Mais de 420 mil pessoas, em todos os estados do país e no Distrito Federal, tomaram as ruas para protestar contra Bolsonaro, em 29 de maio. As manifestações foram uma demonstração de força do campo popular, que se unificou em torno do “Fora Bolsonaro”, mesmo com o avanço e os riscos da pandemia.
Além de exigir a vacina para todos, auxílio emergencial de R$ 600 e repudiar o negacionismo do governo, os atos expuseram a indignação do povo frente a crise social, com mais de 14,7 milhões de desempregados, a volta da fome, o aumento da desigualdade e a precarização das relações de trabalho. Foi uma forte reação contra tudo que Bolsonaro defende e representa.
Já a explosão de panelaços durante a fala de Bolsonaro dá a medida da indignação reprimida que se consolidou contra o governo. De toda forma, as manifestações tendem a avançar e já está programado uma nova mobilização unitária para 19 de junho.
A perda acelerada de popularidade aumenta o isolamento de Bolsonaro e aprofunda a tentativa da construção de uma saída golpista.
Fazem parte dessa estratégia a aquisição de equipamentos invasivos de espionagem, com a presença de Carlos Bolsonaro, os ataques às instituições democráticas e as tentativas de deslegitimar as eleições, promovendo suspeitas sobre as urnas eletrônicas.
Outra face grave é o processo em curso para humilhar e subjugar as Forças Armadas. Essa iniciativa começou com a mudança inédita dos três comandantes e a demissão do ex-ministro da Defesa. Agora, o ex-capitão premia a expressão do fracasso e da incompetência na gestão da pandemia, o general Eduardo Pazuello, com um cargo no Planalto e impede que o Exército o puna por ter participado, como oficial da ativa, de um ato político que agredia o STF e o Senado. Bolsonaro rasga o regimento do Exército, quebra a disciplina e a hierarquia, com a conivência e cumplicidade do Alto Comando.
A atuação partidária de Pazuello rompe com preceitos fundamentais para uma instituição que em última instância pode recorrer ao uso da força para a defesa da Nação. A não punição do general abre um perigoso precedente para que esse tipo de conduta contamine segmentos da tropa e das PMs. Já temos exemplos recentes dessa insubordinação, como na repressão violenta aos atos no Recife ou a tentativa de rebelião no Ceará. A contaminação bolsonarista e a lógica miliciana emergem agora como uma sombra sobre as FFAA.
De outro lado, Bolsonaro cooptou uma maioria parlamentar no Congresso com as emendas impositivas de R$ 16,5 bilhões, orçamento secreto e fisiologismo sem precedentes na história do país.
Nesse cenário, a luta popular é fundamental para a defesa do Estado Democrático de Direito e para conter os arroubos de Bolsonaro. A coesão e a unidade das lideranças populares e democráticas, independente das disputas eleitorais, também são fundamentais.
O povo, com máscaras, álcool gel e preservando o distanciamento social, voltou às ruas para ficar. Não só para expressar sua indignação, mas criar a força que irá derrotar Bolsonaro e sua arquitetura de golpe.
Ele segue perdendo apoio social e eleitoral, assiste ao aumento de sua rejeição e já sabe que será derrotado por Lula. Acuado e cada vez mais isolado, procura o refúgio do golpismo e da tutela militar sobre a democracia. Com a luta popular nas ruas e com uma ampla aliança em defesa das liberdades, a democracia prevalecerá.
Aloizio Mercadante é ex-ministro de Estado, é presidente da Fundação Perseu Abramo