O deputado estadual Enio Tatto (PT-SP) defende que a segurança da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) não deve ser feita pela Polícia Militar. “Deveria ter outro tipo de polícia, a legislativa, que está preparada e orientada para trabalhar no Legislativo”. Para ele, atualmente 1º secretário, a presença da PM é antidemocrática por afastar a população da Casa.
À Agência PT de Notícias, Tatto comentou a ameaça de morte feita ao deputado João Paulo Rillo (PT-SP) por um funcionário da Alesp e avaliou a ocupação do plenário pelos estudantes – “a mais significativa da história”. Ele também criticou a proposta de deputados da base de Geraldo Alckmin (PSDB) de colocar mais cem policiais militares no prédio.
Abaixo a entrevista completa:
Como o senhor analisa a presença massiva de secundaristas na sede do Legislativo para pressionar os deputados pela abertura de uma CPI?
Foi uma das manifestações mais significativas da história da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. A Alesp só teve vida em três oportunidades desde que conheço a Assembleia e desde que estou aqui como deputado. A dos professores, uma ocupação de pessoas que estavam com câncer há algum tempo. A dos estudantes marcou e repercutiu no Brasil e no mundo. Eles deram uma lição de cidadania, reivindicando o quê? Melhoria na qualidade do ensino e que se investigue o escândalo da merenda no estado. É um absurdo tirar dinheiro da comida das crianças. Principalmente agora, que tem um movimento enorme, diversas escolas estaduais ocupadas pela qualidade do ensino e agora pela falta de merenda – o mínimo que o Estado deve oferecer.
Foi positivo, deu vida para esta Casa. A CPI que está sendo proposta inclusive pela base governista só está saindo por conta desta ocupação e destas manifestações dos estudantes. Nós da oposição, do PT, apoiamos.
Na semana da ocupação e no dia em que aconteceria uma sessão da Comissão de Educação, 4 dos 5 acessos à Alesp foram fechados. Qual é sua opinião sobre este fato?
Enquanto membro da Mesa Diretora, 1º secretário, eu fui totalmente contra. A base governista tem uma cabeça que não trata as questões politicamente. Eles têm uma cabeça em que para tudo tem que resguardar a segurança da Casa. Eles estavam com medo de os estudantes ocuparem. Mas aqui é a casa do povo, precisa estar aberta. Isto é impedir a entrada da população. Só permitem quando há ato solene, comemoração da Polícia Militar ou aquilo que não é reivindicatório, isto é, que não atinge a Assembleia Legislativa e a relação com o Executivo. E os deputados da chamada “bancada da bala” fazem de tudo para que a população não chegue à Assembleia.
Há movimentos que denunciem a presença da polícia como ostensiva no prédio. O senhor concorda?
Acho que a Assembleia Legislativa não deveria ter a Polícia Militar aqui dentro. Deveria ter outro tipo de polícia, as polícias legislativas, como têm outras casas, como o Senado Federal, por exemplo. É uma polícia legislativa, que está preparada e orientada para trabalhar no Legislativo. Não é o caso da nossa polícia militar aqui.
Houve um absurdo na reunião do colégio de líderes (terça-feira, 9). Antes de discutir a participação da juventude e dos estudantes nesta casa e a CPI para apurar os escândalos, foi falado em “aumentar a segurança da Casa” – trazendo mais cem policiais militares para dentro da Assembleia Legislativa. São cem policiais a mais que poderiam estar nas ruas combatendo crimes.
Neste contexto, o deputado da bancada do PT, João Paulo Rillo, até sofreu uma ameaça.
Outro absurdo. Ele estava apoiando, assim como a bancada do Partido dos Trabalhadores, a luta dos estudantes, que estavam reivindicando melhor condição de ensino e investigação do escândalo. Houve uma inversão de valores. Eles não querem que se apure nada, se apegam à questão da segurança para tentar colocar a população contra a juventude – que deu uma aula aqui.
Não é raro que os estudantes sejam acusados de destruir patrimônio público após as manifestações ou ocupações. Como aconteceu no plenário da Alesp?
Não depredaram nada. Ficam aqui dentro fazendo suas reivindicações com debates, com música, convidando diversos artistas, jogral. Trabalhando dentro daquilo que é normal no movimento reivindicatório e sem destruir a Assembleia. No final, limparam e deixaram tudo em ordem. Fizeram uma perícia na Casa e constaram que nada, nada foi destruído ou furtado.
Por Daniella Cambaúva, da Agência PT de Notícias