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‘Abin paralela’: PF avança em investigações e fecha cerco sobre clã Bolsonaro

Esquema de espionagem ilegal para perseguir e prejudicar reputações de adversários do governo Bolsonaro é desmontado pela Operação Vigilância. Lideranças do PT apontam gravidade dos crimes e exigem punição dos culpados

Reprodução/GloboNews/

Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, está no centro das investigações da PF sobre a Abin paralela que atuou no governo do extremista

Um dia após a apreensão de celulares, tablets e computadores em endereços de Carlos Bolsonaro e menos de uma semana depois da batida na casa e gabinete do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de Jair Bolsonaro, investigadores da Polícia Federal acreditam que os conteúdos desses equipamentos permitirão chegar ao núcleo central da chamada ‘Abin paralela’, um esquema de espionagem ilegal para perseguir, difamar e prejudicar reputações de adversários e críticos do governo Bolsonaro. A informação foi publicada pelo Blog do Noblat do portal Metrópoles.

Os conteúdos encontrados nos equipamentos apreendidos vão ajudar a elucidar o possível crime de arapongagem sob o governo Bolsonaro, escreveu a coluna do jornalista Ricardo Noblat.

A investigação, que começou há menos de um ano, pode terminar antes do prazo estabelecido devido a possibilidade da PF ter alcançado o executor do esquema de espionagem ilegal da Abin, Alexandre Ramagem, e o idealizador, Carlos Bolsonaro, que depôs nesta terça-feira, 30, na Polícia Federal no Rio. Ambos são alvo da Operação Vigilância Aproximada da PF.

“Grave! PF vê elo da Abin paralela com outras irregularidades. A investigação mostra como Ramagem passava informações sigilosas para o núcleo político do governo Bolsonaro”, postou o senador Humberto Costa (PT-PE) em seu perfil no X junto com trecho do programa Estúdio i da Globonews, em que a apresentadora lê trecho de documento da PF que diz que a “organização criminosa identificada na Abin era potencialmente uma das células de organização criminosa de maior amplitude, cuja tarefa primordial era realizar a contrainteligência de Estado”.

“A PF aponta exatamente isso, que o Ramagem estava trabalhando nessa organização criminosa cujo principal objetivo, tarefa prioritária, era realizar a contrainteligência de estado. Muito grave”, afirmou a apresentadora do Estudio i, Andrea Sadi.

A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) repostou duas mensagens no X feitas pelo presidente Lula, que enfatizou o respeito ao trabalho da Polícia Federal e afirmou que o governo federal não manda na Justiça.

“Ele (Bolsonaro) tentou mandar na Polícia Federal e trocava de superintendente ao seu interesse (…) O ex-presidente falou uma grande asneira. O governo federal não manda na Justiça. A PF cumpriu um mandado. Que as pessoas investigadas tenham o direito à presunção de inocência, direito que eu não tive. E quem não deve, não teme”, postou o presidente.

“Tempo da impunidade acabou”, diz senador

Diante da suspeita de que a família Bolsonaro pode ter continuado a receber informações da Abin mesmo após o ex-presidente deixar o cargo, Humberto Costa postou: “Exigiremos a punição dos criminosos. O tempo da impunidade acabou”.

Também na rede X o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) se manifestou. “Em 2020, Bebiano já denunciava a Abin paralela comandada pelo Carlos Bolsonaro”, publicou junto com trecho de entrevista ao programa Roda Viva que mostra Gustavo Bebiano com o título: “3 de março de 2020 – Gustavo Bebiano fala em rede nacional sobre a possibilidade de criação da Abin paralela.

“Um belo dia o Carlos (Bolsonaro) me aparece com um nome de um delegado federal (e) três agentes que seria uma Abin paralela (…) O general Heleno foi chamado, ficou preocupado com aquilo, mas o general Heleno não é de confrontos E o assunto acabou ali com o general Santos Cruz e comigo; nós aconselhamos ao presidente que não fizesse aquilo de maneira alguma”, relatou Bebiano, morto 11 dias após esta entrevista.

Rigor na investigação do general Heleno

Em entrevista ao jornalista Luis Nassif do canal GGN, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakay), cobrou ações mais duras no sentido de investigar os militares que podem ter envolvimento no 8 de janeiro e no caso da ‘Abin paralela’.

Para o advogado, o general Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro, ou sabia do esquema da ‘Abin paralela’ e deixou o “órgão” atuar ou era incompetente como militar e chefe de segurança institucional.

“Agora estamos em um momento crucial. É necessário, para que não se repita, que providências sejam tomadas. É possível que o general Heleno não sabia disso (das ações de Ramagem). Se não sabia é um incompetente que desonra o Exército. Ele tem que vir como assistente de acusação para dizer que o Ramagem cometeu o crime. Não tem conversa. Está na hora de tomarmos providências porque, se não tomarmos providências, isso vai se repetir”, assinalou Kakay.

Jurista vê motivos para prisão preventiva dos Bolsonaros

Em entrevista à TV Brasil 247, o jurista Pedro Serrano afirmou que, caso se confirme que a família Bolsonaro sabia da operação da PF em sua casa em Angra dos Reis, “há motivos para decretar a prisão preventiva dos filhos do ex-ocupante do Palácio do Planalto e do próprio ex-mandatário”.

O jurista disse também que é “muito suspeito” o fato de a família Bolsonaro ter se retirado da casa antes da chegada da PF.

“A Corregedoria da PF precisa investigar isso e quem vazou, e também se houve algum tipo de prejuízo às provas que foram objeto de busca e apreensão. Caso seja constatado que houve vazamento, o clã se enrolará. Eles teriam se aproveitado de uma informação ilícita para se evadir, e podem ter sumido com documentos. Isso é motivo legítimo para prisão preventiva. É obstrução de justiça, sumir com provas. A PF deve ao país uma investigação interna, rápida e eficaz para determinar se houve vazamento e quem foi o autor”, apontou Serrano.

Da Redação