O Brasil “que queria ser moderno” agora recua no tempo e se coloca ao lado de Honduras e Paraguai, países onde “presidentes eleitos foram afastados de forma questionável”. Este é o tom da análise do afastamento da presidenta eleita Dilma Rousseff, feito pela imprensa europeia após a decisão do Senado.
O correspondente do jornal “Die Zeit” no Brasil, Thomas Fischermann, fez duras críticas ao processo que culminou com a saída da presidenta eleita, Dilma Rousseff, do cargo. Em análise veiculada neste sábado (15) pela emissora pública alemã Deustchlandfunk, ele diz que a composição do ministério de forma desigual revela que os velhos tempos estão de volta ao país. “As elites tradicionais voltaram ao poder. E elas fazem o que querem”, afirmou.
O site “Deutsche Welle” selecionou alguns textos, entre elas “Um país perde”, do “Spiegel Online”. Afirma que “o drama em torno da presidente é um vexame para um país afundado na crise”. Para o correspondente Jens Glüsing, “o grande e orgulhoso Brasil terá que se resignar a, no futuro, ser citado por historiadores ao lado de Honduras e Paraguai – e não só por causa de apresentações bizarras de seus representantes populares. Também em Honduras e Paraguai, presidentes eleitos foram afastados de forma questionável do cargo”
Para ele, o “espetáculo indigno” apresentado pelos políticos brasileiros “prejudicou de forma duradoura as instituições e a imagem do país”. O jornalista afirma que Dilma não está sendo acusada de nenhum crime, a não ser que se considere a maquiagem orçamentária uma infração. “Mas aí todos os seus antecessores e também muitos governadores teriam de ser expulsos do cargo.”
Na análise do semanário “Die Zeit”, o afastamento de Dilma é “a declaração de falência do Brasil”. O jornalista Michael Stürzenhofecker afirma que o país queria se apresentar como uma nação moderna com os Jogos Olímpicos, mas o processo de afastamento de Dilma é um “recuo nos velhos tempos” e também os 31º Jogos não serão realizados numa “democracia sem máculas”. “O processo contra Rousseff não é jurídico, mas político”, afirma o jornalista. “O que mais move as pessoas, porém, é a casta política corrupta. O paradoxal nisso é que Rousseff precisa sair porque atacou o problema. Os investigadores da Lava Jato acusaram muitos de seus partidários. Também ela foi investigada, mas nada foi provado.”
A análise lembra que há muitos acusados de corrupção entre aqueles que afastaram a presidente e elogia Dilma por ter deixado os investigadores agirem com relativa liberdade, sem interferir. “Isso é incomum para uma líder política que enfrentou uma pressão desse tamanho”. Para o jornalista, o processo todo “é uma derrota para o Brasil, e a recém-adquirida confiança nas instituições e na democracia está abalada. Com o impeachment, o país está a caminho de se tornar a maior república de bananas do mundo”.
No “Süddeutsche Zeitung”, a análise “Estes homens derrubaram a presidente” apresenta uma relação de todos os envolvidos no processo. “Na opinião de muitos juristas, as acusações são tênues, muitos chefes de Estado antes de Rousseff agiram de forma semelhante e não foram afastados do cargo. A queda de presidente é muito mais o resultado de intrigas políticas, costuradas pelos adversários de Rousseff.”
Em seguida, o jornalista Benedikt Peters apresenta Michel Temer como o grande vencedor do processo e lembra que personagens-chave do impeachment, como o deputado Eduardo Cunha, são, “ao contrário de Rousseff”, acusados de corrupção.
O “Frankfurter Allgemeine Zeitung” analisa o processo como “uma marcante guinada à direita” e afirma que “o sucessor Michel Temer precisa carregar um peso enorme no chão de uma legitimidade frágil”. O jornalista Matthias Rüb afirma que o país necessita urgentemente de estabilidade política e lembra os problemas da economia brasileira; diz que, apesar da grande recessão, “o maior país da América Latina está longe de se transformar num Estado mafioso e falido como a Venezuela”, e o combate à pobreza é uma conquista permanente.
Da Redação da Agência PT de Notícias