Partido dos Trabalhadores

Artigo: Contra a barbárie social, só a luta da classe trabalhadora

“O Brasil pode ser referência na construção deste novo mundo, como já fomos tempos atrás”, afirma a vereadora Paolla Miguel, do PT de Campinas (SP)

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Vereadora Paolla Miguel, PT de Campinas

Neste 1º de Maio, data dedicada à luta dos trabalhadores e trabalhadoras do mundo inteiro, é impossível não começarmos prestando nossa solidariedade a estes e estas que são as principais vítimas da maior pandemia do século XXI.

Muito se fala que o vírus não escolhe classe, etnia ou gênero. Sobre o vírus é verdade, mas sobre nossas instituições, instrumento de dominação das elites, não. E para ilustrar isso basta observar que a principal medida para a contensão do contágio, o isolamento social, foi negado à maior parte da classe trabalhadora, seja com a ampliação indiscriminada dos serviços essenciais, seja pela ausência das contrapartidas necessárias para essa garantia, como o auxílio emergencial contínuo e digno.

Mas, se antes ainda havia quem desconsiderasse, a pandemia e o seu prolongamento deixou algo ainda mais nítido: quem move a roda da economia, gera riquezas e garante os empregos são as trabalhadoras e os trabalhadores. Apesar deste ser um fato, as elites se esforçam para negar e inverter esta verdade, exatamente por seu potencial de despertar a classe trabalhadora para a consciência de seu papel central na produção da riqueza – que fica, cada vez mais, nas mãos dos que pouco ou nada produzem.

E, para além desta consciência, existe outro elemento, também estruturante: esta roda não é movida de forma igual. As desigualdades no mercado de trabalho refletem e reforçam as desigualdades inerentes à própria classe trabalhadora. E, mais uma vez, a pandemia não só evidenciou como aprofundou esse cenário desigual. Mais do que isso: os cenários pós-pandemia podem aprofundar ainda mais essas desigualdades.

Para as mulheres a dupla jornada, a responsabilidade pelas tarefas de cuidados, a desigualdade salarial e todas as consequências do machismo como estrutura de sociedade foram ainda mais intensificador. Foram elas as primeiras a perderem seus empregos por não terem onde deixar seus filhos diante do fechamento das escolas, as que mais se sobrecarregaram quando puderam optar pelo home office e as que ficaram mais expostas ao vírus diante do fato de comporem maioria em atividades consideradas essenciais, como as trabalhadoras da saúde, ou em atividades informais ou com regulamentação flexível, como as trabalhadoras domésticas.

O aumento da informalidade e da precarização atingiram sobretudo negros e negras e a população de baixa renda. A falta de políticas públicas e de renda neste contexto aprofundaram ainda mais a miséria e a fome. Para a comunidade LGBTQIA+ este cenário também é devastador. O Índice de Vulnerabilidade de LGBT+ à COVID-19 (VLC), apresentado pelo Coletivo #VoteLGBT, apontou a falta de fonte de renda, sobretudo transexuais e travestis, seguidas pelas pessoas negras e indígenas, como a principal consequência da pandemia. Além disso, no Brasil os brancos são quase o dobro dos negros vacinados contra Covid-19.

Futuro perigoso

A crise do coronavírus explicitou a face mais perversa das elites e colocou em xeque o radicalismo neoliberal. Em tempos de crise, quem paga o pato são as trabalhadoras e os trabalhadores. E, pior, se aproveitam do momento para “passar a boiada” nos direitos sociais e expropriar a renda produzida pelo povo para uma minoria cada vez mais rica e parasitária. Neste capitalismo selvagem, o avanço da miséria e das desigualdades no mercado de trabalho são estruturas necessárias para os lucros.

E se esse aumento já é uma realidade, o futuro, deixado nas mãos das elites pode ser ainda mais desastroso. A busca insaciável pelo aumento da produtividade tem levado ao processo acelerado de automoção. Este processo, por si só, pode trazer ganhos para a sociedade. Porém, desacompanhado de um profundo combate à precarização e mudanças na organização do trabalho, tem o potencial de gerar desempregos em massa e o aumento vertiginoso da desigualdade, atingindo sobretudo os setores mais excluídos da classe trabalhadora. Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as funções mais ameaçadas pela automação são as de menor qualificação, exercidas em geral por esses setores.

A depender destas elites e do tão falado “mercado” este avanço tecnológico se dará sem nenhuma preocupação ou contrapartidas básicas para combater os efeitos nocivos deste novo processo produtivo. No Brasil de Bolsonaro, o projeto (se é que pode ser chamado assim) ultraliberal de Paulo Guedes nos levará ainda mais rápidos e de forma selvagem para este abismo. Para quem diz que o brasileiro quer viver demais e que o “direito à vida” é um empecilho, deixar milhões à margem do mínimo de dignidade faz parte de seu projeto da morte.

Campinas não foge a esse cenário. O negacionismo, incentivado por setores bolsonaristas, dentro e fora da Câmara Municipal, vem desvirtuando de modo grotesco o real enfrentamento ao aumento das desigualdades e à pandemia na cidade. Somado a isso, a falta de políticas públicas consistentes do governo, que cede cada vez mais às pressões empresariais, tem favorecido o aumento da crise social, ao invés de contê-la.

A Nossa Luta é em Busca da Primavera

Como a experiência nos mostra, apenas um Estado capaz de criar políticas públicas criativas e organizar economicamente o país conseguirá conter o empobrecimento, a concentração de renda e superar as desigualdades que atingem níveis históricos e assolam os setores mais marginalizados de nossa sociedade.

As crises podem ser geradoras de grandes transformações. E por isso este momento pode ser também a oportunidade de toda uma geração de construir um mundo dos nossos sonhos, um mundo do trabalho justo, com trabalho igual e salário igual e trabalho decente para todas e todos. Da economia e da tecnologia a serviço da dignidade do povo, e não de sua miséria.

Este mundo está nas mãos das trabalhadoras e dos trabalhadores, do povo posto em movimento contra a barbárie de uma elite branca, machista, racista, preconceituosa e reacionária.

O Brasil pode ser referência na construção deste novo mundo, como já fomos tempos atrás. Pode fazer parte do amanhecer da justiça social, da igualdade e da liberdade. Para isso, é preciso acabar de vez com o obscurantismo atual e trazer de volta a esperança em nosso país, que sabemos o nome.

#ForaBolsonaro
#VacinaJá!

Paolla Miguel, vereadora de Campinas/SP
Feminista Negra e LGBTQIA+
Membro do Diretório Nacional do PT