Entre as muitas frases de Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil, a mais adequada aos argumentos que iremos trazer aqui é “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê ? Sou Messias, mas não faço milagre”, pronunciada no dia 23 de abril após ser questionado pelo total de mortes que já se encontravam em 5.017. Hoje, encontramo-nos com mais do triplo do número de mortes revelado naquela data.
Atualmente são registradas 438.238 pessoas infectadas, sendo o Brasil o segundo país com mais casos de covid-19, atrás apenas do EUA, que obteve semelhante fracasso em tomar medidas emergenciais de contenção da pandemia. Pois veja, tanto Bolsonaro como o Trump, minimizaram os alertas iniciais feitas pela Organização Mundial de Saúde e pelas instituições científicas responsáveis pela saúde sanitária de seu país.
O caminho até aqui
Tendo em vista os altos índices de agravamento da pandemia em nosso País, analisei os passos da chegada de Jair Bolsonaro ao Governo Federal que, indiretamente ou diretamente, corroboraram com a atual crise sanitária que nos encontramos. Inicialmente a tesoura do Governo Bolsonaro reduziu mais de 30% das verbas investidas na educação e na ciência. Como consequência, cortes na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) colocaram em risco 202.000 vagas de mestrandos e doutorandos, anteriormente em vigor. Além dos ostensivos impactos na educação pública, as manobras do Presidente atingiram também os recursos federais destinados à manutenção e ao aprimoramento do Sistema Único de Saúde ( Sus), atual responsável pelo tratamento das pessoas infectadas pela Covid-19.
De acordo com Organização Mundial da Saúde ( OMS), o primeiro caso da nova Covid-19 emerge na província chinesa Hubei, em 17 de novembro de 2019. Somente no dia 30 de fevereiro, a OMS publica um alerta a respeito do estado de emergência a níveis mundiais, no entanto, desconsiderando essa autoridade, é apenas em março de 2020 que o Ministério da Saúde brasileiro declara a transmissão comunitária do novo coronavírus, incentivando finalmente o isolamento social em território nacional.
Frente ao caótico cenário mundial, que revelou não somente uma crise pungente nos sistemas públicos de saúde, mas também uma estrutural carência na emergência de liberações de cunho humanitário, frases como: “É só uma gripezinha”, “Não é isso tudo que a grande mídia propaga pelo mundo todo”, ou ainda, “ Uma pequena crise” tornou-se cada vez comum no discurso de Jair Bolsonaro quando interrogado a respeito de providências em relação à pandemia. Notadamente, o surto global indicado pela OMS não foi um fator determinante para que medidas como o isolamento social, através da quarentena, fosse uma preocupação do Presidente, que permaneceu alheio a real gravidade da COVID-19.
Jair isolado
Qual o verdadeiro risco do governo Bolsonaro?
Uma recente pesquisa mostrou que fatores políticos têm influenciado a adesão do público às medidas de contenção em relação a COVID-19. Fundamento tal afirmação, que mesmo após os decretos estaduais reforçando a obrigatoriedade do isolamento social, se tornou mais recorrentes as bizarrices nas declarações públicas de Jair. O autointitulado “messias” empolgou seus eleitores e discípulos com a persistente e irresponsável ideia de que o coronavírus não era uma real ameaça ao bem-estar da população, mas, sim, os governos de esquerdas que estariam “se aproveitavam” da pandemia para atingir diretamente o seu mandato. Parte de seu eleitorado, despertando para a real gravidade da situação, retira seu apoio incondicional ao Presidente, todavia, muitos outros, agindo muito mais com “extinto de boiada”, continuam a disseminar discursos de ódio contra as instituições científicas e a impressa, a fim de minimizar a atual crise sanitária em favor de uma forjada prioridade econômica.
Além das iniciativas de aglomeração propostas e incentivadas por Bolsonaro, o medicamento hidroxicloroquina tomou conta das redes sociais proliferando-se no imaginário popular como solução para a pandemia. Tal medicamento, utilizado inicialmente contra a malária, ficou conhecido após o Presidente dos Estados Unidos, sem ainda qualquer amparo científico, afirmar as suas possibilidades curativas contra a covid-19. Devido a progressão das consequências catastróficas do novo vírus, os posicionamentos de Jair e Trump tornaram-se cada vez mais distintos, isolando por fim o nosso Presidente no cenário mundial como único a reduzir a necessidade de enfrentamento sério no combate a Covid-19. A esse respeito, instaura-se cada vez mais uma pressão social contra o Governo, que irresponsavelmente continua a defender a utilização deste medicamento ainda que estudos sérios comprovem sua ineficácia, e mais ainda, sugiram o agravamento da doença.
Durante esse momento pandêmico, à postura absurda de Jair Bolsonaro continua a provocar indignação no povo brasileiro. Ao demitir o até então Ministro de Saúde, Luiz Henrique Mandetta, Bolsonaro o inicia o processo de seu declínio político, que é agravado ainda mais após saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça acusando o então presidente por tentativa de interferência na Polícia Federal. Hodiernamente, o Governo de Bolsonaro é reduzido em prints, discursos anti-democráticos, fake news, tweets, vídeos ministeriais vazados, investigação sobre Fake news nas eleições de 2018 e mais tweets.
O momento histórico que estamos vivenciando exige uma imediata mobilização social, a fim de romper com a lógica arbitrária e irresponsável do Governo Federal, personificada na figura caricata do Presidente da República. Hoje, 29 de maio de 2020, vivemos uma pandemia com poder de interferência social e econômica semelhante à Segunda Guerra Mundial, e já nos encontramos com mais de 26.000 vidas perdidas. Esse é o verdadeiro risco do Governo Bolsonaro. Portanto, eu, jovem universitária, como muitos compatriotas com grito preso na garganta, assumo missão de preservar a democracia convidando todo povo brasileiro , em união, vociferar de nossas janelas: FORA BOLSONARO!!!
Victoria Kelvia é graduanda em ciências sociais pela Universidade Federal do Ceará, militante da Juventude do PT e do núcleo popular