A decisão do governo Bolsonaro de abrir caminho para que cargos do Itamaraty, inclusive de chefia, possam ser ocupados por não-diplomatas, causou surpresa. Para Celso Amorim, embaixador, ex-ministro das Relações Exteriores e ex-ministro da Defesa, a situação é completamente nova e deve causar insegurança nos profissionais que se dedicam à carreira diplomática.
“É uma coisa totalmente nova. Não me recordo, em toda minha vida de diplomata, que cargos em comissão existissem sem ser preenchidos por diplomatas. É uma coisa surpreendente. E deve gerar insegurança dentro da própria carreira”, afirma.
Amorim pondera que houve épocas em que havia adidos culturais no exterior, já houve o cargo de ministro de Assuntos Econômicos (depois extinto), mas que até a ditadura civil-militar foi “respeitosa” com a estrutura do Itamaraty. “Os militares nunca colocaram ninguém de fora do Itamaraty em cargos de chefia no Brasil”, observa.
O ex-chanceler destaca que houve embaixadores no exterior não-diplomatas, algo permitido por lei, mas que desde o governo de Luiz Inácio Lula da Silva todos os embaixadores são diplomatas de carreira. “Ao contrário do que se diz, não houve nenhum aparelhamento. Houve um total prestígio à carreira de diplomata. Não houve um DAS (cargo em comissão) destinado a quem não fosse diplomata de carreira.”
Alardeado pelo novo governo federal de que irá extinguir “as ideologias” das relações exteriores do Brasil, Celso Amorim avalia que esse é um discurso fantasioso e que remonta aos tempos da Guerra Fria, destacando que o Brasil mantém relações diplomáticas com todos os países do mundo.
“Você procura vender para quem quer comprar e pagar bem, respeitadas as regras do comércio internacional. E você não carimba os produtos que compra ou vende por ‘países amigos’, até porque essa terminologia é totalmente estranha e vem da época da Guerra Fria, onde predominavam critérios ideológicos.”