O apagão de luzes no auditório Dante Barone, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, jamais apagaria a luz da luta de mulheres unidas que, em Porto Alegre, se reuniram para defender a Democracia brasileira e o direito de Lula ser candidato.
O auditório, às escuras no começo da manhã da terça-feira (23), não seria capaz de conter a força das militantes, que levaram suas vozes e bandeiras para a frente do prédio e, assim, puderam ser ouvidas com todas as suas cores e sons pelas ruas da capital gaúcha.
“Se eles achavam que iam apagar a nossa luta, estavam redondamente enganados. Viemos para a praça, para a rua, onde devemos estar, ao lado do povo brasileiro!”, afirmou a presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, saudando as mulheres que vieram de todas as regiões do país para o ato.
“Nós nascemos da luta, se eles pensam que temos medo, nós temos é muita coragem, e estamos mostrando esta coragem em praça pública, que está linda! O que nos espera daqui para frente é: luta, luta e luta!’, disse a parlamentar, sendo ovacionada pelo público.
“O prédio não teve energia elétrica para receber um ato democrático, de mulheres, vaiemos esse absurdo”, conclamou a presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff ao começar sua fala. “Nós, mulheres, demonstramos mais uma vez que sabemos resistir, resistir a atos deliberados ou muito ocasionais, e agora tomamos a praça!”
Já na praça da Matriz, diante do Palácio Farroupilha, jovens da UJS de diferentes estados fizeram uma intervenção com imagens de guerrilheiras, como Dilma, que dedicaram suas vidas à luta pela democracia. “Guerrilheira não tem nome! Guerrilheira tem causa!”, anunciaram.
“A nós, mulheres, coube a defesa incessante da democracia”, anunciou a ex-ministra de Políticas para Mulheres do governo Dilma, Eleonora Menicucci, durante o ato. “Não viveremos mais 20 anos de ditadura, portanto a democracia exige ser resgatada, assim como a cidadania e um mundo melhor para as mulheres.”
“Juízes não podem diminuir a força que demonstramos aqui. As mulheres representam Lula, ao lado da causa da democracia. Nos posicionamos contra o desmonte do patrimônio público em nome das mulheres, de negros e negras, que se levantam em nome da periferia, de quem trabalha e vive a democracia”, afirmou a deputada federal Maria do Rosário.
Para a deputada Benedita da Silva, a emoção de ver uma praça tomada demonstra o poder de mobilização das mulheres e dos movimentos sociais. “Nós não concordamos com injustiças porque conquistamos uma democracia que nos deu o direito de pensar. Não aceitamos mais sermos escravas de leis injustas, sermos violentadas pelas injustiças que o próprio Estado comete e segue cometendo contra as mulheres.”
Representantes do PCdoB fizeram questão de marcar presença para somar-se à luta de muheres e homens que defendem o direito de qualquer um ser candidato à Presidência da República. “Sem crime, cassaram a primeira mulher que fez a marcha presidencial. Agora, estamos aqui para garantir que Lula não seja julgado nem acima nem abaixo da lei, mas com base nos autos. Não há provas que condenem Lula!”, ressaltou Alice Portugal.
“Querem acabar com as eleições livres no Brasil, porque só vale para os golpistas a entrega do pré-sal, a reforma trabalhista”, resumiu Manuela D’Ávila. “Só queremos que Lula seja submetido ao juízo político das urnas. Eleição sem Lula é golpe porque tira do povo o direito de escolher a saída para a crise.”
Guiada pelas mulheres que garantiram a transferência do ato para a praça pública e a segurança de todas e todos, Dilma ressaltou os absurdos reconhecidos por juristas de renome nacionais e internacionais no processo contra Lula.
“Eu espero que o Judiciário deste país resgate o fato de que vivemos numa democracia, e numa democracia se há uma esfera que não pode se tornar suspeita é a justiça, que tem que ser isenta, séria, não pode condenar inocentes.”
Na praça que já testemunhou a resistência à ditadura militar, a presidenta legítima explicitou que houve sim um golpe que não se resumiu ao seu impeachment sem crime de responsabilidade, feito por usurpadores que querem tirar direitos do povo brasileiro.
“O golpe não foi apenas contra o meu mandato, mas para enquadrar o Brasil econômica e socialmente. Este país jamais aprovaria, numa eleição direta, uma reforma da Previdência dessas.”
Dilma ressaltou que o objetivo do golpe de destruir a ela, ao Partido dos Trabalhadores e ao ex-presidente Lula fracassou no momento em que fortaleceu a resistência e a luta dos defensores da democracia.
“O golpe deu errado porque o Lula hoje, em qualquer pesquisa, tem acima de 40% de intenções de voto. No PT, temos uma presidenta mulher, que nos orgulha, uma mulher de coragem, e hoje este partido é reconhecido nacionalmente!”
A presidenta explicou que o que corre contra o ex-presidente é uma perseguição política descarada. “Não seria perseguição se aquilo de que ele é acusado fosse verdade. É possível dizer que a acusação não tem base porque, para ter qualquer sentido a acusação, Lula teria de ter cometido o que chamam de ato de ofício, o que o próprio juiz reconhece que a acusação está errada.”
A presidenta eleita avalia que é claro que, por todo o Brasil, é notável a crescente indignação do povo. “Lula está sendo condenado sendo inocente, enquanto outros com gravações, com malas de dinheiro, estão protegidos e podem concorrer livremente, e não são levados à Justiça. Nós sabemos que Lula é inocente, e por isso não temos plano B. Ter plano B quando se trata de um inocente é covardia. E nós, mulheres, já demonstramos que, se tem uma coisa que não somos, é covardes”, finalizou.
Por Ana Flávia Gussen e Clarice Cardoso, da Redação da Agência PT de Notícias, enviadas especiais a Porto Alegre (RS)