A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) vem sofrendo ataques do governo ilegítimo de Michel Temer (MDB-SP), desde o golpe parlamentar, jurídico e midiático que destituiu a presidenta eleita Dilma Rousseff, entre eles, assédio moral e sexual, segundo denúncias dos trabalhadores e das trabalhadoras. De acordo com questionário produzido pela Comissão dos Empregados da EBC, 80,6% afirmaram que sofrem ameaças de demissão, troca de turno ou transferência de departamentos.
Esta semana, o Ministério Público do Trabalho concedeu liminar determinando que a empresa adote ações contra assédio moral.
Em resposta, o diretor-presidente da EBC , Alexandre Parola, mandou um e-mail aos trabalhadores, nesta quarta-feira (15), dizendo que não tolera e não tolerará episódios de assédio de qualquer natureza. Mas, a Comissão dos Empregados da EBC contesta os argumentos de Parola e denuncia que nem o canal de denúncias da empresa, controlado por uma funcionária amiga de Temer, funciona.
Para o secretário de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, “a comunicação pública é fundamental para a democracia e como democracia não é um tema deste governo golpista, eles querem acabar com a EBC para calar a voz da classe trabalhadora e começam, atacando os trabalhadores e as trabalhadoras da própria empresa”.
Roni lembra que a EBC foi criada pelo ex-presidente Lula como empresa pública cujo objetivo era dar voz e vez para a pluralidade do povo brasileiro. Agora, afirma o secretário, querem transformar a empresa num quintal do governo, limitando vozes e pautas de interesse público e praticando apenas publicidade do governo ilegítimo de Temer.
“O ex-presidente criou a EBC, diante da demanda do movimento social brasileiro, particularmente das entidades ligadas à luta pela democratização da comunicação e do setor cultural, reconhecendo a comunicação pública como um pilar indispensável para a promoção da diversidade, da pluralidade e uma garantia para a liberdade de expressão diferentemente da mídia comercial, que só dá voz para quem paga a publicidade”, disse Roni.
Pesquisa comprova assédio
Dados coletados pela Comissão de Empregados da EBC mostram que uma boa parte da gestão indicada por Temer está contribuindo para adoecer, perseguir e assediar trabalhadores.
Por meio de um questionário produzido pela Comissão dos Empregados da EBC, 67,7% dos trabalhadores alegaram que a chefia cria dificuldades de acesso a instrumentos de trabalho, 45,4% disseram que a chefia não lhes transmite informações úteis ou necessárias para o desempenho das funções e 80,6% afirmaram que a chefia ameaça de demissão, troca de turno ou transferência de departamentos o tempo todo.
“Ela nos chama de incompetentes o tempo todo, em alto e bom som”, respondeu um trabalhador no ‘esse espaço é seu’ do questionário que pede para ilustrar um caso de assédio que o trabalhador tenha sofrido. Outra resposta na mesma questão diz “o clima organizacional e o ambiente de trabalho estão altamente tóxicos e nocivos à saúde psicossocial de quaisquer seres humanos que a estes péssimos gestores sejam subordinados. Está horrível, de verdade”.
Aumentam casos de transtornos mentais
Segundo dados da própria EBC, o número de atestados de transtornos mentais e comportamentais apresentados nos recursos humanos da empresa cresceu nos últimos anos. De 162 atestados em 2015 para 252 em 2017.
Para Sumaia Villela, da Comissão dos Empregados da EBC, o assédio é um dos braços que provocam o adoecimento de funcionários da empresa. O problema é histórico e ocorreu em todas as gestões, desde a Radiobrás.
Atualmente, ela avalia que as ações internas são insuficientes para mudar o quadro. Condições precárias do ambiente de trabalho, censura e perseguição também são citadas na pesquisa.
“Existem locais de trabalho com problemas recorrentes de água, com falhas estruturais que incluem até a queda de parte do teto. Empregados que assumiram cargos em outras gestões são perseguidos internamente; e as pautas e textos contrários à política do governo são censurados. Recebemos denúncias e uma pessoa e até mesmo um setor inteiro foi proibido de conversar sobre outros assuntos que não sejam do trabalho. Tudo isso eleva consideravelmente o número de trabalhadores com problemas relacionados à saúde mental”, afirmou Sumaia, sobre os bastidores da empresa.
Segundo a trabalhadora, a insegurança sobre o futuro da empresa também está mexendo com a saúde dos trabalhadores.
“Várias decisões tomadas contribuem para diminuir a relevância da empresa. Também não somos consultados ou informados com antecedência sobre mudanças importantes, não temos informações oficiais sobre o futuro da empresa e lemos bastante que Temer e alguns candidatos à Presidência da República querem acabar definitivamente com a EBC”, afirmou Sumaia.
“Mas é preciso entender que a comunicação pública está na Constituição, é um patrimônio dos brasileiros. Temos centenas de premiações, uma programação sem interferências comerciais e distribuímos conteúdo de forma gratuita. Estamos em centenas de veículos pelo país, diariamente. O cidadão pode não ter ouvido falar da gente, mas com certeza já consumiu algo produzido por nós”, finalizou a trabalhadora na EBC.
Canal de denúncias não funciona
Além do assédio moral, os funcionários e funcionárias da EBC denunciam outras práticas como assédio sexual e censura. Mas o único canal de denúncias dentro da empresa também tem problemas.
Um trabalhador da área de ouvidoria, que não quer ser identificado, disse que o departamento tem a função de receber e encaminhar denúncia sobre qualquer problema interno e externo da EBC. Mas, segundo ele, a chefe do departamento, que também é indicada por Temer, é uma das assediadoras e manipula informações do setor.
“Nós já fizemos um documento denunciando os assédios cometidos aqui e encaminhamos para a comissão de ética e a chefe da ouvidoria, que foi chamada para o direito de resposta, agrediu também a comissão e o caso agora foi parar na comissão de ética da Presidência da República, mas sem nenhuma resposta até agora”, contou o funcionário.
Ele também contou que a atual ouvidora controla os procedimentos internos de trabalho, como a abertura de processos.
“Recebemos reclamações de teor muito importante que sequer são relatadas e analisadas nos relatórios. Esses documentos têm sido alvos de críticas por não fazerem uma análise crítica dos serviços que são prestados pela empresa. Dessa forma, as informações acabam sendo manipuladas e os problemas que deveriam ser confrontados são amenizados”, explicou o trabalhador da ouvidoria, que também denunciou a falta de confiança em relatar o assédio.
“Se a ouvidoria que devia receber as reclamações e ajudar a resolver tem também uma assediadora, em quem podemos confiar? “, questionou.
Justiça determina que empresa atue no combate ao assédio
Em resposta a liminar concedida pela justiça, que determinou que a empresa adote ações contra assédio moral, o diretor-presidente da EBC, Alexandre Parola mandou um e-mail nesta quarta-feira (15) aos trabalhadores dizendo que não tolera e não tolerará episódios de assédio de qualquer natureza .
“Estou designando uma comissão de funcionários com representantes de cada uma das diretorias, com membro deste gabinete e com a presença da consultoria jurídica para prontamente estruturarmos formas de combate ao assédio e a implementação de uma política de tolerância zero nessa área”, diz trecho do comunicado interno.
Segundo o coordenador Geral do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, Gésio Passos, que também é trabalhador da EBC, o presidente da empresa se exima da culpa porque, apesar de quatro meses no posto, faz parte da mesma diretoria que há um ano se negou assinar o termo de ajustamento de conduta do Ministério Público do Trabalho (MPT) para fazer um acordo de combate ao assédio moral no local de trabalho.
“A empresa diz que não tolera, mas nega discutir com entidades de trabalhadores a questão de assedio. É uma retórica para esconder o que passa dentro da empresa. Segundo o e-mail o presidente da EBC diz que vai criar uma comissão, mas não dialoga com as entidades que representam os trabalhadores possivelmente vai coibir o avanço dos processos”, denuncia Gésio, que também sofreu assédio ao exercer sua função de diretor do sindicato denunciando assédio contra os trabalhadores.
A EBC foi procurada pela reportagem do PortalCUT e respondeu que tem conhecimento da notícia, mas, como ainda não foi intimada, não tem conhecimento do teor da ação, nem do conteúdo da decisão liminar. “Sobre a informação referida, a empresa divulgou um comunicado do Presidente da EBC, Alexandre Parola, voltado aos empregados”, diz trecho da resposta da empresa por e-mail.
Por CUT