Desde o começo de seu mandato, Jair Bolsonaro (PSL) já dava indícios de que haveria censura em seu desgoverno. Agora, a medida autoritária, por meio da Agência Nacional de Cinema (Ancine), já é sentida na pele pela classe artística. O órgão, que deveria estimular a produção nacional sem interferir com posicionamentos ideológicos e preconceitos, passou a cortar verbas de filmes com temas políticos e de diversidade sexual. Os casos mais recentes aconteceram com “Marighella”, “Greta”, “Negrum3” e “Chico: Artista Brasileiro”.
No caso do filme “Marighella”, do diretor Wagner Moura, o cancelamento da estreia, prevista para dia 20 de novembro, aconteceu porque a Ancine não liberou a verba de comercialização. “É impossível não pensar que existe uma articulação política para criar esse tipo de ambiente”, disse o diretor Wagner Moura à revista Época. O filme conta a história de Carlos Marighella, um dos principais organizadores da luta contra a ditadura militar no Brasil e que foi morto em uma emboscada. A produtora O2 Filmes informou, por meio de nota, que o lançamento no Brasil foi adiado indefinidamente.
Já o documentário “Chico: Artista Brasileiro”, sobre a vida e obra do cantor e compositor Chico Buarque sofreu tentativa de censura para não ser exibido no 8º Festival de Cinema do Brasil, no Uruguai. Segundo a organização do festival, a Embaixada do Brasil no Uruguai enviou instrução direta para que o documentário não fosse exibido, sem qualquer justificativa plausível. O caso também gerou revolta e o documentário foi mantido na programação.
Os filmes “Greta” e “Negrum3” tiveram a ajuda de custo para que participassem de festivais internacionais vetada. A Ancine alega cortes no orçamento, porém, apenas filmes com temáticas como homossexualidade e negritude foram afetados, demonstrando que o preconceito será decisivo na escolha de filmes apoiados pelo desgoverno.
Censura e preconceito
A Ancine sofre na mão de Bolsonaro. Além de manifestar que vai trocar a sede da agência do Rio de Janeiro para Brasília para aumentar o controle, Jair disse que existirá um filtro crítico para a escolha de filmes. Além disso, ele não descarta a possibilidade de extinção da agência, indo contra o que prevê a Constituição Federal.
Em outra ocasião, Bolsonaro afirmou ao jornal Valor Econômico que “é Bíblia embaixo do braço e que saiba 200 versículos da Bíblia” referindo-se ao perfil que espera do diretor que estiver no comando da Ancine. Sugerindo posicionamento ideológico e religioso, as atitudes de Jair demonstram claramente que a situação só tende a piorar para o fomento público do cinema nacional.
Desmonte
O desmonte acontece para além da censura moral de Jair Bolsonaro. O desgoverno também ataca a arte por meio do orçamento. O projeto de lei para os gastos de 2020 corta aproximadamente 43% do orçamento do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual). O valor, de R$ 415,3 milhões, é o menor desde 2012.
A redução prejudica o que hoje é a principal fonte de fomento de produções audiovisuais no Brasil. O ataque aos recursos e as opiniões de Bolsonaro sobre a Ancine funcionam como uma declaração de guerra ao setor que também gera empregos, garante a liberdade de expressão e é fundamental para a formação crítica da sociedade.
Da Redação da Agência PT de Notícias com informações da Folha de S. Paulo