Parece que Bolsonaro começou a cumprir a promessa que se tornou o carro-chefe de sua campanha, produzindo até mesmo o conhecido gesto da mão em forma de arma.
Por enquanto Bolsonaro liberou a posse de arma, mas pelo frenesi repressivo que domina o governo, acredito que não vai demorar em liberar também o seu porte.
Onde a venda de armas é liberada, como nos Estados Unidos, país modelo de Bolsonaro, que só copia desse grande país o que não presta, a taxa de homicídio é 25 % maior do que a dos países mais desenvolvidos.
No caso do Brasil, que já está há muito tempo no pódio dos países em que mais se mata, registrando 60 mil homicídios no ano passado, a liberação de armas só vai inflar ainda mais esse número macabro.
“Armar o cidadão de bem para combater a violência”, é uma ideia simples, direta, mas totalmente ilusória, que sobrevive se alimentando da incompetência dos governos e da demagogia dos políticos.
Não se trata, obviamente, de uma política de segurança pública, como deveríamos esperar de um governo eleito, mas da criação de uma nova divisão de classes, entre o que ele chama “cidadão de bem” e o criminoso, conceito que vem sendo estendido até mesmo para simples manifestantes.
Por enquanto vive-se uma euforia de promessa cumprida, pelo menos em parte, pois o que se quer mesmo é o porte livre de arma. Mas aquela divisão de classes, entre o tal “cidadão de bem” e os “outros”, logo será sentida pela base popular que votou em Bolsonaro pensando em usar arma.
Essa definição, que vem embutida na medida do governo como condição para a aquisição da arma, exclui logicamente o povo, povo este que Bolsonaro vai massacrar com a sua política econômica.
Para ele, “cidadão de bem” é todo aquele cidadão ou cidadã que tem propriedade e/ou renda elevada. É a elite social, portanto. O que se pretende é armar essa elite civil para servir de base segura para a política de repressão aberta do governo contra os movimentos sociais.
Benedita da Silva, é deputada federal pelo PT-RJ, ex-governadora do Rio de Janeiro e primeira senadora negra do Brasil
*Artigo publicado originalmente no Brasil 247