“Me ver pobre, preso ou morto já é cultural. Histórias, registros e escritos. Não é conto, nem fábula, lenda ou mito. Não foi sempre dito que preto não tem vez?” – Racionais MC’s
Ler um preâmbulo de um Plano de Governo de enfrentamento ao genocídio da juventude negra com uma letra de Racionais traz a esperança que precisamos para reconstruir o Brasil. O lançamento do Plano Juventude Negra Viva (PJNV), feito hoje, 21/3, Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial e Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, tem uma perspectiva importante neste mês das mulheres, neste ano de 2024, passados dois anos após o início da pandemia da COVID-19, que vitimou majoritariamente pessoas negras e pobres.
No último dia 21 de dezembro de 2023, o presidente Lula sancionou o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra e de Zumbi dos Palmares, como feriado nacional. Na minha relatoria do projeto na Câmara dos Deputados, fiz questão de relembrar a luta de intelectuais negros na produção acadêmica para dar visibilidade à resistência ao processo da escravização em nosso país. O nosso processo histórico é forjado no enfrentamento do racismo em todas as suas formas. A quilombagem, cunhada por Maria Beatriz Nascimento e rememorada na minha relatoria, demonstra a continuidade desse modo do povo negro enfrentar todas as violências impostas pelo racismo e mostrar o seu protagonismo na formação do povo brasileiro. E esse modo é sobretudo coletivo e matriarcal. Quem sofre com a morte dos jovens negros vitimados pelo sistema são as mães, órfãs de seus filhos.
Como bem colocado na apresentação do Plano Juventude Negra Viva, “O racismo foi, e ainda é, a estrutura definidora das relações sociais no Brasil, determinando quem come e quem passa fome, quem vive e quem morre, quem tem moradia e quem contempla o triste sereno das ruas, quem acessa a educação e quem tem o destino do analfabetismo. ”
Portanto, é simbólico o lançamento desse plano pelo Presidente Lula, ao lado da ministra Anielle Franco, após a recriação do Ministério da Igualdade Racial e a revitalização das políticas de combate ao racismo que foram negligenciadas após o Golpe contra a presidente Dilma e durante os anos de desgoverno. A introdução deste novo Plano não apenas representa uma homenagem à memória passada, mas também uma continuidade das iniciativas como a liderada por Luiza Bairros, que foi a primeira ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e implementou o Plano Juventude Viva. Que este programa seja implementado em todos os rincões do país e que as 43 metas propostas, após a escuta ativa de seis mil jovens, da população, do movimento negro e de diversas entidades, sejam um poderoso instrumento no enfrentamento ao racismo estrutural e no bem-estar da nossa juventude negra!
Reginete Bispo é Deputada Federal (PT-RS), coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Tradicionais de Matriz Africana e da Frente Parlamentar Feminista Antirracista com Participação Popular e integra a Bancada Negra e a Bancada Feminina. Bispo também é titular da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial.
Artigo publicado no Sul 21