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Artigo: Vacina, qual a eficácia?, por Alexandre Padilha

Precisamos de cobertura universal para Covid-19, em tempo rápido, e para isso temos que combinar vacinas que terão eficácia e efetividade diversas, para decisão do gestor que deveria estar coordenando o Plano Nacional de Imunização

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Deputada Federal Alexandre Padilha

Depois da guerra de países de origem, daqueles que se colocaram como supostos “donos da vacina: BolsoDoria”, agora querem inventar a guerra de “% de eficácia” de vacina. É um erro cairmos nessa guerra. Na última pandemia da H1N1, de 2009 a 2010, quando eu era Ministro da coordenação do Lula e Temporão Ministro da Saúde, fomos o país que mais vacinou em sistema público no mundo.

Não há nada mais importante para salvar vidas e recuperar a economia do que um Plano de Imunização Nacional para toda a população, não para um terço ou metade da população, como quer o governo federal. Isso só será possível combinando vários tipos de vacinas. Portanto, não devemos descartar nenhuma vacina comprovadamente eficaz e segura.

Sobre eficácia, precisa traduzir de qual eficácia se fala. No caso da H1N1 (2009/2010), as vacinas mostravam-se eficazes não para bloquear transmissão, mas para reduzir mortes e casos graves. Até hoje é o principal benefício comprovado, por isso, vacina-se só grupos prioritários em saúde pública.

Estudos de fase 2 e alguns já de fase 3 têm mostrado que as vacinas para Covid-19 são eficazes para reduzir transmissão. Uma ótima notícia que reforça que a vacinação em saúde pública deve ser para todos e todas, priorizando-se, em fases, os grupos a serem vacinados primeiro.

Para vacinarmos todos e todas, idealmente nos primeiros seis meses de 2021, estancando assim ondas de contágio e salvando vidas e a economia. Mas isso só é possível com uma combinação de vacinas. Repito: não apenas uma vacina, mas uma combinação delas. Uma vez definidas as vacinas escolhidas, elas devem ter indicação de formas de armazenamento, quantidade de doses, eficácias diversas em grupos etários, etc. Na H1N1, usamos de três a quatro “marcas” diferentes, de 2010-2012.

Vamos lá… Sobre análise de eficácia, como já ouvi desde ontem, “Ah, 60% de eficácia não vai ser aprovada”, “É melhor esperar a que tem 95% de eficácia”.

Agora vamos falar aqui de eficácia, no estudo clínico, mas depois vou falar de eficácia ao implementar em saúde pública. Segurança e eficácia em estudo clinico são fundamentais pra tomarmos decisão de implementar para qualquer pessoa, ainda mais em saúde pública. Segurança é decisivo para dizer sim ou não.

Eficácia para analisarmos se vale a pena ou não, se é efetivo.

Às vezes, algo com 100% de eficácia em estudo clínico tem custos, eventos adversos, dificuldades de treinamento, que se torna menos efetivo em saúde pública. Hidratação endovenosa ou hidratação oral é um bom exemplo. A terapia de hidratação oral é mais efetiva em saúde pública, por exemplo.

Quero repetir: temos que ter cobertura universal de vacina para Covid-19 em tempo rápido e para isso temos que combinar vacinas que terão eficácia e efetividade diversas, para decisão do gestor que deveria estar coordenando o Plano Nacional de Imunização.

Sobre a eficácia, no estudo clinico é pré-estabelecida no desenho qual o patamar mínimo que se pretende atingir. No caso da vacina do Butantan, era de 50% de redução da transmissão. Os Comitês de Ética e a ANVISA aprovaram o desenho do estudo.

Então, se o estudo mostrar que atingiu eficácia estabelecida pelo desenho pré-aprovado, a ANVISA é obrigada a emitir autorização. Aí a autoridade sanitária, com esses dados, tem que decidir: vale a pena vacinar a população com essa eficácia?

Voltando ao caso da H1N1: a decisão mundial foi sim. Fizemos grandes campanhas de vacinação, tendo, como maior eficácia, a redução de mortes e casos graves. E muito efetivo. Na minha avaliação, desde o início do ano, teremos vacinas diversas para compor amplo plano de vacinação.

Na minha opinião, caso os dados que o Instituto Butantan apresente para a ANVISA mostrem que a vacina foi segura e eficaz como estava no seu estudo pré-protocolado, a autorização emergencial tem que ser aprovada com urgência.

Aprovamos, no Congresso, que se uma série de Agências Internacionais derem autorização emergencial, a ANVISA também é obrigada a dar em no máximo 5 dias. A Agência Europeia aprovou a vacina da Pfizer, a Anvisa tem que autorizá-la no Brasil, por exemplo.

Importante dizer que a vacina da Pfizer se mostrou altamente eficaz, mas talvez não seja tão efetiva em saúde pública pelo armazenamento. Mas já poderíamos estar vacinando profissionais de saúde e usuários dos hospitais do SUS, que conseguem armazená-la (transformar algo eficaz em efetivo).

As vacinas do Butantan, da Fiocruz, a Sputnik, eventualmente podem ser menos eficazes em percentuais no estudo clínico do que a da Pfizer, mas podem vir a ser mais efetivas em saúde pública por podermos administrá-las rapidamente nas salas de vacinas no Brasil.

Em resumo, vamos parar com a guerra da vacina, da origem, dos donos, como “BolsoDoria”, dos percentuais de eficácia e vamos fazer o que tem que ser feito: um Plano de Vacinação com todas as vacinas seguras e eficazes disponíveis. Vamos focar em salvar vidas, a saúde pública e nossa economia.

Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP), criador do Mais Médicos, ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma e secretário da gestão Haddad.

Artigo originalmente publicado na Revista Fórum.