A demora e as ações incipientes do governo brasileiro no combate à proliferação do novo coronavírus, inclusive com decisões que atrapalham ações positivas tomadas por parte dos governadores, poderão tornar o Brasil o epicentro de um drama sem precedentes no mundo, nesta pandemia global.
A velocidade de propagação do Codivid-19 no Brasil segue num ritmo parecido com o de países da Europa, como Alemanha, Espanha, França e Reino Unido, continente onde a situação neste momento é a mais grave do planeta. O alerta é feito por especialistas, com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Os riscos da desigualdade
A desigualdade em nosso país é outro fator que eleva a possibilidade de crescimento do número de infectados. E é aí que está a grande questão da responsabilidade que recai sobre o governo federal, sem nem levar em consideração às sandices irresponsáveis ditas pelo presidente Bolsonaro, que insiste em tratar a calamidade como uma “gripezinha” e uma “fantasia e histeria da mídia”.
Ao contrário dos países mais desenvolvidos, que estão bancando para que o trabalhador fique em casa, Bolsonaro e Guedes liberam as empresas para suspenderem contratos de trabalho retirando, ou reduzindo os salários, dos empregados. Além da desumanidade de deixar milhares de famílias sem renda, no momento que mais necessitam, a medida vai levar a economia para o que pode ser a sua mais profunda depressão da história.
Bolsonaro e Guedes estão transferindo muito mais dinheiro para socorrer as empresas aéreas e bancos, do que para a população mais pobre. O Banco Central (BC) está comprando títulos soberanos do Brasil denominados em dólar (global bonds) das instituições financeiras nacionais, num total de US$ 31 bilhões (R$ 161 bilhões). O valor é 11 vezes mais do que as medidas do governo para socorrer os mais pobres em plena calamidade do novo coronavírus (R$15 bilhões).
No campo econômico, o ministro banqueiro ainda não entendeu, ou se nega a admitir, que crise econômica no capitalismo se combate com geração de empregos e o aumento do poder de compra das famílias, ainda mais numa situação de calamidade como a que enfrentamos.
A desigualdade no país é mais um agravante na luta contra esta catástrofe pandêmica. Milhões de pessoas vivem em palafitas e favelas, muitas vezes com famílias grandes em pequenos cômodos, vivendo sem tratamento de esgoto, água potável de qualidade, com crianças brincando no meio de lixões. A situação social pode ser um propulsor sem precedentes no mundo de uma catástrofe agravada pela pandemia. E, como comprovam os números oficiais, a desigualdade no Brasil tem cor. Em meio a esta massa de gente sem condições mínimas de saúde, sanitárias e de vida, estão, em sua grande maioria, negros e negras.
A sociedade precisa reagir, como já tem começado a fazer com protestos e panelaços, para que o governo tome todas as medidas urgentes e necessárias a fim de conter o avanço do coronavírus, proteger os empregos, a saúde e a vida dos brasileiros. E, especialmente, das camadas mais pobres, nossos compatriotas mais vulneráveis, quase todos negros e negras.
O país não resiste a este processo tão acelerado de dilapidação de um estado gerido por gente racista e elitista, a serviço de uma classe dominante mesquinha, perversa, cruel e incompetente.
Está em jogo a proteção de milhões de vidas, e são necessárias ações urgentes, principalmente nas favelas, periferias e nos grotões de miséria do Brasil. Isto inclui medidas para resguardar a economia, mas com justiça social, o resgate do estado de bem-estar social e dos investimentos públicos, e todo o extremo oposto ao que tem feito o governo Bolsonaro.
Almir Aguiar é membro do Coletivo Estadual de Combate ao Racismo PT/RJ e Secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro – Contraf-CUT