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Ao Café PT, pesquisadora fala sobre violência política e resistência das mulheres na era digital

A professora e pesquisadora Bárbara Coelho, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), destaca impactos na democracia e a importância do fortalecimento das candidaturas femininas no combate aos ataques virtuais

Reprodução/TvPT

"Precisamos de mais mulheres em cargos de poder, precisamos de mais representatividade. A violência política de gênero é uma barreira, mas não pode ser o fim", disse a professora.

Nesta segunda-feira (7), o Café PT, da TvPT, trouxe uma discussão relevante sobre um fenômeno crescente no Brasil e no mundo: a violência política de gênero na internet. A convidada foi Bárbara Coelho, professora e pesquisadora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que apresentou uma análise sobre o tema e discutiu como as mulheres, principalmente aquelas em posições de poder ou que aspiram a cargos políticos, são alvos frequentes de ataques virtuais.

A professora destacou como essas agressões têm se intensificado, especialmente em períodos eleitorais.

“A violência política de gênero refere-se ao assédio, intimidação, geralmente direcionado às mulheres e pessoas de minorias de gênero que ocupam ou aspiram a cargos políticos”, afirmou.

Esses ataques, segundo a pesquisadora, vão desde agressões verbais até difamação e ameaças físicas e sexuais. Muitas vezes, a intenção por trás dessas ações é silenciar as mulheres e impedi-las de exercerem seus direitos políticos.

“As plataformas digitais têm sido um ambiente propício para a disseminação desses ataques, com o uso de tecnologias que potencializam esse ódio gratuito, apenas pelo fato de essas mulheres serem mulheres e estarem na política”, completou.

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Durante a entrevista, Bárbara Coelho destacou a gravidade da situação para mulheres negras, indígenas, LGBTQIA+, e de outras minorias sociais.

“As mulheres negras são ainda mais vulneráveis nesses ambientes. Elas enfrentam formas interseccionais de violência, combinando racismo, sexismo e homofobia. Na internet, a violência política de gênero é um fenômeno crescente, especialmente contra essas mulheres.”

Participação feminina na política

A professora também refletiu sobre como o aumento da participação feminina na política tem provocado uma reação adversa de grupos extremistas que não aceitam a presença das mulheres em cargos de poder.

“A gente observa que, com o crescimento da participação feminina na política, esses grupos se sentem ameaçados e intensificam suas ações de ódio”, disse.

Para ela, a presença cada vez maior de mulheres na política é um avanço significativo, que precisa ser defendido. Ela ressaltou que mais representatividade gera inspiração e encorajamento para outras mulheres.

“Por outro lado, esses avanços têm provocado reações de alguns grupos extremistas, que veem as mulheres como uma ameaça. Isso gera um cenário de tensão dialética, em que o crescimento da participação feminina, ao mesmo tempo que é positivo, acaba desencadeando esses ataques.”

A internet e suas plataformas digitais são frequentemente usadas para ataques diretos, mas também para a disseminação de desinformação e manipulação de imagens, vídeos e falas das candidatas. “O uso de algoritmos de Inteligência Artificial, como os deepfakes, possibilita a criação de conteúdo falso, que pode prejudicar a reputação das candidatas”, explicou Bárbara.

“Isso torna a violência política de gênero na internet ainda mais complexa, pois esses ataques se espalham rapidamente e muitas vezes não podem ser rastreados ou punidos de maneira eficaz.”

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Ilusão de anonimato

Ela ressaltou que a ilusão de anonimato proporcionada pela internet tem amplificado esses ataques. Muitas pessoas, escondidas atrás de perfis falsos, sentem-se impunes.

“Esses crimes são cibernéticos e podem ser punidos, mas infelizmente ainda há um sentimento de impunidade muito grande”, alertou.

Uma das maneiras de combater esses crimes, como Bárbara Coelho apontou, é através da lei 14.192, que altera o Código Eleitoral e torna crime a violência política de gênero.

A lei foi sancionada em 2021 e tem como objetivo proteger as mulheres de discriminação e ataques, tanto no ambiente físico quanto virtual. “Essa legislação é um avanço importantíssimo, pois coíbe a violência e estabelece punições rigorosas para quem a pratica”, afirmou.

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Ela também mencionou a importância de campanhas educativas e de capacitação para candidatas e mulheres que ocupam cargos públicos.

“O trabalho de conscientização é essencial para mitigar os danos que as candidatas possam sofrer no ambiente digital. Muitas vezes, não responder aos ataques pode ser a melhor estratégia, já que, ao reagir, a candidata pode acabar ampliando a visibilidade de uma publicação negativa.”

A professora chamou a atenção para a necessidade de uma regulamentação mais eficaz das plataformas digitais.

“Os algoritmos têm um papel importante nesse processo. Eles tendem a promover conteúdos que geram mais engajamento, o que muitas vezes acaba sendo fake news ou informações polarizadas, que intensificam ainda mais os ataques”, explicou.

Esse comportamento dos algoritmos contribui para a criação de um ambiente hostil, principalmente para mulheres que discutem temas relacionados a direitos humanos e gênero.

De acordo com a pesquisadora, entre 2017 e 2022, nos governos de Temer e Bolsonaro, o número de casos passou de cerca de mil para quase 30 mil no Brasil.

“É um aumento assustador. E durante os períodos eleitorais, essa violência cresce de forma significativa, o que demonstra o impacto que a presença feminina na política causa em alguns grupos”, pontuou.

Por fim, Bárbara Coelho deixou um recado importante para todas as mulheres que estão na política ou que aspiram a cargos de poder: “O caminho é árduo, mas é essencial que as mulheres continuem ocupando esses espaços. A luta por um ambiente político mais igualitário é de todas nós, e a legislação está ao nosso lado para garantir que essa violência não impeça nosso avanço.”

A professora encerrou a entrevista com uma mensagem de esperança, afirmando que a luta pela igualdade de gênero na política precisa continuar.

“Precisamos de mais mulheres em cargos de poder, precisamos de mais representatividade. A violência política de gênero é uma barreira, mas não pode ser o fim. O futuro da política brasileira depende do fortalecimento dessas candidaturas.”

Da Redação