A ajuda humanitária dos Estados Unidos para a Venezuela é uma provocação para intervir no país sul-americano e forçar a queda de Nicolás Maduro, observou nesta sexta-feira (22), o ex-chanceler Celso Amorim. “A ajuda tem um sentido provocativo, de forçar uma situação paramilitar que leve a uma mudança de regime”, disse em vídeo no site Nocaute.
O governo de Jair Bolsonaro apoia a missão de ajuda humanitária enviada pelos Estados Unidos. “Comunico que o envio de ajuda humanitária aos venezuelanos está mantido. O Brasil inteiro mobilizou-se de forma ágil e até o fim do dia, cerca de 200 toneladas de alimentos e medicamentos chegam em Boa Vista-Roraima”, afirmou Bolsonaro em sua página no Twitter ontem.
Celso Amorim comentou que essa ajuda humanitária deveria ser imparcial e não para apoiar o líder da oposição. A ajuda chegou por Roraima com anuência do governo Brasileiro. E teria de ser negociada por meio da ONU, ou da Cruz Vermelha, segundo o ex-chanceler.
O governo de Donald Trump nos Estados Unidos tem se empenhado na mudança do regime e Amorim considera essa postura “algo muito grave”. O líder de oposição na Venezuela, que se autoproclamou governo, Juan Guaidó, “não tem legitimidade, não foi eleito, mesmo que esteja dizendo que vai convocar eleições”.
A ação do Brasil para facilitar a atuação dos Estados Unidos contra o governo de Maduro nega a própria história do país, de sua diplomacia, de não se envolver em conflitos e de respeitar a soberania de seus vizinhos. Por isso, Amorim defende a não-intervenção na Venezuela.
“Estamos legitimando algo que não é verdadeiro em si, não se trata de ajuda humanitária, mas trata-se de ajuda para beneficiar uma facção”, diz.
O deputado federal (PSL-SP) Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Bolsonaro, no Twitter no início da madrugada deste sábado tentou acirrar os ânimos em relação ao país vizinho, defendendo claramente a intervenção. “O sistema cubano é um parasita que suga outros países. Não podemos permitir que a Venezuela se torne uma nova Cuba trazendo problemas para a região como a fome e a ação livre de grupos terroristas/narcos. Achar que o problema da Venezuela é só dos venezuelanos é não enxergar um palmo adiante”.
O clima de instabilidade no país deve se acirrar neste fim de semana, com os boatos espalhados pela oposição, e também porque neste domingo (24) começará a ser realizada a Assembleia Internacional dos Povos, que vai reunir cerca de 1,5 mil representantes de movimentos populares de diversas regiões do mundo.