Em 31 de março de 1964 – ou 1º de abril, como alguns preferem – , o Brasil sofreu um golpe civil e militar que levou o país ao obscurantismo durante 21 anos. Foram momentos sombrios, marcados por violências, torturas, mortes e desaparecimentos de opositores ao regime. De outro lado o arrocho salarial, a concentração da renda e quebra da soberania nacional. Lamentavelmente, quase seis décadas depois, o espectro do autoritarismo ainda mobiliza segmentos da sociedade brasileira, saudosos dos anos de chumbo por convicção ou desinformação, o que demanda vigilância contínua das instituições em defesa da democracia, das liberdades e dos direitos.
No episódio da tentativa de golpe em 8 de janeiro, por militantes de extrema direita, apoiadores do ex-capitão Jair Boilsonaro, ficou nítido o papel fundamental das instituições na defesa da democracia, com a prisão e indiciamento de centenas de terroristas que agiram em prol da volta da tirania. O Brasil não aceita mais um 64 e tudo aquilo que esse momento histórico representou.
Num mundo assoberbado por fake news e o recrudescimento de uma nova guerra fria, é preciso alertar, principalmente as novas gerações, para as tentações violentas e autoritárias ainda presentes. Antes de 8 de janeiro, aqueles que promoveram a quartelada de 64 se uniram de novo em 2016, no golpe parlamentar, jurídico e midiático para derrubar a presidenta Dilma Rousseff. Depois, com manipulações e a guerra de cunho político e ideológico promovida pela Lava Jato contra a esquerda e forças progressistas, conseguiram tirar o presidente Lula da corrida eleitoral de 2018, com sua prisão injusta e arbitrária, que abriu caminho para a ascensão de um governo com marcas neofascista.
Felizmente, no ano passado, nas urnas, o povo disse não ao modelo militarista que em quatro anos destruiu direitos, a economia, o meio ambiente, violou a soberania nacional e entregou riquezas nacionais a grupos estrangeiros a preços irrisórios, como ativos da Petrobras e o gigantesco parque energético da Eletrobras. Era o mesmo modelo antinacional de 1964, já então resultado de embates durante décadas entre forças nacionalistas e entreguistas.
Sob o falso mantra da modernização, instituiu-se em 1964 um modelo antipopular que aprofundou as diferenças sociais e concentrou a renda, tornando o Brasil um dos países mais injustos do planeta. Qualquer coincidência com o governo passado é mera semelhança. O modelo elistista é o mesmo. Mas, nas circunstâncias históricas atuais, há uma agravante: o neoliberalismo ganhou espaço no mundo nas últimas décadas e mesmo que professe convicção na democracia, continua a agir para instalar um modelo econômico excludente que marginaliza bilhões de pessoas e privilegia uns poucos. São interesses econômicos que movem os golpistas, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo.
O novo governo do Brasil, com o presidente Lula é o oposto de tudo isso. Um governo fundado na democracia, na inclusão e justiça social, voltado à superação das desigualdades por meio de um desenvolvimento soberano e sustentável. Lutar contra modelo econômico excludente significa combater um modelo concentrador de riquezas. Ditadura nunca mais! Democracia sempre!
Zeca Dirceu é deputado federal (PT-PR) e líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados