Partido dos Trabalhadores

BC e Febraban defendem exploração do povo com juros extorsivos no cartão

Diretor do BC ecoa capital financeiro e descarta teto para rotativo do cartão. Haddad defende redução dos juros abusivos, hoje em 417% ao ano: “O rotativo é uma exorbitância que precisa ser corrigida”

Em fevereiro, os juros do rotativo do cartão de crédito chegaram ao maior patamar desde 2017 (Agência Brasil - Site do PT)

Enquanto o Banco Central do bolsonarista Roberto Campos Neto atua para saquear recursos da economia e despejá-los sem pena no mercado financeiro, na base da pirâmide o povo trabalhador paga a conta. Apesar de os juros do rotativo do cartão de crédito terem chegado a 417,4% ao ano em fevereiro –  o maior desde 2017 -, os bancos nunca se cansam de facilitar o assalto à população. Nesta semana, a diretoria do BC, aquele que mantém juros escorchantes de 13,75%, informou que um teto para a cobrança desses juros está “fora de discussão”. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) foi pelo mesmo caminho de defesa canina do capital financeiro.

“É uma indústria muito grande, complexa. O regulador tem que agir com cuidado”, desconversou o diretor de regulação do Banco Central (BC), Otávio Damaso, em evento promovido pelo Bradesco BBI, na terça-feira (4). A declaração ocorreu após o ministro da Fazenda Fernando Haddad tratar do assunto, apontando justamente para o absurdo que é cobrado em juros no rotativo do cartão e sugerindo que é preciso corrigir a distorção que penaliza o trabalhador.

“Estamos com um grupo de estudos para o rotativo agora”, anunciou o ministro, na semana passada. “Eu falava com um representante de banco dizendo que isso era ruim para a própria margem deles. É uma coisa que a gente não consegue explicar: independentemente de a Selic estar alta no Banco Central, o rotativo sempre está alto”, constatou Haddad. “O rotativo é uma exorbitância que precisa ser corrigida”, sentenciou.

Após as declarações de Damaso, o presidente da Febraban Isaac Sidney, presente no mesmo evento do Bradesco, recorreu ao absurdo para explicar os motivos da não adoção de um limite aos juros. “[O teto é o] menos aconselhável possível, porque vai criar distorções”, arriscou o Rolando Lero da Febrabran.

Rotativo agrava endividamento

As taxas cobradas no rotativo do cartão de crédito são hoje, ao lado do cheque especial, responsáveis em boa parte pelo endividamento e a inadimplência que castigam as famílias brasileiras. Isso porque muitas delas, sobretudo as de baixa renda, não têm noção do que é cobrado nos juros do cartão de quem resolve parcelar uma compra. A armadilha ocorre porque o crédito é oferecido sem grandes embaraços burocráticos.

Os juros abusivos do cartão batem recorde no momento em que aumenta a pressão para que o Banco Central reduza a taxa Selic, um debate que foi encampado pelo presidente Lula e ganha cada vez mais apoiadores na sociedade e no meio econômico.

Mais pobres saem prejudicados

Nesta quarta-feira (5) foi a vez do ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, se manifestar sobre o tema. “A decisão do Banco Central de manter a taxa Selic em 13,75% prejudica especialmente aos mais pobres”, escreveu Dias, no Twitter.

“O Brasil, que já é o líder do ranking mundial de juros reais, passa a ter uma taxa duas vezes maior que a do 2º colocado, o México”, comparou o ministro. “É ainda mais preocupante para quem recebia o Auxílio Brasil ano passado e fez o empréstimo consignado a juros que ultrapassavam 50% ao ano. Ou seja, se alguém tirou o empréstimo e decidiu comprar um celular em 24 meses, no fim das parcelas terá pago dois celulares”, explicou Dias. Nada diferente, portanto, do que ocorre com usuários do cartão.

Debate com Campos Neto no Senado

Também nesta quarta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, confirmou a realização, na Casa, no próximo dia 27 de abril, de um debate entre parlamentares, o ministro da Fazenda, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e Campos Neto. Na pauta, juros, inflação e crescimento.

É importantíssima a vinda dele [Campos Neto] aqui”, declarou a senadora Augusta Brito (PT-CE), “para que todos os parlamentares possam tirar suas dúvidas”.

“Por que essa taxa é tão alta, de que forma ela pode diminuir de forma segura, de modo a não comprometer o desenvolvimento do nosso país?”, perguntou Brito, em vídeo gravado para as redes sociais.

Da Redação, com Folha