Partido dos Trabalhadores

Artistas e movimentos sociais entregam manifesto de apoio a Dilma

O documento intitulado “Carta ao Brasil” foi lido durante encontro com a presidenta, nesta quinta-feira (17), em Brasília.

Brasília- DF 17-12-2015 Presidenta Dilma Rousseff recebe Frente Brasil Popular Palácio do Planalto. (Foto: Lula Marques/Agência PT)

A presidenta Dilma Rousseff  recebeu nesta quinta-feira (17) representantes de 60 movimentos sociais que fazem parte da Frente Brasil Popular, além de artistas e intelectuais contrários ao processo de impeachment movido contra a petista. Na ocasião, eles entregaram um manifesto de apoio intitulado “Carta ao Brasil”.

No documento eles reafirmam uma unirão forças para restabelecer o estado democrático de direito e reforçam que não aceitarão retrocesso em relação a isso.

“Independente de opiniões políticas, filiação ou preferências, a democracia representativa não admite retrocesso. (…) Consideramos inadmissível que o país perca as conquistas resultantes da luta de muitos que aí estão, ou já se foram. E não admitiremos, nem aceitaremos passivamente qualquer prática que não respeite integralmente deste preceito”, diz trecho da carta.

O cantor Tico Santa Cruz participou do encontro e defendeu o impeachment como um dispositivo importante para a democracia, mas disse que ele não pode ser usado em benefício próprio para “boicotar” as urnas e a eleição da presidenta Dilma.

“O impeachment não pode ser usado de forma irresponsável em benefício próprio para poder articular qualquer tipo de movimentação que possa boicotar as urnas e a eleição de uma presidente que não responde a nenhum processo”, afirmou o artista.

“Precisamos encerrar de uma vez por todas essa tentativa de terceiro turno, aceitar os resultados das urnas que elegeu democraticamente a presidente. Somos contra o movimento do impeachment, a favor da democracia e queremos sinalizar para a sociedade que não será fácil chegar ao poder na marra, para chegar ao poder tem que ser pelas urnas, que é onde todos nós votamos e elegemos nossos representantes”, ressaltou.

Tico disse ainda que esse movimento pede o afastamento imediato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que ele seja punido pelos crimes que tiver cometido. Segundo o cantor, Cunha não tem “moral” para presidir um espaço tão importante para a democracia e para política do Brasil.

O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, afirmou que o encontro foi importante para apresentar a posição dos movimentos sociais que são contra o golpe.

Stédile disse que existe uma preocupação com o processo de crise econômica e política, mas que é necessário lutar pelas reformas que o Brasil precisa como a política, a agrária e a urbana. “Viemos trazer para a presidente a posição que os movimentos manifestaram de maneira massiva ontem em dezenas de cidades, que somos contra o golpe que está em curso na Câmara e a favor da democracia”.

O escritor e diretor de cinema Pablo Vilhaça falou após a cerimônia com a presidenta Dilma e disse que o Brasil não pode jogar fora uma luta inteira pela democracia por um projeto que quer ganhar por meio do golpe.

“Querem jogar essa luta inteira no lixo por conta de um projeto que não consegue ganhar o poder nas ruas e tenta ganhar através do golpismo. Isso em 2015 é inaceitável, como seria em qualquer época, mas no mundo moderno de hoje é completamente inaceitável”, disse.

Leia o manifesto na íntegra:

“MANIFESTO EM DEFESA DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
O Brasil vive um momento histórico em que a legalidade e as instituições democráticas são testadas, o que exige opinião e atitude firme de todos e todas que têm compromisso com a democracia.

Desde as eleições de 2014, vivemos um grande acirramento político que permeia as mais diversas relações humanas e sociais. Essa situação ganhou novos ingredientes a partir da eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados e, de forma especial, após este ser denunciado pelo Ministério Público Federal por seu envolvimento em atos de corrupção, possuindo contas bancárias no exterior e ocultando patrimônio pessoal.

Absolutamente acuado pelas denúncias, pelas fartas provas do seu envolvimento em atos ilícitos e enfrentando manifestações em todo Brasil contra a agenda conservadora e retrógrada do ponto de vista de direitos que lidera, Cunha, que já não tem mais nenhuma legitimidade para presidir a Câmara, decidiu enfrentar o Estado Democrático de Direito. A aceitação de um pedido de impedimento daPresidenta da República no momento em que avança o processo de cassação do deputado é uma atitude revanchista que atenta contra a legalidade e desvia o foco das atenções e das investigações.

Neste sentido, viemos a público repudiar a tentativa de golpe imposta por Eduardo Cunha, por não haver elementos que fundamentem esta atitude, a não ser pelo desespero de quem não consegue explicar o seu comprovado envolvimento com esquemas espúrios de corrupção. Não se trata neste momento de aprovar ou reprovar o governo ou a forma como a Presidenta da República, mas defender a legalidade e a legitimidade das instituições do nosso país.

Por outro lado, defendemos o cumprimento do Regimento da Câmara dos Deputados e da Constituição Federal, ambos instrumentos com fartos elementos que justificam a cassação do mandato de Eduardo Cunha. Caso contrário, toda a classe política e as instituições brasileiras estarão desmoralizadas, por manter no exercício do poder um tirano que utiliza seu cargo de forma irresponsável para manutenção dos seus interesses pessoais. Apelamos às e aos parlamentares, ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal, autoridades cuidadoras da sanidade da política e da salvaguarda da ordem democrática num Estado de Direito, sem a qual mergulharíamos num caos com consequências políticas imprevisíveis. O Brasil clama pela atuação corajosa e decidida de Vossas Excelências.

Não aceitamos rompimento democrático! Não aceitamos o golpe! Não aceitamos Cunha na presidência da Câmara dos Deputados!”

Por Danielle Cambraia, da Agência PT de Notícias