A confirmação pelo Facebook do envolvimento direto de um assessor do presidente Jair Bolsonaro no esquema de ataques, campanhas de desinformação e linchamento de adversários políticos e – mais grave – contra instituições democráticas terá desdobramentos na CPI das Fake News e no Judiciário. O PT prepara uma ofensiva judicial contra o assessor especial de Bolsonaro, Tércio Arnaud Tomaz, para investigar crimes de calúnia, difamação e improbidade administrativa. Ele é apontado pela auditoria como responsável por duas páginas no Instagram e no Facebook promovendo a dispersão de conteúdos pró-Bolsonaro e de ataques a adversários políticos do presidente, principalmente o PT.
O partido estuda medidas judiciais cabíveis no âmbito do inquérito das fake news, em tramitação no Supremo Tribunal Federal, incluindo os relatórios do Facebook que revelaram a rede de bolsonaristas que intimidavam, atacavam e agrediam os adversários políticos do governo – além de distribuir fake news. O PT avalia ainda entrar com recurso no Tribunal Superior Eleitoral para incluir as informações relativas aos ataques a Haddad pelo esquema bolsonarista. O tribunal julgar o pedido de cassação da chapa presidencial apresentado em duas ações pelo PT.
“É muito grave que o assessor direto do presidente da República comandasse um esquema de desinformação de dentro do Palácio do Planalto, a pouco menos de 100 metros do gabinete de Jair Bolsonaro, no 3º andar da sede do Executivo Federal. Queremos uma investigação rigorosa”, anunciou a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).
Tércio é apenas um dos assessores diretos da Presidência da República envolvidos no esquema de fake news. Nesta sexta-feira, o jornal ‘O Globo” revelou que Tércio era responsável direto por uma das 88 contas bolsonaristas bloqueadas pelo Facebook, que atuavam em conjunto desde a eleição de 2018. Todas produziam e compartilhavam conteúdo atacando os adversários de Bolsonaro, usando perfis duplicados e falsos para evitar a fiscalização da plataforma.
Esquema direto da família
O Facebook apontou ainda o envolvimento de ao menos outros quatro funcionários da Presidência e dos gabinetes do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), além de membros das equipes dos deputados Alana Passos e Anderson Moraes, ambos do PSL no Rio de Janeiro. A equipe do Digital Forensic Research Lab (DRFLab), ligado ao Atlantic Council, coordenada pela pesquisadora Luiza Bandeira, identificou o assédio online direcionado pelo grupo ainda no processo eleitoral.
É a primeira vez que se consegue provar que aliados do presidente da República usam contas falsas nas redes sociais para atacar seus adversários políticos. Para o Facebook, a milícia digital bolsonarista removida agia para enganar sistematicamente o público, sem informar a verdadeira identidade dos administradores. Foram encontrados também, pelo DRFLab, ataques ao STF por meio das hashtags #STFVergonhaNacional e #STFEscritórioDoCrime.
O perfil ‘Bolsonaronewss’, operado diretamente por Tércio, teve como principal alvo em 2018 o candidato do PT, Fernando Haddad (PT), que disputou o segundo turno contra Bolsonaro. Em uma das publicações, Tércio compara o candidato petista ao ditador italiano Benito Mussolini. Vale lembrar que Tércio trabalhou diretamente com o gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, a quem mantinha submissão respondendo diretamente no ‘Gabinete do Ódio’, no 3º andar do Palácio do Planalto.
Além de Tércio, outros dois envolvidos no ‘Gabinete do Ódio’ trabalham subordinados a Carlos Bolsonaro. Os assessores da Presidência José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz também são funcionários que atuam dentro do Palácio do Planalto. O grupo é coordenado por Carlos Bolsonaro e é quem alimenta a milícia digital bolsonarista nas redes sociais. Nesta quinta-feira, Carlos anunciou que pretende se afastar. Segundo o ‘Estadão’, ele estaria estudando a possibilidade de vir a morar no Texas, nos EUA, onde tem amigos.
Da Redação