A existência de uma profunda desigualdade no acesso global a imunizantes contra a Covid-19 vai atrasar o fim da pandemia no mundo. O alerta foi feito pelo diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, em entrevista coletiva, na terça-feira (6). Adhanom considera “ridículo” que alguns países até agora não tenham recebido vacinas para dar início às aplicações em grupos prioritários, como profissionais de saúde e populações vulneráveis. Nesta quarta (7), Dia Mundial da Saúde, o ex-presidente Lula divulgou uma carta pedindo união global de líderes para permitir que países pobres tenham acesso aos imunizantes.
“O aumento da produção e distribuição de forma igualitária continua sendo a principal barreira para encerrar o estágio agudo da pandemia de Covid-19”, observou o diretor-geral da OMS, durante a coletiva. Em diversos países, milhões de médicos e enfermeiros continuam perigosamente expostos ao contágio pelo coronavírus.
Convidado a falar na coletiva, o presidente da Namíbia Hage Geingob fez um duro ataque à falta de acesso aos medicamentos. “Depositamos nossa confiança nas vacinas mas ficamos de fora”, lamentou Geingob. “Há um apartheid de vacinas. Lutamos contra o apartheid e agora lutamos de novo”.
O presidente ressaltou que a Namíbia recebeu vacinas “dos amigos” Índia e China, mas que ainda aguarda a chegada de outros imunizantes, inclusive aqueles já pagos. A OMS assegurou que o país africano receberá doses do consórcio Covax nas próximas semanas.
População dos países pobres vacinada em 2024
Os números e projeções das vacinações pelo mundo revelam uma realidade grotesca. Os EUA sozinhos, por exemplo, vacinaram 15 vezes mais a população americana do que todo o continente africano, aponta o colunista Jamil Chade, do UOL. Segundo Chade, os EUA distribuíram 150 milhões de doses no país, ao passo que 86 países pelo mundo receberam apenas 36 milhões de vacinas de doses de vacinas.
De acordo com projeção do instituto Economist Intelligence Unit (EIU), ouvido pela BBC, no ritmo atual, os países pobres poderão ter de esperar até 2024 para vacinar suas populações. Já países ricos esperam concluir as imunizações até meados de 2022, enquanto os de média renda poderão finalizar seus cronogramas no fim de 2022 ou no início de 2023.
“Se os governos continuarem com esse tipo de nacionalismo de vacina e se os fabricantes apenas oferecerem vacinas covid-19 para quem der lances maiores, assim como em 2009 [com as vacinas contra a gripe suína], isso só vai prolongar a crise”, denunciou o representante da aliança de vacinas Gavi, Seth Berkley.
Lula pede governança global
Preocupado com os efeitos da crise sanitária no planeta, em especial entre países mais pobres, o ex-presidente Lula vem se destacando na imprensa estrangeira por seus apelos para que líderes mundiais se unam em torno de uma estratégia comum de acesso universal a vacinas. Para Lula, os imunizantes devem ser um “bem comum da humanidade”.
Lula divulgou uma carta para tratar do assunto. “Este Dia Mundial da Saúde é também um dia de luta contra a ganância”, afirmou Lula. “É inaceitável que 76% das vacinas aplicadas até agora no mundo estejam concentradas em apenas 10 países, enquanto milhões de seres humanos morrem pelo planeta afora”, condenou o ex-presidente.
“Desde o início da pandemia, a falta de solidariedade internacional e a ausência de medidas fortes e coordenadas dos governos acentuaram a desigualdade“, enfatizou Lula. O líder petista reiterou que o mundo enfrenta duas batalhas, contra o vírus e contra a fome e, sozinho, não pode vencer a guerra.
Quebra de patentes
Lula lamentou ainda o descaso de Bolsonaro, que tornou o Brasil um pária mundial para o combate à pandemia e permitiu a morte de mais de 330 mil brasileiros. E criticou o abandono da luta, sob Bolsonaro, do país pela quebra de patentes das vacinas.
“Em vez de defender os imunizantes como um bem público para a humanidade, esse governo defende a comercialização privada das vacinas e sua concentração em poucas empresas e países”, criticou.
Da Redação, com informações de Reuters, UOL e BBC