O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), reunido nesta quarta-feira (8), reduziu a taxa básica de juros da economia (Selic) em 0,25 ponto percentual, de 10,75% para 10,50% ao ano. A diminuição é inferior à aguardada pelo governo, mas dentro das expectativas do mercado. Nas últimas seis reuniões consecutivas, foram realizados cortes de 0,50 ponto percentual.
Com a desaceleração do ritmo de queda da taxa, o BC intensifica o processo de sabotagem contra o desenvolvimento do país, sufocando ainda mais a capacidade de investimento das empresas e do setor público e prejudicando também os consumidores.
Durante a reunião, quatro diretores indicados pelo presidente Lula votaram pela continuidade do ciclo de cortes de 0,50 ponto percentual. São eles Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira.
Já os diretores da ala conservadora votaram pela desaceleração do ritmo de corte da Selic, o que levou o presidente do BC, o bolsonarista Roberto Campos Neto, a desempatar a votação.
“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional devem se manter mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, diz o colegiado, em nota.
As repercussões da decisão foram as piores possíveis, tanto no meio político como entre as entidades empresariais.
Por meio da plataforma X, a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), classificou como “um crime contra o país” a postura ultraconservadora do BC.
“É um crime contra o país a decisão do Copom, de cortar apenas 0,25 ponto da maior taxa de juros do planeta. Não há fundamento econômico para isso e houve divergência de 4 diretores nessa decisão. A inflação está sob controle e em queda, o ambiente de investimentos melhora, os empregos também”, disse a parlamentar.
“O nome disso é sabotagem. Contra o desenvolvimento, contra o Brasil. Esta é a consequência da ‘autonomia’ do BC, que permitiu o prolongamento do mandato de uma direção bolsonarista, que faz política e oposição ao governo eleito pelo povo”, acrescentou.
Críticas da CNI
Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirma, em nota, que considera inadequada a decisão do Copom de desacelerar o ritmo de queda da Selic.
“Essa decisão é incompatível com o atual cenário de inflação controlado e torna impraticável continuar o projeto de neoindustrialização do país com altos níveis de taxa de juros. Reduzir o ritmo de corte da taxa básica tira a oportunidade de o Brasil alcançar mais prosperidade econômica, aumento de emprego e de renda”, critica o presidente da CNI, Ricardo Alban, no comunicado.
A entidade diz esperar que, “nas próximas reuniões, após a divulgação de novos dados sobre inflação que confirmem a continuidade da convergência para a meta, seja retomado o ritmo dos cortes que vinham ocorrendo desde agosto de 2023 de 0,5 ponto percentual”.
A CNI destaca que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi de 4,62% no acumulado em 12 meses em dezembro de 2023, registrou 3,93% no acumulado em 12 meses até março de 2024, abaixo do teto da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional.
“Os núcleos de inflação, que excluem choques temporários, apresentaram desaceleração ainda mais acentuada: a média dos cinco principais núcleos, que era 4,3% no acumulado em 12 meses até dezembro de 2023, caiu para 3,6% no acumulado em 12 meses até março de 2024”, diz a nota.
“As expectativas do mercado também são favoráveis. O último relatório Focus, de 6 de maio, aponta inflação de 3,72% no final de 2024, uma queda em relação aos 3,9%, previstos em 2 de janeiro de 2024”, acrescenta o comunicado, frisando que “as expectativas em queda sinalizam novamente para o cumprimento da meta, em condição ainda melhor do que a observada em 2023, pois deve se aproximar do centro da meta, de 3%”.
Prejuízos
Segundo ainda a CNI, além do quadro de inflação controlada, outra razão para cortes mais intensos da Selic são os prejuízos que as taxas de juros reais elevadas provocam na economia.
“Mesmo com os cortes já realizados, a taxa de juros real (que desconsidera os efeitos da inflação) está em 6,9% ao ano, ou seja, 2,4 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra, aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica. Essa elevada taxa de juros tem efeito direto e negativo na atividade econômica e no crédito”, diz a entidade.