A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) assumiu nesta quinta-feira (14) a presidência da Comissão de Cultura (CCult) da Câmara em uma reunião marcada pela emoção, homenagens e a clareza de que o colegiado tem a missão de fazer o contraponto à cultura do ódio, das armas, do racismo, do machismo, da intolerância e da violência política que se alastra pelo País. Visivelmente emocionada, Benedita que já foi senadora, governadora, ministra e deputada constituinte, falou da sua alegria e responsabilidade de, pela primeira vez, assumir a presidência de uma comissão permanente da Câmara.
“Sou uma veterana …. Nunca fugi do meu dever, enquanto mulher trabalhadora, mulher negra, e neste momento não posso assumir essa presidência, nesse dia histórico, sem fazer duas homenagens: a Marielle Franco e a Carolina Maria de Jesus, que deixaram um grande legado para o nosso País, que provaram que é possível avançar quando se acredita, quando se compromete. E não falar delas hoje, era não reconhecer o passado e muito menos honrar o presente”, afirmou.
Nesta quinta-feira completa um ano do assassinato da vereadora Marielle Franco e foi também em 14 de março de 1914 que nasceu a catadora que se tornou escritora Carolina de Jesus.
A nova presidenta da CCult anunciou que a sua primeira tarefa a frente do colegiado será reorganizar a comissão para dar acesso ao povo brasileiro nesse momento cruel para a cultura brasileira, em que “com o viés ideológico estão deformando o conceito de cultura”. Benedita explicou que o trabalho da comissão será coletivo, com muito diálogo e respeitando as diferenças partidárias e de pensamentos.
A deputada destacou ainda o papel fundamental do colegiado na atual conjuntura, com o fim do Ministério da Cultura. “Será nosso dever também buscar recurso no orçamento público ou junto ao empresariado para garantir o apoio à produção cultural do País”, enfatizou.
Mais respeito e menos armas
Eleita primeira vice-presidenta da Comissão de Cultura, a deputada Maria do Rosário (PT-RS), também falou da importânciade defender a cultura brasileira nesse momento em que a produção cultural está sendo agredida. “O nosso desafio aqui é priorizar a cultura de paz, da liberdade, da arte. Queremos mais respeito humano e menos armas”, frisou.
Rosário destacou que ter três mulheres no comando da CCult – Benedita, Rosário e Áurea Carolina (PSOL-MG) – tem um grande significado e já representa uma transformação. “Aqui nós já resistimos ao desmonte de políticas públicas … E nós não podemos mais ver o escárnio, o ódio, a destruição e a censura. Censura que nos últimos dias querem calar. Infelizmente estamos diante de uma cultura totalitária, e eu penso que decidimos ficar do lado da Constituição, que significa também preservar vidas. Não podemos permitir que ódio se transforme em uma cultura incontrolável através de propostas que endeusa as armas, enquanto desvalorizam a vida”, comparou.
A deputada Luizianne Lins (PT-CE), que integra o colegiado com titular, destacou o papel da CCult nesse “mar de mediocridade” que vive o Brasil. “Temos que ser resistência a esse governo que está mais para desgoverno, que é tão voraz com a cultura e com a educação, com as coisas que nos faz seres humanos”, afirmou. A deputada também defendeu que a comissão trabalhe em busca da ampliação do orçamento da cultura. “O orçamento da União destina apenas 1% para o setor, isso é muito pouco”, avaliou.
A deputada Erika Kokay (PT-DF), suplente do colegiado, prestigiou a posse da deputada Benedita e afirmou que o colegiado será o “útero inverso do que o País está vivendo”. Ela acredita que a CCult será um ponto de partida para a resistência e a reconstrução de um País que tem a sua humanidade formada na diversidade. “Seremos resistência a discursos raivosos que ganham pernas e se transformam em tragédia como a de Suzano”, sublinhou a parlamentar, se referindo ao massacre que ocorreu ontem (13) em uma escola de Suzano (SP), que deixou 10 mortos, incluindo os dois atiradores.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que foi a primeira presidenta da CCult e que conduziu a reunião de eleição da deputada Benedita, enfatizou que a composição da mesa diretora da comissão, com as três mulheres de partidos de esquerda era a confirmação de que era possível avançar, mesmo em momentos difíceis. “Essa comissão, nessa conjuntura política ganhou relevância e será decisiva para contrapor valores comportamentais, culturais e de convivência”, discursou.
Parlamentares petistas na Comissão de Cultura
Além das deputadas Benedita, Maria do Rosário e Luizianne Lins, participam da CCult pelo PT os deputados Waldenor Pereira (BA), Airton Faleiros (PA) e Rubens Otoni (GO), como titulares. Os suplentes são Erika Kokay, Paulo Teixeira (SP) e Margarida Salomão (MG).