla em defesa da democracia –processo que poderia ter sido aprofundado mais rapidamente se Lula e o PT tivessem sido mais assertivos nesse sentido já no ato final da caravana, em Curitiba, na quarta (28).
Transformado em manifestação suprapartidária em defesa da democracia, reuniu lideranças do PT, PCdoB, Psol, MDB, PSB, CUT, Força Sindical, Intersindical. Os não petistas apontaram a necessidade de ação conjunta contra o fascismo. Lula, porém, passou ao largo do tema em seu discurso, apesar de ter agradecido o apoio e a participação de forma enfática.
Se, no evento, seu pronunciamento possa ter sido aquém do esperado num encontro com essa carga simbólica, ao longo da caravana pelo Sul Lula demonstrou amplitude política, especialmente ao resgatar o legado de Getúlio Vargas.
Fez movimentos claros para estreitar seus laços com movimentos populares e com a esquerda. A própria escolha do roteiro, passando por áreas históricas de conflito, demonstrou essa decisão.
Nesse trajeto de 3.300 quilômetros, passando por 21 municípios em três estados, ficaram evidentes suas qualidades como estrategista. Utilizou táticas criativas e audaciosas para driblar as milícias fascistas e seguir com o comboio, que durou dez dias.
Evitou confrontos de frente, conteve os mais afoitos e não se curvou perante a sanha direitista. Deu aulas de política nos atos e nas estradas. Foi aclamado em praças, nos acostamentos das estradas, em reuniões com milhares ou com centenas de pessoas. Pegou crianças no colo, cantou, abraçou, fez trocentas fotos com fãs. Cenas de carisma explícito deixaram um rastro de adoração e compromisso.
TUTAMÉIA acompanhou a caravana no ônibus da imprensa, onde estavam integrantes de veículos estrangeiros e nacionais e funcionários da área de mídia do PT. Dos eventos realizados em 21 cidades, estivemos em 17. O ônibus não foi a São Leopoldo, Florianópolis e Foz do Iguaçu; em Francisco Beltrão, não foi possível chegar até a praça.
Alinhavamos o que vimos nessa jornada que começou dia 19 de março em Bagé (RS) e terminou no dia 28 em Curitiba (PR). Aqui vai o nosso balanço.
1. Há milícias atuando com a vista grossa do Estado
Apoiadores de Jair Bolsonaro, empresários rurais conservadores, policiais fora de serviço, setores da maçonaria e do MBL são apontados como articuladores e integrantes desses grupos fascistas. Alguns se mostraram armados. Organizando reuniões em entidades empresariais e fazendo convocações pela internet, eles mobilizaram forças para atacar a comitiva do presidente Lula. Faziam transmissões ao vivo das agressões.
Os ataques foram violentos e eram planejados de forma a bloquear o comboio e provocar estrago. Em São Miguel do Oeste (SC), por exemplo, uma sequência clara na agressão: quebra de para brisas, ovos no vidro do motorista (para desnorteá-lo e pedras). Em alguns pontos, rojões foram usados para tentar impedir o pouso da aeronave que transportava o presidente.
Em outros lugares, organizaram corredor polonês para controlar quem vinha pela estrada; perto de Foz do Iguaçu (PR), um ônibus de linha foi atacado ao ser confundido como participante da caravana. Caminhonetes monitoravam o comboio; máquinas buscavam interromper o caminho; pedras, ovos e xingamentos em profusão. Depois vieram as balas, os miguelitos. Fica claro que o propósito era intimidar o grupo, aterrorizar, matar até. A caravana seguiu.
Apoiadores de Lula também viraram alvo das milícias. Em Cruz Alta e Florianópolis, participantes dos comícios foram atacados de forma covarde quando chegavam ou saíam das manifestações. Estavam sozinhos ou em dupla; alguns foram hospitalizados.
Da linha de frente pública (para as fotos) desses grupos violentos faziam parte mulheres de meia idade, jovens que pareciam vindos da periferia, homens fortes. Geralmente um negro se colocava em local de destaque da tropa, que parecia desenhada para mostrar uma “diversidade identitária.” Transmissões ao vivo enalteciam as ações.
Em muitos casos, os protestos truculentos foram tolerados pelas polícias militares–para dizer o mínimo. Lideranças petistas falam em conivência e até cumplicidade das polícias. Policiais assistiram indiferentes a ações violentas. Em alguns casos, é plausível considerar a hipótese de associação entre policiais e milicianos, seja com troca de informações, amparo ou omissão.
2. Há sinais de fascismo na sociedade
Para além dos ataques violentos das milícias, foi possível observar, aqui e ali, manifestações de hostilidade. Um caminhoneiro que buzina e faz gestos obscenos, uma mulher que xinga da janela, um homem que esbraveja contra a caravana carregando suas compras de fim de dia.
Anos de campanha de ódio e criminalização renderam um caldo de cultura perigoso. Eleito pela mídia como “inimigo interno” desde as manifestações de 2013, o PT enfrenta rejeição irada em parcelas das classes médias. Não é por acaso que Bolsonaro arrebata mais de 15% das intenções de voto.
A crise econômica –que tolda perspectivas de ascensão social de imensas massas– gera um ambiente de revolta, indignação, raiva, que pode arrastar pessoas para o desatino e a insensatez. O discurso da ordem e da segurança sensibiliza franjas frustradas e desiludidas da sociedade.
O golpe de 2016 abriu o esgoto da ira, dando passe livre a grupelhos que se sentem autorizados e até estimulados a agir com truculência, espalhando medo, sem receio de punição. Com as instituições esfarrapadas, o ódio se esparrama sem freios.
Os estados do Sul têm história de emergência dos pensamentos nazista e fascista desde a Segunda Guerra Mundial, quando integralistas se multiplicaram por ali. Ainda hoje, pipocam episódios protagonizados por herdeiros dessas ideias de supremacia racial, intolerância e raiva. De resto, trata-se um fenômeno mundial, dado o esfacelamento econômico e social promovido pelo capitalismo financeiro: altíssima concentração de renda gera revolta, crise política e coloca em risco a democracia em escala planetária.
No Rio Grande do Sul, vimos que os fascistas tentaram recuperar e distorcer a memória da Revolução Farroupilha –com seu imaginário de liberdade—para pregar a expulsão da caravana. O hino rio-grandense era entoado pelos direitistas.
O relho foi usado contra manifestantes de esquerda –e a imagem virou símbolo desse momento–, como se métodos escravocratas pudessem ser novamente colocados em prática sem contestação. O senhor do chicote, diga-se, teve que recuar do seu desvario na Universidade Federal de Santa Maria.
3. Lula resgata legado getulista
Em São Borja, onde nasceram Getúlio Vargas e João Goulart e tem raízes de Leonel Brizola, a caravana promoveu o ato de maior carga histórica. Lula defendeu o legado getulista, a importância da legislação trabalhista e seu significado inovador. Fez, como ele próprio definiu, uma viagem de protesto contra o desmonte das leis trabalhistas perpetrado pelo governo golpista de Michel Temer.
A homenagem teve um tom de autocrítica. Na sua origem, o PT e o movimento sindical do ABC condenavam a legislação trabalhista estabelecida por Getúlio, associando-a à lei de Benito Mussolini, a Carta del Lavoro.
Na caravana, Lula repetiu que, com o passar do tempo, com leituras e novos aprendizados, percebeu a importância de Getúlio Vargas e de seu legado para a história do Brasil. Mesmo durante o período ditatorial, Getúlio foi um governo “do caralho”, definiu Lula, que vestiu em São Borja o lenço maragato da pacificação.
Em diversos momentos, Lula defendeu conquistas definidas por Getúlio. A Petrobras, o BNDES, os bancos públicos, necessidade da presença do Estado foram temas recorrentes de seus discursos caravana afora. Soberania e independência foram corolários da viagem.
Lula reforçou a ideia de que os EUA tiveram interferência no golpe que derrubou a presidente Dilma Rousseff. E lembrou de demonstrações de autonomia e projeção internacional nos governos petistas –pontos sempre reprovados pelos Estados Unidos.
4. Roteiro opta por áreas de conflitos históricos
A carga histórica da caravana ficou também evidente na escolha do trajeto. O Sul, onde tradicionalmente há um espaço para a extrema direita, também é palco destacado da esquerda. A região é lugar de nascimento de importantes movimentos sociais, de experiências inovadoras, de mobilizações históricas.
Lá, foi travada a Guerra do Contestado. Lá, no final dos anos 1970 e início dos 1980, surgiu o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. Lá, o MST coleciona sucessos e empreendimentos exitosos na agricultura familiar, no cooperativismo, em experiências de produção coletiva.
Lula escolheu “os fundos”, os “cafundós” dos estados, deixando de lado os grandes centros urbanos da região. Com exceção de Florianópolis e Curitiba, os atos ocorreram em cidades pequenas e médias. Uma parte dos eventos foi em regiões com assentamentos do MST ou em propriedades da agricultura familiar. Não eram grandes aglomerações –nem podiam ser. Tinham uma energia frenética e calorosa.
Para esses cafundós correram, no passado, os escravos fugidos, os escravos liberados pela Lei Áurea. Depois, os imigrantes que fracassaram, os que perderam suas terras, os caboclos, deserdados de todo o tipo. Hoje ainda vivem em conflito. Assassinatos de militantes sem-terra, perseguições, violência policial são dados da realidade dos lugares percorridos pela caravana.
Os pequenos agricultores, os assentados, os sem-terra têm vizinhos poderosos. Em todo o trajeto, plantações sem fim, silos imensos, instalações industriais de conhecidas marcas do agronegócio. Soja e milho predominam. Nas propriedades menores, criação de porcos, para fornecimento aos grandes processadores, e produção de leite –hoje esmagada pela concentração cada vez maior de compradores.
Há pouco mais de 100 anos, naquelas regiões de Santa Catarina e no Paraná, ocorreu a Guerra do Contestado. Foi a primeira batalha por terra em grande escala no país. O governo cedera a uma empresa construtora de ferrovias as terras das margens do trajeto. A companhia queria extrair imbuias e araucárias para exportar.
Isso forçava a expulsão de milhares de agricultores que trabalhavam ali por gerações. O resultado foi uma guerra camponesa pela defesa das terras. Tal como em Canudos (1896-1897), no Contestado (1912-1916) houve forte repressão do Exército, que enviou para lá 6 mil homens, além de contar com mil jagunços de fazendeiros da região.
No final dos anos 1970, quando as monoculturas de exportação avançaram na região Sul, o pequeno proprietário enfrentou novamente uma nova guerra, só que silenciosa. A concentração veloz da terra, a soja plantada com muitos agrotóxicos, por estímulo das grandes empresas químicas, trouxe conflito.
Em 1979, o que seria o embrião do MST ocupou uma terra na região. Foram cercados pelo Exército. O coronel Curió, aquele do Araguaia, foi enviado para desbaratar o mega-acampamento. Foi derrotado pelo amplo que os acampados conquistaram na sociedade. Em plena ditadura militar, aquele acampamento no interior do Rio Grande do Sul teve importante papel para esboroar o regime, já encurralado pelas greves do ABC lideradas por Lula.
As vitórias do MST não foram suficientes para estancar a migração de agricultores pobres para o Norte. De certa forma, eles seguiram o trajeto que a caravana traçou agora no Oeste dos Estados do Sul. Pelo caminho, entrevistamos muitas famílias gaúchas que seguiram por ali buscando terra.
Contaram dos avós desbravadores, após a perda das propriedades familiares. Falaram das tramoias de loteadores de terras que se aproveitaram da ruína de alguns. Nesse processo, em que pobres foram colocados em disputa contra mais pobres ainda, novamente os mais fracos foram sendo jogados para os cantos do país.
Nessa caravana, Lula também viu os bons frutos da reforma agrária. Quando parou em uma cooperativa de leite em Pontão (RS), agradeceu o apoio dos sem-terra. Ali, um grupo extremamente unido tem produção coletiva e uma história de sucesso empresarial. A partir da vivência sob uma barraca de lona na ocupação da fazenda Annoni, 30 anos atrás, uma turma de jovens resolveu se organizar e montar empresas e um loteamento com bases no coletivismo. Deu certo; eles seguem, juntos, ampliando suas ações.
5. Paz e porrada: no fio da navalha, com Giap
Foi em Pontão, em 23 de março, que a caravana viveu um dos seus principais capítulos de tensão. O dia começara festivo, com uma visita a pequenos produtores rurais em Sarandi que se aglomeraram para receber Lula, apesar da chuva fina. Na véspera, um comício alegre em Palmeira das Missões (RS) parecia ter deixado para trás a sanha direitista.
Agora percorrendo o Norte do RS, muitos diziam que os ruralistas não se atreveriam a promover mais ataques. Afinal, ali, os sem-terra e pequenos agricultores tinham forte base social. Os latifundiários de Bagé –no Sul, lugar de altíssima concentração de terras e enorme desigualdade social– tinham ficado no passado, defendiam.
Entusiasmado com a recepção calorosa, Lula prometeu completar a reforma agrária em definitivo e atender às reivindicações de indígenas e quilombolas –foi a primeira vez em que abordou esse assunto durante a caravana. De Sarandi, o presidente foi para a Coperlat, cooperativa de produtores de leite em Pontão.
Junto a mais de uma centena de sem-terras, repetiu promessas, agradeceu apoio e reforçou seus laços com o MST. Disse que, em toda a sua trajetória, nunca tinha visto o ódio que estava enfrentando nessa caravana –observação que repetiria em todos os discursos seguintes.
Findo o ato, a surpresa e o impasse. Ruralistas, direitistas, fascistas estavam bloqueando a entrada de Passo Fundo (RS), próxima parada da caravana, distante pouco mais de 40 quilômetros dali. Pelo rádio de um carro, se ouvia uma locutora praticamente convocar a população a participar do bloqueio da rodovia. Em tom indignado, ela reclamava da presença de Lula e afirmava que os brigadianos deveriam estar incomodados por fazer a escolta para um condenado pela Justiça.
Na caravana, havia, de um lado, os que defendiam a ida de qualquer jeito a Passo Fundo; chegaram a pensar em caminhos alternativos para a entrada na cidade; diziam ter como enfrentar o bloqueio. A caravana não podia parar.
De outro, os que recomendavam prudência. A Brigada Militar afirmava não poder garantir a segurança do comboio. Pneus tinham sido queimados na rodovia e corredores de máquinas dos dois lados da via poderiam fechar uma emboscada em minutos para os passantes. Vidas estavam em jogo.
Lula optou pelo não confronto.
A caravana não foi a Passo Fundo, mas tampouco parou. No final do dia, ele fez comício em São Leopoldo. Na noite seguinte, dava o troco: sairia “nos braços do povo” da praça central de Chapecó (SC) para o hotel. Foi uma resposta política e forte aos urros dos milicianos que, horas antes, tentaram invadir o hotel onde ele estava e promoveram uma chuva de pedradas, ovos e xingamentos contra seus apoiadores.
Hotel e praça têm o mesmo nome: Bertaso, nome do “desbravador” da região, um coronel de tempos passados. Para a praça, no início da tarde, começaram a convergir indígenas, trabalhadores, professores. Uma faixa anunciava o apoio do “Contestado” ao ato. Para a frente do hotel, se deslocaram milicianos. Perto, uma faixa do grupo atacava o STF por não ter permitido a imediata prisão de Lula.
Pedras voavam da esquina onde estavam os direitistas para o meio da praça, onde os apoiadores de Lula organizavam o palanque. Famílias inteiras começavam a chegar. Chovia, a noite caía e crescia o número de pessoas dispostas a enfrentar tudo para participar da manifestação. Cada um contava com uma boa dose de coragem e resistência.
Nesses dias de tensão e violência, Lula caminhou sobre o fio da navalha. Não queria o confronto e também não podia desapontar seus apoiadores, alvos constantes de agressões de todo o tipo. Seu discurso foi o de “não dar a outra face.” Uma resposta que embutia altivez, sem propor o revide abertamente. Um equilíbrio delicado, que poderia descambar para o confronto –que não houve na caravana.
Foi ali em Chapecó que Lula escorregou desse discurso. “Não vamos ficar raivosos com os do lado de lá, os que tentaram cercar o aeroporto para eu não descer. Ontem ameaçaram até jogar rojão na cabeceira do aeroporto. Não vão ficar raivosos. Nós não somos raivosos. Enquanto eles têm raiva, nós temos paz e amor. Mas não pensem que vão bater nesta face e a gente vai dar esta face [a outra]. A gente vai dar é porrada se não respeitar a gente.”
Em todos os discursos seguintes, a “porrada” saiu de cena; a dubiedade sobre “não dar a outra face” permaneceu. Seja como for, se havia pessoal mais afoito, foram contidos na esfera pública.
Ganharam destaque os movimentos de drible contra as milícias. Estradas de terra, desvios inusitados, veículos diferentes, fórmulas de despiste: estratagemas diversos burlaram a ação de fascistas e permitiram a continuidade da caravana, desprovida de sólida escolta policial em boa parte do trajeto. Em lances cinematográficos, Lula demostrou ousadia, criatividade e prudência.
No último dia do comboio, durante o discurso em Curitiba, alguém da plateia perguntou como Lula tinha feito para escapar dos fascistas. Ele contornou a resposta lembrando do general Vo Nguyen Giap, o vietnamita que derrotou três impérios (o francês, o japonês e o norte-americano) em sucessivas guerras, durante três décadas. Disse que, como o lendário militar, não podia dar detalhes dos estratagemas, pois novas caravanas virão.
Professor de história e comunista, Giap começou a guerra de libertação do Vietnã com um arsenal inicial de 2 revólveres, 17 fuzis, 14 espingardas de pederneira e uma metralhadora leve.
6. Lula se aproxima da esquerda
Nesse clima, Lula reforçou seus laços com a esquerda. Em seus discursos, ele atacou os ruralistas, empresas multinacionais, companhias agrícolas. Disse que os camponeses não podem ficar reféns do mercado. Defendeu a ação do Estado e programas sociais.
Lula repetiu que derrubará, via plebiscito ou nova constituinte, as nefastas medidas do governo golpista. Prometeu reforma agrária, recuperação de direitos, isenção de IR para quem ganha até cinco salários mínimos.
Anunciou que vai federalizar o ensino médio –medida aplaudidíssima nas várias escalas em escolas por onde a caravana passou. Esse, aliás, foi sempre um ponto enfatizado: Lula quis destacar que sua gestão abriu as portas das escolas aos mais pobres, os negros, os sempre excluídos da educação de qualidade.
Pelas estradas, apesar da estridência e da violência dos direitistas, Lula recebeu apoios espontâneos e singelos. De crianças que corriam buscando acompanhar o comboio (foto da abertura, tirada no caminho de Quedas do Iguaçu a Laranjeiras do Sul, trajeto em que foram disparados tiros contra a caravana). De um casal de carroceiros que segurou o cavalo para saudar a passagem dos ônibus. De uma mulher em um ponto de ônibus que pulava entusiasmada. De um caboclo solitário na porta de um barraco que ergueu os dois braços com energia, como se festejasse um gol. De funcionários que acenavam no intervalo do almoço.
Gestos que se multiplicaram no decorrer do percurso, mesmo quando, poucos metros adiante, um grupo sinistro estava à espreita.
A caravana foi didática ao explicitar apoios e rejeições, expondo de forma transparente a luta de classes, a necessidade de união e de resistência. Nesse momento crucial, de definição política para o país, seguiu seu rumo em defesa da democracia. Vítima de ataques brutais da ultradireita, virou plataforma de lançamento da frente ampla contra o fascismo.
Por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena publicado no Tutameia.jor.br