A solidariedade e o cuidado com o próximo tem se tornado a tônica no acampamento da vigília democrática Lula livre. À dureza da luta e à resiliência de resistir em nome da liberdade do ex-presidente e da condenação política, se contrapõe a fraternidade e o olhar carinhoso com o outro. Uma atitude que encheria de orgulho o próprio presidente, que nunca deixou de enxergar as pessoas que compõem este Brasil.
Cuidadoras da saúde popular, massagistas de Curitiba, médicos da região sul e profissionais da saúde em geral passam o dia todo nas proximidades da esquina democrática Olga Benário cuidando especialmente da saúde preventiva de quem passa por aqui. Na noite de sexta-feira (20), duas delas foram homenageadas por Doutor Rosinha pela persistência em cuidar de todos e não deixar seus postos até que Lula esteja livre.
Atos inter-religiosos acontecem com frequência na esquina, assim como vigílias com velas que levam luz a Lula, aos acampados e à vigilância. A mensagem de paz também se espalha em rodas de orações que, na maioria das vezes, se formam de maneira espontânea.
No final da manhã de sexta-feira, um frade franciscano capuchinho pediu a voz e começou uma fala no microfone, agregando à sua volta imediatamente dezenas de pessoas. Frei Ederson Queiroz, de Minas Gerais, está na capital paranaense para o Encontro da Família Franciscana do Paraná, que acontece neste final de semana, mas não pôde deixar de passar aqui. “Quando soube que estaria aqui, no meu coração algo disse que eu tinha de estar aqui”, conta, emocionado.
“Aqui não há agressividade, não há ódio, não há exclusão. Eu estava passando e me ofereceram água. Outro me ofereceu sombra. Um terceiro me pediu uma foto. Isso é o anúncio da realidade de fraternidade com que a gente sonha. Mostra que é possível”, resume. “Quem vem aqui tem nitidamente este sentimento. Apesar de a causa de estarmos aqui ser dolorosa, temos uma construção positiva e fraterna acontecendo. Gente de todos os lugares, juntos, por um Brasil diferente.”
Fraternidade não só com Lula, movida pela indignação de quem acompanha o processo de perseguição jurídico-midiática de que é vítima, mas também com os companheiros e companheiras que se somam nesse sentimento.
Ex-aluno do teólogo Leonardo Boff, que teve uma visita espiritual negada ao tentar visitar o amigo Lula no prédio da Superintendência da Polícia Federal e levar-lhe uma mensagem de acalanto e esperança, Frei Ederson se sentiu indignado com a imagem de Boff sob sol forte, sentado diante do prédio a esperar. “Um homem como Leonardo Boff eleva a nossa pátria, tem uma palavra que ilumina. Fazer isso com um cidadão de 79 anos é, no mínimo, um deboche.”
“Fui aluno de Boff e, vendo a cena, me senti ferido pelo que acontecia. Sabemos que com outros o tratamento não é assim. Não é só Lula que está preso, querem aprisionar um projeto, uma ideia, um sonho. Mas isso ele não estão conseguindo. Estamos aqui, né?”
Frei Ederson começou seu ministério sacerdotal ainda nos tempos de Sarney e, quando se ordenou, assumiu o compromisso de estar perto dos pobres, caminhar entre eles e lutar por justiça social. “Frei Leonardo Boff e outros professores me marcaram profundamente. Conheci a realidade da miséria e da violência no campo, da expropriação do Brasil nos tempos de antes dos governos Lula. Trabalhei com profissionais da educação, com servidores, e conheci de perto a dor, a indignação, a fome e a falta de perspectiva da nossa gente”, conta.
“A gente queria algo diferente para o povo. Com a eleição do Lula, percebemos que, de fato, o Brasil poderia ser diferente. E foi.” O esforço do presidente em tirar dezenas de milhões da miséria é fato incontestável. E é um dos motivos que leva o ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel a indicá-lo para a nobre honraria.
“Com esse golpe que nos foi dado de maneira debochada, não é preciso ir muito longe, basta andar pelas ruas das grandes cidades e perceber o volume de moradores de rua. Estava quase acabando e voltou tudo”, lamenta. “Eu como padre atendo todos os dias gente que precisa de bolsa, de cesta básica, que não tem dinheiro para remédios, que o filho tem de deixar a escola porque não tem como sustentá-lo lá.”
Além de estar atento à realidade daqueles que o buscam, Frei Ederson também sente na pele a revolução social causada por Lula. “Tenho duas sobrinhas que estão concluindo a universidade graças aos programas de inclusão do Lula. São duas jovens com as portas do futuro abertas. Uma faz letras, deseja fazer jornalismo. A outra faz Belas Artes graças a esses programas. Eu sou grato a esses programas de inclusão por todas as pessoas, mas também pela realidade da minha família.”
A prisão política de Lula e o esforço da Justiça em lhe negar direitos humanos básicos, como as visitas de amigos e familiares são motivo de indignação.
“Neste momento, há no coração da gente um sentimento de revolta diante do deboche, da mentira, da maldade com que as coisas são feiras. Por isso decidi estar aqui. Se ficasse em casa, caladinho, eu estaria consentindo com tudo isso. Estou aqui como um homem de esperança. Vim aqui rezar um pouco e sigo em oração por todos. Não desanimem, porque a luta vai ser longa!”
Após um Pai Nosso, Frei acalenta os corações que, aflitos, seguem em vigília contra a injustiça: ”
Da Redação da Agência PT de Notícias, de Curitiba