O controle da economia mundial por grandes corporações e a concentração do capital na mão de bancos e outras instituições financeiras, atividade conhecida como financeirização, são os responsáveis pela crise mundial. A análise é do economista e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Ladislau Dowbor.
A crítica foi feita durante a palestra que ministrou na quarta-feira (26), no 3º Congresso Internacional de Ciências do Trabalho, Meio Ambiente, Direito e Saúde, em São Paulo. O economista avaliou que a instabilidade econômica brasileira é “levada por interesses políticos” e impulsionada por uma aliança do sistema financeiro, da mídia e de parte do poder Judiciário.
“E não vamos nos esquecer do Congresso, que é eleito por corporações. Por isso temos a bancada ruralista, a dos bancos, a das empreiteiras, das montadoras…fica-se à procura da bancada do cidadão”, ironizou.
Para fundamentar a análise, Ladislau recordou os avanços sociais do Brasil nos últimos 12 anos, como crescimento do índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ampliação da expectativa de vida, desenvolvimento educacional e ampliação da renda.
“Tivemos isso em 1954 (ano em que Getúlio Vargas se suicidou). Tivemos também em 1964 (ditadura) e estamos tendo isso de novo hoje”, lembrou. De acordo com o economista, “não passa pela goela das nossas oligarquias que haja uma democracia, e isso não só nos ameaça aqui, como nos ameaça no continente latino-americano e no mundo”.
Cenário global – Para Ladislau, o problema do mundo não é a falta de recursos, mas de governança. “Temos todo o necessário hoje para construir um mundo que faça sentido”, explicou.
O economista destacou que a produção de commodities concentra-se em 16 tradings globais. “Quando se pensa que os principais bens do planeta estão com 16 corporações, vemos que há controle da economia mundial sem que se tenha um governo mundial”, avaliou.
O professor referiu-se a um estudo do Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica. De acordo com a pesquisa, 737 empresas controlam 80% do sistema corporativo global. “Trata-se de um verdadeiro oligopólio planetário, e 65% desse sistema corporativo é formado por bancos”, ressaltou.
Na avaliação de Ladislau, o resultado dessa concentração econômica é o enfraquecimento de diversos países, como a Grécia. Antes, ocorreu em nações do sudeste asiático, no México e na Argentina.
Bancos – O professor chamou a atenção para a atuação dos bancos na instabilidade econômica brasileira. De acordo com o Banco Central, em 2005 o endividamento das famílias correspondia a 19,3% da renda. Em abril deste ano, saltou para 46,5%.
Para o professor, o aumento do endividamento “trava a economia”. O poder dos bancos no Brasil também se expressa pelas taxas de juros. Segundo ele, o crediário no Brasil tem juros de 100%, enquanto a taxa na Europa é de 13%. O rotativo do cartão de crédito é, em média, 300% ao ano, e o cheque especial é de 200%.
“Hoje temos mais de R$ 20 bilhões empatados em dívidas de gente que está pagando cheque especial. Ou seja, crediários, cartões de crédito e juros bancários para pessoa física travam a demanda, pois o comprador paga em dobro pelo produto, assim endivida-se muito comprando pouco”, acrescentou.
“Para completar esse quadro, a alta da Selic provoca a transferência de centenas de bilhões dos nossos impostos para os bancos, o que trava a capacidade do Estado de investir em infraestrutura e expandir políticas sociais”, disse.
“Assim completa-se o quadro dessa bandidagem absolutamente fenomenal que está drenando recursos do nosso País”, criticou.
O Congresso é organizado pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), Associação Latinoamericana de Advogados Laboristas (Alal) e Ministério Público do Trabalho (MPT).
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da “Rede Brasil Atual”