É inegável que os primeiros dois anos do programa Mais Médicos transformaram o acesso à saúde no país. Não foram mudanças meramente institucionais, existentes no papel e invisíveis ao cidadão. Foram transformações reais, palpáveis, que mudaram a vida dos brasileiros que mais precisam do SUS (Sistema Único de Saúde).
Estamos falando de 63 milhões de brasileiros que agora encontram o médico no posto de saúde, fazem consultas, recebem tratamento adequado e conseguem resolver cerca de 80% de seus problemas de saúde, evitando complicações.
Os 18.240 médicos do programa estão em mais de 4.000 municípios –sem distinção de partido a que pertencem seus prefeitos–, nos distritos indígenas, áreas quilombolas, periferias e outras regiões com dificuldades de manter o médico atendendo todos os dias.
Uma verdadeira revolução no acesso e na universalização da atenção básica. Um dos primeiros indicadores do impacto do Mais Médicos é o maior crescimento do número de consultas. Nos municípios participantes houve um aumento de 33% em um ano, enquanto as cidades que não aderiram apresentaram crescimento de apenas 15%, segundo a Rede Observatório do Programa Mais Médicos –composta de 14 instituições, sendo 11 universidades.
Esse aumento já se reflete no dia a dia dos prontos socorros e nas unidades de urgência e emergência. O cuidado diário na porta de entrada do SUS reduziu em 4% as internações nas cidades participantes, entre 2013 e 2014.
O índice chega a 8,9% nos locais em que o Saúde da Família, com o Mais Médicos, cobre mais de 36% da população. A expectativa é que em 2015 mais de 110 mil brasileiros deixem de ser internados por causas sensíveis à Atenção Básica.
Os dados nos mostram o que já havia revelado pesquisa da UFMG: os usuários de serviços com o Mais Médicos dizem ter atendimento todos os dias. Antes, essas cidades costumavam contar com médicos apenas duas, às vezes uma vez por semana. Centenas nem podiam contar com médico algum.
Hoje essas pessoas podem ir ao posto de saúde em qualquer dia útil para serem atendidas. É por isso que 85% dos 14 mil entrevistados acham que a qualidade do atendimento está melhor ou muito melhor e dão nota oito para a iniciativa.
Esses dois anos também trouxeram avanços importantes na melhoria da estrutura dos postos de saúde e na expansão da formação médica no país. O Ministério da Saúde tem repassado recursos para 91% dos municípios brasileiros construírem novas unidades e melhorarem a rede existente.
No longo prazo, ganhou impulso a ampliação das vagas de graduação e de residência, de forma criteriosa, com qualidade e orientada para as necessidades do SUS. Das 11,4 mil vagas de graduação comprometidas pelo governo federal até 2017, 5.306 (46%) já foram autorizadas, e das 12,4 mil novas vagas para residência até 2018, já foram abertas 7.742 (62%).
Esses resultados mostram que temos hoje um programa de sucesso. Apesar da forte resistência enfrentada no início, em grande parte motivada por perspectivas ideológicas e corporativas que ignoravam as verdadeiras necessidades da população, os interesses do povo brasileiro prevaleceram. Temos muito ainda a realizar, mas nos traz uma imensa satisfação ver o que, juntos, conseguimos concretizar até aqui.
Agora, quem mais precisa do SUS encontra atendimento básico, efetuado por uma equipe completa de Saúde da Família, com a presença do médico. Um direito que até então era negado a cidadãos e cidadãs. Agora é feito de forma acolhedora, humanizada, fazendo a diferença na saúde dos brasileiros.
Arthur Chioro é médico sanitarista, professor universitário, ministro da Saúde