“Quem marcha nunca esquece”. Este é um dos gritos de filhos e filhas de acampados e assentados que formam a juventude do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Eles estão em Corumbá de Goiás (GO) na preparação para a Marcha Nacional Lula Livre, que começará no dia 10 de agosto.
O Acampamento Nacional da Juventude Sem Terra acontece após 13 anos da última marcha e da fundação do coletivo de jovens do MST.
Com o lema “Juventude Sem Terra: organizando a rebeldia pro projeto popular”, o objetivo do Acampamento é inserir uma nova geração do movimento na conjuntura política, trazendo o debate da reforma agrária popular. A abertura do encontro contou a apresentação do grupo Áfrika Tática e do rapper Markão Arborígene.
O espaço reúne 500 jovens de 11 estados: Alagoas, Bahia, Ceará, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Goiás, Distrito Federal, Paraná e Pará.
Uma delas é Regivânia Pereira, de 15 anos. Ela viajou dois dias do município de Ocara (CE), com mais 30 jovens da delegação cearense.
Ela faz o segundo ano do Ensino Médio na Escola de Educação Básica do Campo Francisca Pinto e conta que se inspira na luta de sua mãe, que já milita há mais de 20 anos no MST. Hoje, a família está no assentamento Antônio Conselheiro.
“Desde quando eu estava na barriga da minha mãe, já participo de encontros. Minha mãe é uma militante e eu já fui sem terrinha e, agora, uma sem terra”, diz a jovem. “Eu levo um aprendizado muito grande que, para gente poder ter as coisas da vida, a gente precisa lutar.”
Já Fabíola Girotto, de 28 anos, veio do assentamento Primeiro de Maio, na cidade de Curitibanos, na Santa Catarina. Mais de 40 jovens vieram com delegação catarinense para o acampamento em Goiás.
“Minha vida e minha trajetória toda sempre foi ligada ao MST. Fui assentada quando eu tinha 9 anos de idade”, conta Fabíola. Para ela, a importância do acampamento é debater, juntos, os desafios da juventude de todo o país.
“Esses espaços proporcionam trocas de experiências e de vivências. Isso faz a gente conhecer outras realidades e formas de poder resistir e sobreviver no campo, dentro das diversidades e das dificuldades que temos”, afirma.
“A sociedade se construiu de forma para excluir o jovem do campo. E o Movimento Sem Terra mostra que se a gente se manter organizado, a gente consegue levar universidade para os assentamentos e formas de produção alternativas, que os jovens possam continuar vivendo no campo com qualidade de vida.”
Nesta terça-feira, durante a programação do acampamento, os jovens conversam com Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, e Jessy Dayane, do Levante Popular da Juventude. Durante à noite, a juventude faz um ato política em defesa do ex-presidente Lula.
Marcha Nacional
O acampamento antecede a quarta Marcha Nacional do MST, que ocorre entre os dias 10 e 15 de agosto, pela democracia e em defesa da candidatura de Lula.
Por isso, o acampamento em Corumbá de Goiás também vai ser o espaço de preparação da juventude para a marcha, explica Paulo Henrique Campos, do Coletivo Nacional da Juventude do MST.
“Nessa conjuntura que estamos vivendo no Brasil, complexa, a juventude cada vez mais tem uma tarefa histórica de se colocar em luta e se organizar”, afirma.
O Coletivo foi fundado em 2005, após a realização da 1° Assembleia da Juventude Sem Terra — que teve origem com a Marcha Nacional pela Reforma Agrária, há 13 anos.
“Naquela marcha, tinham 60% de jovens marchantes. Fizemos nossa primeira Assembleia Nacional que fundou o coletivo de Juventude do MST”, diz Paulo Henrique.
“É um momento histórico fazer o acampamento nacional neste período, combinado com uma marcha nacional novamente. A marcha para nós tem um significado histórico, que marca uma geração de militantes do movimento e de lutadores e lutadoras do povo”, finaliza.
A Marcha Nacional Lula Livre vai percorrer 50 quilômetros em cinco dias. Os militantes saem de três cidades — Formosa (GO), Luziânia (GO) e Engenho das Lages (DF) — em direção à Brasília.
Por Brasil de Fato