O aumento acelerado do uso da internet móvel no Brasil, que resultou no esgotamento da numeração de rede para identificação de endereços eletrônicos, impõe ao país a adoção de um período de transição para a implantação de um novo padrão de números IP (da sigla em inglês para “protocolo internet”).
O assunto, que requer a aplicação de um “upgrade” (atualização) no sistema, foi discutido na última reunião do Conselho de Comunicação Social (CCS) do governo, realizado há mais de dez dias.
O temor dos agentes do mercado é que a mudança traga risco de causar um “apagão” na web. A reunião foi uma iniciativa do vice-presidente do conselho, Ronaldo Lemos.
O tema do seminário foi “Transição do IPv4 para IPv6: acesso, privacidade e coibição de ilícitos”, que reuniu, além dos representantes do CCS, membro das operadoras de telefonia (Alexander Castro, do SindiTelebrasil), e do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.Br), Demi Getschko.
Relatório da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre a reunião do colegiado, ao qual a Agência PT de Notícias teve acesso, informa que “o sistema de numeração IPv4 (versão quatro do protocolo internet, com 4,3 bilhões de códigos de numeração) esgotou-se devido ao uso intensivo do serviço pela avalanche de celulares com internet em operação”.
A Anatel não quis, no entanto, se pronunciar sobre a transição, apesar de a Agência PT de Notícias ter insistido durante toda a semana numa entrevista com o diretor-conselheiro Rodrigo Zerbone, o porta-voz da agência nas tratativas do tema com o CCS.
No encontro, no entanto, Zerbone afirmou que a migração é “algo complexo”, por consistir em um desafio global. O evento foi de iniciativa do vice-presidente do CCS, Ronaldo Lemos, que logo na abertura explicou, em linhas gerais, a natureza, a atualidade e a importância daquela discussão.
A Agência tranquilizou a todos, no entanto, ao informar que o novo padrão implicará na adoção de “milhões de novas possibilidades de numeração, mas sem risco de prejudicar as investigações de crimes cibernéticos”. O relatório informa que o sistema em IPv6 (versão seis do protocolo), viabilizará 340 undecilhões de endereços).
Alexander Castro, do SindiTelebrasil, esclareceu que as operadoras já estão disponibilizando as duas versões do protocolo e, até que o novo sistema esteja integralizado, a migração está sendo feita com o compartilhamento do IPv4.
“Quanto mais tempo demorar a migração, mais será necessário compartilhar o IPv4”, informou, ao defender a adoção de um cronograma do governo para a mudança.
O representante da Anatel alertou ao mundo corporativo que a migração deve ser feita por provedores de acesso e de conteúdo, indústria, órgãos governamentais e usuários finais. Inclusive, foi criado por portaria do regulador um grupo de trabalho para a transição.
Zerbone também revelou que a Agência estabeleceu uma certificação obrigatória de equipamentos “dual stack” (registro duplo) de telecomunicações, que garantem a transição entre as plataformas.
“Sobre a possibilidade de quebra de sigilo devidamente autorizada, enquanto vigorar a transição de um sistema para o outro, a utilização da tecnologia NAT-44, que permite o compartilhamento de endereços IP nas redes das operadoras, há condições de identificar um usuário, desde que o registro de acesso seja composto do IP e da porta lógica da conexão, permitindo a colaboração com as autoridades judiciais e policiais”, explicou.
Por Márcio de Morais, da Agência PT de Notícias