“É isto que está em disputa: querem um golpe para interromper um ciclo de mudanças que o Brasil começou há dez anos”, afirmou o presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), Manoel Rangel, durante a manifestação “Arte pela Democracia”, realizada nesta quarta-feira (30) por artistas brasileiros no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Em sua intervenção, Rangel denunciou a tentativa de golpe para acabar com a gestão do Partido dos Trabalhadores (PT) e as mudanças sociais iniciadas a partir de 2003, quando começou o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o cineasta, estão em disputa fatos como a “oportunidade de 3 milhões de família terem acesso a casa, moradia, que deveria ser o básico para qualquer cidadão, para qualquer brasileiro”.
“Como alguém pode pensar em ter um futuro se não tem uma casa, se não tem um teto onde dormir? Como alguém pode pensar em ter um futuro se não tem comida para comer? Se não tem emprego, se não tem trabalho?”, questionou.
“Isto tudo tem a ver com democracia, com liberdade, com a possibilidade de a maioria dos brasileiros possam seguir trilhando o caminho que escolheram nas urnas. Eles podem tirar o cavalinho da chuva, podem deixar de sorrir os sorrisinhos que andam desfilando porque o golpe não vai passar. O golpe não vai acontecer: a população brasileira não permitirá!”, concluiu, enquanto manifestantes gritavam “Não vai ter golpe, vai ter luta!”.
Sem enfrentamentos ou repressão de forças de segurança, a manifestação começou às 16h. Depois das 20h, os participantes seguiram para a Avenida Paulista para encerrar o ato. Participaram principalmente estudantes, professores, atores, artistas plásticos e escritores.
Em entrevista à Agência PT de Notícias, o professor de história da Rede Municipal de Ensino Miguel Tadeu Vicentim lamentou que, às vésperas de o Brasil completar 52 anos do golpe que deu início à ditadura civil-militar (1964-1988), a democracia esteja em risco. “Se a gente não lutar, se a gente não defender a democracia, vamos voltar ao tempo. A hegemonia econômica quer se manter no poder e está tentando um golpe. Vivemos um autoritarismo. Cunha é quase um imperador na Câmara dos Deputados, os próprios juízes tomam decisões que não são pautadas pela legalidade, pela legitimidade da Constituição”, afirmou.
Para Juliana Correia, artista e estudante de Relações Internacionais, o país está em um momento decisivo e tenso porque “não existe crime de responsabilidade, e muitas pessoas que saem às ruas para pedir impeachment não sabem de fato o que está acontecendo”. “Se não tem crime de responsabilidade, não tem impeachment. Não é assim que se trata prestação de contas. É a defesa da nossa cultura, da nossa identidade, das nossas raízes”, disse.
Fernando Oliveira, ator, já participou de outros atos e pretende ir às ruas em 31 de março. Ele defende a manifestação da classe artística como defesa necessária em um momento sério, em que a democracia está em risco. “Não é uma luta partidária. É a luta em prol da democracia e contra o golpe. Acho que a democracia que a gente vive, a liberdade que a gente tem para falar o que quer foi conquistada a duras penas e com sangue de muita gente. Não podemos perder isto”.
Participaram também atores como Débora Duboc e Paschoal da Conceição. Os artistas leram um manifesto para reforçar a condenação às tentativas de interrupção da democracia, que será lançado oficialmente na quinta-feira (31/3).
Dezenas de manifestações populares foram convocadas para 31 de março em cidades de diferentes estados brasileiros e em pelo menos 13 países. Confira a agenda completa.
Por Daniella Cambaúva, da Agência PT de Notícias