Enquanto a renda nacional e o PIB caiam, em meio à crise econômica dos últimos anos, a renda dos brasileiros mais ricos que pagam Imposto de Renda cresceu 7,5%. Já a renda dos trabalhadores e trabalhadoras caiu 3,3% no mesmo período, segundo cálculos feitos pelo economista do Ipea, Sérgio Golbeti, que analisou dados da Receita Federal entre os anos de 2013 e 2016.
Segundo Golbeti, essa distorção pode ter acontecido porque a aplicação financeira, lucros e dividendos aumentou em termos reais, enquanto os rendimentos tributáveis, como salários, caíram mais de 5% no período. E a maior parte dos rendimentos dos super-ricos vem de lucros, ações e dividendos isentos ou com baixa tributação – ou seja, que pagam menos impostos do que os salários –, como aplicações financeiras, heranças e doações.
Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, a análise comprova a forte concentração de renda deste Brasil que só interessa aos empresários e a elite econômica.
“O aumento da concentração de renda mostra que o sistema tributário brasileiro protege os ricos e é extremamente perverso com os pobres, com os trabalhadores e trabalhadoras, especialmente nos períodos de crise econômica”.
“Mais que isso, é a comprovação de que o governo do golpista e ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) tem mantido esse quadro porque não tem política econômica que garanta o desenvolvimento, com investimentos públicos e privados que gerem emprego e distribuição de renda”, diz Vagner.
Segundo ele, “um dos reflexos das políticas de Temer que têm privilegiado corte de gastos, arrocho salarial e recessão em detrimento do crescimento econômico com distribuição de renda, é justamente a manutenção ou mesmo crescimento da concentração de renda nas mãos de poucos”.
A CUT denuncia há anos a injustiça tributária que penaliza os trabalhadores e trabalhadoras com altas alíquotas de imposto de renda descontadas diretamente na folha de pagamento. E a análise do economista do Ipea comprovou isso.
Enquanto os trabalhadores e trabalhadoras têm alíquotas de imposto de renda de até 27,5% descontadas diretamente de seus salários, os chamados “super ricos”, aqueles que ganham acima de 160 salários mínimos por mês e não têm a contribuição descontada do salário, pagam em média 6,1% de sua renda de imposto. O fato é que eles têm uma infinidade de formas de “driblar o leão” e pagar menos impostos que os assalariados.
Segundo o documento da Receita Federal, analisado pelo economista do Ipea, apesar do número de pessoas mais ricas ter diminuído de 71.440 mil para 67.934 entre 2003 e 2016, a renda dessa parcela da população subiu de R$ 309,6 bilhões para R$ 399 bilhões. Ou seja, quem ficou no topo da pirâmide “mordeu” uma fatia ainda maior da renda disponível, enquanto os de baixo, os trabalhadores, perderam.
“Sem uma reforma tributária progressiva os ricos continuarão cada vez mais ricos. E é esse povo que quer fazer as reformas porque parte da preservação do patrimônio deles tem relação direta com a forma de como são distribuídos os recursos públicos”, diz o presidente da CUT.