Milícias armadas e grupos radicais vêm atacando a caravana do ex-presidente Lula pelo Sul do país. Desde o início do trajeto, em Bagé (RS), a caravana foi vítima de atos violentos, nas rodovias, em praças públicas e até em universidades, em alguns casos com a conivência das forças de segurança que deveriam garantir o direito de ir e vir e a integridade física do ex-presidente Lula e da ex-presidenta Dilma Rousseff, que o acompanha, dos membros da comitiva e da população que os recebe.
Os métodos desses grupos são tipicamente fascistas. Bloquearam estradas com tratores, máquinas agrícolas e caminhões. Atacaram os ônibus com pedras e ovos, criando risco de graves acidentes. Agrediram pessoas com correntes, barras de ferro, soco inglês e até com chicote. Lançaram pedras e ovos contra o público nas praças e contra o palco onde discursavam Lula e seus companheiros.
Na quarta-feira, 21, a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, enviou ofícios ao ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, ao governador do Rio Grande do Sul, Ivo Sartori, e ao secretário de Segurança, Cézar Schirmer, denunciando os atentados. E mesmo assim não foram mobilizados efetivos suficientes para impedir a escalada da violência.
Atentados como estes não fazem parte da tradição política brasileira. Nada semelhante ocorreu quando a caravana de Lula percorreu os nove estados do Nordeste, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Os atentados do Sul são orquestrados e incentivados pelos setores mais atrasados da sociedade. Não querem se manifestar democraticamente, mas interditar e calar pela força o mais importante líder popular do país.
Assista à coletiva de imprensa que Dilma Rousseff e Celso Amorim concederam nesta segunda-feira (26) a jornalistas da imprensa internacional.
A cronologia da violência política
Rio Grande do Sul
Bagé – Segunda-feira, 19 de março
O caminho da caravana até o campus da Unipampa foi bloqueado por tratores, caminhões e máquinas agrícolas. Os ônibus tiveram de passar por um desvio. A Brigada Militar permitiu que grupos agressores se aproximassem a menos de cem metros dos ônibus. Atiraram paus, pedras e rojões contra os ônibus e contra as pessoas que aguardavam a chegada da caravana. A janela lateral do ônibus do presidente Lula foi estilhaçada por uma pedra. Milicianos a cavalo usaram chicotes para agredir as pessoas. Portavam armas de fogo, facas e correntes de ferro.
Santa Maria – Terça-feira, 20 de março
O campus da Universidade Federal de Santa Maria foi invadido por cerca de 200 milicianos. Agrediram os estudantes e professores que aguardavam a caravana com pedras, varas de bambu e, novamente, o chicote, que simboliza a prepotência desses grupos oriundos da Casa Grande. A Brigada Militar, que entrou no campus para isolar os dois grupos, voltou sua cavalaria contra os estudantes e professores. A Brigada não impediu que os ônibus fossem atacados na saída do campus.
São Borja – Quarta-feira, 21 de março
O acesso principal à cidade foi bloqueado desde o início da manhã por tratores, caminhões e máquinas agrícolas, apesar da presença da Brigada Militar e da Polícia Rodoviária Federal. Os chefes das milícias anunciavam que Lula não entraria na cidade de Getúlio Vargas e João Goulart. Seus capangas aguardavam a chegada da caravana com barras de ferro, correntes, rojões e pedras. Havia armas de fogo. A caravana surpreendeu os agressores contornando o trevo por estradas de acesso a assentamentos do MST e entrando na cidade por outra via de acesso. Ao se dar conta da manobra, algumas dezenas de agressores dirigiram-se a esta via alternativa e alvejaram os ônibus com pedras e ovos. Na praça XV de Novembro, onde ocorreu o ato em homenagem a Getúlio Vargas, milícias armadas de barras de ferro e correntes agrediram o público e entraram em confronto com militantes da CUT e do MST. Dois militantes da CUT ficaram feridos.
Entre-Ijuís – Quinta-feira, 22 de março
Ao passar pelo entrada da cidade, os ônibus da caravana foram mais uma vez alvejados com pedras e ovos, lançadas por agressores postados nas duas margens da rodovia, apesar da presença de policiamento no local.
Cruz Alta
Grupos de milicianos agrediram pessoas presentes ao ato público da caravana. Cinco mulheres e uma criança foram covardemente agredidas. Relato de Suzana Machado Ritter: “Me atacaram quando eu estava indo para a manifestação. Eu ia sozinha, estava do outro lado da rua. Eles roubaram minha bandeira, me derrubaram. Sofri escoriações. A bandeira tinha um valor sentimental, pois estava comigo desde 89. Tinha diversas assinaturas, inclusive do Lula.”
Ieda Alves e a Daniele Mendes, que já haviam sido atacadas (queimaram suas bandeiras) foram ao socorro de Suzana e voltaram a ser agredidas. Ieda foi derrubada no chão e perdeu seus óculos.
O caso mais grave: Deisi Miron, que estava com o filho de 10 anos, foi atingida nas costas por uma pedra e um ovo. Cercada por agressores, tentou proteger-se e ao filho com uma arma de choque. Levou um soco no olho, foi derrubada e chutada. Foi hospitalizada com hemorragia no rim, lesões nas costas e na cabeça. Por causa da hemorragia, Deisi, que estava fazendo radioterapia para tratar um tumor, tem de se internar todas as noites.
Sexta-feira, 23 de março – Passo Fundo
Da mesma forma que ocorreu em São Borja, as milícias bloquearam o trevo de acesso à cidade com tratores, caminhões e máquinas agrícolas. Estavam dispostos dos dois lados da rodovia, com armas de fogo, correntes e barras de ferro. Mesmo diante do policiamento, paravam automóveis na estrada e agrediam pessoas que identificavam como petistas.
Queimaram pneus sobre a rodovia. Na praça onde ocorreria o ato público com Lula, o público foi atacado com pedras e ovos. O comando do policiamento declarou simplesmente que não podia garantir a passagem da caravana, o que nos levou a cancelar a participação no ato e usar uma rota alternativa para chegar ao último ponto do roteiro, a cidade São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre.
Ao tomar conhecimento de que Lula se dirigia à cidade de Chapecó, onde embarcaria num voo para Porto Alegre, grupos agressivos tentaram fechar o aeroporto local.
Santa Catarina
24 de março – Chapecó
Milícias se concentraram desde cedo na entrada da praça onde seria realizado o ato público à noite. Lançaram pedras, rojões e garrafas plásticas cheias de areia contra o público, onde havia muitas crianças. Com a conivência da polícia, tomaram a calçada na porta do hotel onde Lula estava hospedado e tentaram invadir o local. Um grande grupo armado com pedras e barras de ferro tomou a porta da garagem do hotel e tentou impedir a passagem do carro que levava o presidente para o ato.
O dirigente nacional do PT Paulo Frateschi, de 68 anos, foi agredido com uma pedrada que dilacerou sua orelha esquerda. O professor de educação física Abel Karasek foi atingido por uma pedrada na testa. Ambos foram hospitalizados. Karasek levou cinco pontos no ferimento.
25 de março – São Miguel do Oeste.
Na entrada da cidade, a caravana foi cercada na estrada por um grupo de cerca de cinquenta pessoas, que se forçaram o comboio a seguir lentamente. Jogaram pedras e ovos sobre os veículos. A janela do motorista do ônibus do presidente Lula foi estilhaçada por uma pedra. Os limpadores de parabrisas foram arrancados. Duas pedras atingiram as janelas dianteiras do ônibus de convidados. Os agressores jogaram ovos nas janelas dianteiras, de forma a impedir a visão dos motoristas, criando um grave risco de acidentes. A Policia Militar, que estava no local, apenas observou a ação dos agressores, sem agir.
Os advogados do PT fizeram um boletim de ocorrência na delegacia local, para registrar o atentado.
À noite, durante um ato público no centro da cidade, ovos foram atirados no palanque por pessoa ou pessoas abrigadas em um pequeno prédio às escuras. Alguns ovos atingiram o público, onde havia muitas crianças, criando risco de pânico. Mais uma vez a polícia não agiu.
Atuação política do Ministério Público
O Ministério Público Federal oficiou à reitoria da Unipampa, em Bagé, ameaçando processar seus dirigentes por improbidade administrativa caso Lula visitasse a Universidade criada em seu governo.
Em Passo Fundo, o Ministério Público Federal ameaçou o reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul com o afastamento do cargo, por improbidade administrativa, caso recebesse a visita de Lula.
Da Redação da Agências PT de Notícias