Vitórias de um país que venceu a exclusão social, o desemprego, a estagnação econômica e que hoje é respeitado internacionalmente. Mas isso gerou uma imensa frustração nos setores conservadores da nossa sociedade e naqueles que buscam crescer politicamente com o sentimento derrotista que por séculos se enraizou no espírito dos brasileiros.
De forma simplista, os conservadores criaram o antagonismo entre os investimentos feitos para a Copa do Mundo e os problemas sociais – muitos seculares e já enfrentados com políticas públicas. Disseminaram na opinião pública que um país com problemas sociais não pode ser sede de grandes eventos esportivos.
Porém, o futebol é uma potente âncora econômica com capacidade de gerar empregos e distribuir renda, com potencial para fomentar grandes programas de inclusão social, principalmente para crianças e adolescentes, no combate à violência e ao uso de drogas. O esporte e a cultura como educação complementar são políticas públicas que podem mudar a vida de comunidades inteiras.
Os investimentos feitos como financiamentos, portanto, a serem restituídos aos cofres do BNDES, um banco federal de fomento econômico e social, têm de ser concebidos como incentivo ao desenvolvimento de um setor da economia.
O Brasil tem todas as condições de desenvolver um projeto que seja transformador sob a concepção da gestão moderna, com potencial para transformar o futebol em âncora econômica de dimensão nacional e que ao mesmo tempo seja, com força organizativa, sustentáculo de programas sociais de combate à exclusão social de nossas crianças e adolescentes. É preciso, contudo, que superemos dogmas e resistências e enfrentemos o debate da falta de um projeto nacional para o futebol.
Os ataques ao governo brasileiro pela organização da Copa do Mundo trazem consigo uma carga imensa de preconceito, parte justificável, parte totalmente equivocada e inflamada pelo oportunismo político partidário dos setores mais conservadores e obtusos da nossa sociedade.
Muitos formadores de opinião têm restrições ao futebol por ser ele um espaço de corrupção e de encastelamento de “cartolas” que não têm capacidade para administrar o mais simples dos estabelecimentos comercias. Isso reflete a realidade do futebol brasileiro e o transforma em “um cenário” de manifestações de amor e ódio. Mas o futebol, além de apaixonante, é uma atividade econômica e precisa ser tratado como tal.
A Alemanha mostrou na Copa de 2006 que é possível fazer de um evento mundial o ponto de partida de um projeto que faça do futebol uma âncora econômica sustentável. Os alemães têm hoje o futebol melhor gerido do mundo e por esse motivo serão hegemônicos no futebol mundial pelo próximo período.
Podemos fazer da Copa do Mundo no Brasil um ponto de partida para algo novo para o nosso futebol ou podemos apenas transformar esse espaço como a reprodução de todos os nossos erros e equívocos. A reposta está em com a nossa capacidade de iniciativas.
Edinho Silva é deputado estadual (PT) e professor do Programa de Mestrado em Gestão do Esporte da Universidade Nove de Julho