O Banco Central presidido por Roberto Campos Neto avança na estratégia de chantagear o governo Lula para submetê-lo à agenda do mercado financeiro. A nova ata do Comitê de Política Monetária (Copom), emitida nesta terça-feira (28) pela instituição, confirma que Campos Neto pretende sabotar o crescimento do país para continuar a permitir o despejo de bilhões de reais ao rentismo. E como ele faz isso? Pelo terrorismo fiscal. É o que deixa claro a ata do Copom, sinalizando o temor de uma pressão inflacionária inexistente e a exigência de um arcabouço fiscal “crível” e “sólido”.
Trocando em miúdos: o governo não pode expandir gastos, sobretudo em áreas sociais. “O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, ameaçou a instituição, em claro recado à equipe econômica de Lula. Detalhe: as projeções de inflação para 2023 são de 5,6%, uma inflação que não é de demanda.
“Arrogância do BC de Guedes e Bolsonaro não tem limites: querem desacelerar ainda mais a economia e manter juros na estratosfera”, reagiu a presidenta do PT Nacional, Gleisi Hoffmann. “O Brasil que se dane, segundo o Copom. E ainda fazem chantagem sobre regra fiscal. O Brasil não merece isso”, afirmou a deputada federal pelo Paraná. “Temos o maior juro do mundo e a maior queda da inflação entre países do G20. Até quando, Campos Neto?”, questionou Glesi.
Especulação financeira
“O presidente do Banco Central prefere favorecer a especulação financeira a garantir o desenvolvimento brasileiro”, disparou o vice-líder do governo no Congresso, Carlos Zarattini. O deputado federal pelo PT de São Paulo reforçou que é preciso uma reação aos desmandos de Campos Neto.
“O papel do Congresso é protestar porque não existe outro caminho”, alertou o deputado. “Não pode 0,1% de bilionários brasileiros quererem impedir o Brasil de se desenvolver, de gerar empregos. Chega da política econômica do Paulo Guedes”, protestou.
“Há um sentimento de lideranças políticas, de empresários, de economistas, de que o Brasil vive uma taxa de juros que é desproporcional quando a gente compara com outros países”, declarou o ministro ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, após a publicação da ata.
Do mesmo modo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, também subiu o tom sobre a manutenção dos juros no país. Ele se manifestou depois de uma reunião com o presidente Lula, em Brasília. “Houve o reconhecimento mútuo de que a taxa de juros no Brasil está muito alta e afirmei ao presidente a importância de encontrarmos caminhos sustentáveis para a redução da taxa o mais rápido possível”, observou Pacheco, em nota à imprensa.
BC perde credibilidade
Tanto o conteúdo da ata do Copom quanto o destempero de Campos Neto à frente do BC também foram alvo de críticas de economistas, após a divulgação da ata. A primeira justificativa demolida foi o cuidado com uma suposta pressão inflacionária exposta pelo Comitê no documento.
O economista e professor de economia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), André Roncaglia, apontou que o país já passa por um processo de desinflação, o que não justifica a teoria do BC. “Não vejo esse temor de um descontrole que nos levaria a uma hiperinflação”, opinou, em entrevista à GloboNews. “Deixar a política monetária num contexto tão restritivo vai diminuindo a própria credibilidade do Banco Central”, advertiu.
Mais cedo, pelo twitter, o economista abordou a política por trás do “tecnicismo” de Campos Neto: “A ata da última reunião do Copom é uma colagem de boatos, meias verdades e insinuações”, fulminou Roncaglia. “A ata tenta ser didática. Há muitos terraplanistas que são didáticos, nem por isso o que dizem é válido. A ata se encaixa neste espaço hermenêutico. A gestão Roberto Campos Neto ameaça a credibilidade do BC”, insistiu.
“O que estamos vendo é uma tentativa do Banco Central de disciplinar a politica fiscal”, observou o economista Paulo Nogueira Batista Jr. pelo seu canal no You Tube. “O Banco Central, recorrentemente, ameaça recrudescer no aperto de juros se o governo não praticar uma política fiscal que ele considere adequada”, criticou.
Da Redação