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Como tem sido praxe há pelo menos duas semanas, a base do governo tucano em São Paulo tem dado as costas aos interesses da população.
Na terça-feira (27), os aliados de Geraldo Alckmin não apareceram na sessão da Comissão de Saúde e impediram a aprovação de requerimento dos deputados estaduais Marcos Martins (PT-SP) e Carlos Neder (PT-SP) para que o secretário de Saúde, David Uip, comparecesse à Assembleia para apresentar informações sobre o combate à febre amarela e os resultados do plano de vacinação para o Estado.
Os parlamentares também solicitam esclarecimentos sobre desvio de medicamento de alto custo no Hospital Emilio Ribas, revelado após operação realizada no final de janeiro e que culminou na prisão de nove pessoas.
O desdém do governo com os temas que seriam abordados pela comissão ficam ainda mais graves ao se levar os números de casos de febre amarela no estado: já são 93 mortes e 243 casos da doença registrados desde 2017.
Para Marcos Martins, a blindagem sistemática da base de Alckmin e a falta de transparência têm gerado efeitos nocivos à população. “Informação é fundamental para a população tomar precauções e saber como agir”, avaliou o deputado.
O deputado Carlos Neder também destacou a necessidade de informações claras sobre estratégias e estoque de vacina para proteger toda a população.
“Em situação de endemia, a estratégia de bloqueio em áreas de maior risco é insuficiente para impedir o avanço da doença na forma silvestre e que voltemos a conviver com a febre amarela urbana.”
Neder ainda lamentou uma série de fatores que tem contribuído com a falência da área da saude estadual: a perda de prestígio dos profissionais que atuam em saúde pública nas ações de planejamento, comunicação, prevenção e controle de doenças e agravos à saúde; o desmonte de equipes multiprofissionais de vigilância no SUS; a centralização das decisões em instâncias de governo submetidas à lógica do loteamento político em detrimento da atuação de técnicos, especialistas, pesquisadores, gestores municipais, trabalhadores e lideranças sociais.
“No Estado de São Paulo, os casos urbanos e as mortes confirmadas decorreram de febre amarela silvestre adquirida no entorno das cidades. Parques estaduais e municipais foram fechados em razão de macacos encontrados mortos. Se houvesse sido realizada a vacinação da população mais vulnerável a tempo e intensificado o combate aos mosquitos nos estados vizinhos, nas matas e regiões urbanas com a utilização de equipes volantes, o risco hoje nas regiões urbanas seria certamente menor”, diz Neder.
Quando foi confirmado o surto de febre amarela, São Paulo priorizou o bloqueio vacinal para populações que habitam ou frequentam regiões com matas. Porém, na avaliação de Neder, esse bloqueio já não é suficiente hoje.
“O uso de doses fracionadas sugere que há insegurança dos governos quanto à disponibilidade de vacina em quantidade suficiente para imunizar o conjunto da população, lembrando que são poucos laboratórios que a produzem e seu uso se estende a outros países.”
Tanto para Martins quanto para Neder, é preciso intensificar o combate aos mosquitos vetores. O que significa recompor as equipes de combate a endemias e zoonoses, retomar a Estratégia Saúde da Família e ações de Atenção Básica, que vêm sendo abandonadas pelos governos Temer e Alckmin.