Aécio Neves (PSDB), que fora nomeado aos 17 anos como funcionário no gabinete de seu pai, o então deputado federal Aécio Ferreira da Cunha, retribuiu o favor quando foi governador. E em seu primeiro ano de mandato à frente de Minas Gerais, em junho de 2003, indicou “Aécio-pai” como conselheiro titular da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Ele assumiu em 2003 e renunciou em 2009, período em que seu filho governou.
“Aécio-filho”, quando adolescente, vivia no Rio de Janeiro, longe do emprego público em Brasília. Já “Aécio-pai” foi colocado num cargo, cuja remuneração atual é de R$ 6 mil mensais e que demanda a presença em uma reunião mensal.
Em nota, a Cemig chegou a afirmar que não havia “conflito de interesse” e que todos os conselheiros são eleitos em Assembleia. A companhia é uma empresa de capital aberto, com 114 mil acionistas de 44 países, mas o governo mineiro possui a maioria das ações e, portanto, do voto.
Inchaço da máquina –Com uma biografia que contraria o princípio da meritocracia, o discurso do candidato Aécio traz também a bandeira do “estado mínimo”. Ele garante que, assim como fez em Minas, irá desinchar os gastos do estado com o estado, com redução de cargos e secretarias.
Mas, apenas na Cemig, o então governador Aécio triplicou o número de diretores, superintendentes e gerentes. A estatal, que hoje tem 11 diretorias, aumentou em 68% o custo do funcionamento de sua cúpula com Aécio no poder. Um diretor colocado pelo governo do estado na Cemig ganha, em média, R$50 mil por mês – mais que a presidente do Brasil.
“A Cemig virou uma grande festa para os amigos de Aécio”, diz o coordenador geral do Sindicato dos Eletricitários de Minas Gerais (Sindieletro-MG), Jairo Nogueira Filho.
Além disso, a Cemig distribuiu aos acionistas R$ 13 bilhões em dividendos nos últimos 10 anos – 8% acima do lucro com a operação. O coordenador critica que o dinheiro foi usado para enriquecer os sócios, ao invés de investir no estado e na melhoria e modernização da empresa – cuja rede é “muito antiga e oferece riscos aos trabalhadores e a sociedade”.
Em média, o mineiro fica 14,32 horas sem energia elétrica, por ano. O tempo de “apagão” aumentou 33%, nos últimos oito anos. A taxa está duas horas acima do recomendado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); e 61% dos consumidores da Cemig estão com a Duração Equivalente de Interrupção por Consumidor (DEC), acima da meta da agência.
“Está mais comum as pessoas ficarem sem energia por dias”, afirma Jairo. “A Cemig é uma das empresas que têm o maior lucro no Brasil, mas não tem investimento”. Isso faz com ela figure entre as 20 piores empresas do setor, de acordo com o ranking da Continuidade do Serviço 2013.
Tarifa alta – Se os índices de satisfação do consumidor e a demora no restabelecimento de energia elétrica estão cada vez piores, a tarifa é a mais alta do país. Sobre a eletricidade, Minas cobra 30% de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) inclusive em cima dos outros tributos. Após os cálculos há um acréscimo de 42% na conta. “Ou seja, aqui uma pessoa que paga R$100 de conta de luz, R$42 são do imposto estadual”, exemplifica Jairo.
Por Alessandra Fonseca, da Agência PT de notícias