Os 80 anos da União Nacional dos Estudantes (UNE), comemorados no dia 11 de agosto, foram homenageados nesta quinta (10), em Sessão Solene do Congresso Nacional.
Presente nos momentos mais importantes da luta pela democracia no país, como a campanha o Petróleo é Nosso na década de 1940, o combate à ditadura militar nos anos 60 e 70, as Diretas Já nos anos 80 e pela mobilização dos caras-pintadas na década de 1990, a UNE participou ativamente das principais mobilizações populares da história política do país.
Fundada em 1937, a entidade foi citada por todos os participantes da homenagem como parte fundamental da história do Brasil.
O atual líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ), lembrou que, no dia 11 de agosto, também completam-se 25 anos da “passeata dos cara pintadas”, liderada por ele e considerada o “primeiro ato” para a deposição do ex-presidente Fernando Collor de Melo.
Mobilização nas crises
Presidente da UNE entre 1992 e 1993, quando liderou esse movimento, Lindbergh ressaltou a importância da UNE durante todo o processo político brasileiro, e lembrou que a atual crise democrática vivida no país requer, de novo, a mobilização dos estudantes.
“A UNE sempre cresceu em momentos de crise profunda como esta que estamos enfrentando. É preciso um grande processo de mobilização, parecido com o que a gente viveu com os caras pintadas, porque vocês sabem o tamanho da destruição que está vindo por aí, nas universidades públicas e nos programas sociais”, disse ele.
Aliança de estudantes e trabalhadores
O senador Paulo Rocha (PT-PA) também destacou a importância do movimento estudantil para a democracia, lembrando que o movimento pelas Diretas Já só foi possível pela aliança entre o movimento dos estudantes e a classe operária:
“Foi do somatório de alianças políticas entre o chão das fábricas os movimentos estudantis que logramos a conquista da democracia. A luta da classe operária, os avanços nos direitos trabalhistas, e a Constituição de 1988 são vitórias desse movimento que, anos depois, elegeu um operário para presidente do Brasil, fato que mudou o país”, disse.
Paulo Rocha também conclamou os estudantes para, novamente, ocupar as ruas: “É só através da democracia que podemos solucionar os graves problemas do país. Por isso, é hora de retomar essa aliança entre trabalhadores e estudantes na luta pelos direitos do povo”.
Símbolo de resistência
Líder do PT na Câmara, o deputado Carlos Zarattini (SP) ressaltou que a União Nacional dos Estudantes tem uma trajetória de luta integrada com o povo brasileiro.
“A UNE foi fundamental para que fosse criada a Petrobras em nosso País e para que ela se transformasse nessa grande empresa que é hoje, responsável pela soberania e pelo crescimento da economia brasileira. Foi a UNE também que enfrentou todas as lutas democráticas dos anos 50 e 60, combatendo as tentativas de golpe que se fizeram e combatendo o golpe de 1964”.
Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), outra protagonista no combate à ditadura militar, a UNE é símbolo de resistência. Segundo ela, a consolidação democrática, a luta pelas diretas, pela constituinte e pela anistia, contra a privatização do ensino e pela democracia universitária têm as digitais da UNE.
“Além disso, nas lutas atuais, de 2003 a 2016, tivemos grandes vitórias do movimento estudantil, como a expansão universitária, as políticas públicas para a juventude, o Prouni, o sistema de cotas tão contestado, mas que trouxe os alunos pobres da escola pública e negros para dentro das universidades. “São conquistas que lutamos para que, hoje, não sejam destruídas. Por isso, entendemos que a UNE é atual. É tradição, mas também é futuro e atualidade”, completou.
Voz firme
Requerente da sessão solene de homenagem à UNE, a senadora Vanessa Grazziottin (PCdoB-AM) relembrou a histórica luta da entidade estudantil em prol da democracia, ressaltando que após a ditadura e com a eleição do primeiro operário para presidente da República, a União Nacional dos Estudantes voltou a ter voz firme e voltou a ser ouvida pelo governo federal.
Ela citou projetos do Partido dos Trabalhadores, como o Prouni, e a destinação dos recursos do pré-sal para a educação como fatores essenciais para a consolidação da democracia no país. “Agora os jovens sabem, a sociedade sabe que não há país que se desenvolva, não há desenvolvimento econômico, se não houver a inclusão social e educacional”.
E, complementa: “novamente, os jovens tem uma grande tarefa, que é a de ajudar a recuperar a democracia brasileira, porque recuperar a democracia é dar legitimidade a um governo para que ele possa promover reformas, mas reformas que ajudem a melhorar a qualidade de vida do Brasil e que não promovam a escalada das privatizações e de retirada dos direitos do povo brasileiro, como está sendo feito agora”.
Voltar a resistir
Ex-ministro do Esporte no governo Lula e ex-presidente da UNE, o deputado Orlando Silva (PCdoB/SP), negro e de origem pobre, é o típico representante do novo movimento estudantil brasileiro. Para ele, o país voltou a ter uma agenda dos anos 1990 e a UNE é chamada a colaborar com a resistência democrática.
“Eu não imaginava que poderíamos voltar a um debate antigo, do fim da gratuidade no ensino superior no Brasil. Nos anos 1990 nós enterramos essa discussão, afirmando a importância da gratuidade do ensino superior público no Brasil. Por isso, é hora de lembramos a letra do hino da UNE, composta por Vinícius de Moraes e Carlos Lyra, que fala que a União Nacional dos Estudantes reúne futuro e tradição”.
Orlando Silva também destacou a presença das lideranças femininas na UNE que, há seis mandatos, vem sendo presidida por mulheres.
Grave despolitização
Para o ex-deputado federal Aldo Arantes, também ex-presidente da UNE (1961/1962) e figura emblemática na luta contra a ditadura, o processo de despolitização da sociedade brasileira é grave e afeta o movimento estudantil. Aldo afirmou que o processo de despolitização começou exatamente na época da ditadura militar, ao se delimitar espaços de atuação.
Para ele, a ideia de que o estudante deve se preocupar apenas com a profissionalização, não tendo responsabilidade com a luta política, está relacionada com o atual processo acrítico da sociedade.
“É o discurso único, é o discurso da mídia, que procura exatamente fazer com que os estudantes percam aquele sentido transformador, revolucionário. A UNE deve buscar resgatar a rebeldia dos estudantes. Não há democracia sem o contraditório”.
Presentes na homenagem, as atuais vice-presidente e presidente da UNE, respectivamente, Jessy Silva e Marianna Dias, também se manifestaram. Para Jessy, negra, cotista, filha de empregada doméstica, e a única da família a estudar em universidade pública, o atual momento político do país é fruto de um golpe.
Rebeldia e responsabilidade
“Nós viemos a Brasília na manifestação do dia 29 de novembro, dizer “não” ao golpe, “não” à PEC 55, “não” ao congelamento dos gastos na educação, “não” à reforma do ensino médio e fomos duramente reprimidos pelo governo golpista, mas isso não vai nos intimidar.
A UNE vai continuar ocupando escolas, universidades, esse espaço, ruas e todo espaço que a gente puder, com os estudantes, coletivamente, para enfrentar as reformas impopulares, para lutar pelas Diretas Já”.
A atual presidente da UNE, Marianna Dias, última a falar na Sessão Solene, disse que os estudantes não aceitam um presidente que não foi eleito e que não representa o projeto político aprovado nas urnas na última eleição.
“Nós queremos eleições, nós queremos um projeto de Brasil que respeite os sonhos da juventude e do povo brasileiro. A UNE, com toda a licença poética, rima com rebeldia, esperança e responsabilidade, e durante esses oitenta anos honramos isso. E nós queremos dar contribuição também para que a nossa história seja respeitada, mas que, sobretudo, essa geração contribua para que a UNE possa comemorar mais oitenta, mais cem e quantos anos couberem à União Nacional dos Estudantes”, finalizou.