As manifestações da Jornada Lula Livre contra a prisão política de Lula, que no último domingo completou um ano, encheram as ruas de 16 países e de 17 capitais do Brasil, sem contarmos as inúmeras cidades menores, onde também ocorreram, como a cidade-natal de Lula, Caetés, no agreste pernambucano.
A que se deve a força da Jornada Lula Livre um ano depois da prisão do ex-presidente?
Em primeiro lugar, à enorme liderança popular de Lula que, por ser inocente, não foi maculada pela sua condenação e prisão planejada pelo juiz Sérgio Moro com o objetivo de limpar o terreno para a continuidade do golpe e a eleição de Bolsonaro.
Em segundo lugar, porque como diz o próprio Lula, ele pode estar preso, mas as suas ideias de liberdade, justiça social e soberania estão livres e inspirando a luta do povo. E esse ideário só tende a crescer numa conjuntura marcada pela volta da fome, desemprego e a extinção de todos os direitos que o povo tinha quando ele e Dilma eram presidentes.
A Jornada Lula Livre está ampliando seu apoio da esquerda para o centro político num ambiente em que cresce rapidamente a rejeição do recém-empossado Jair Bolsonaro.
Na última pesquisa Data Folha, a sua desaprovação já atinge 30%, o que é muito alta considerando que está no início do mandato. Nessa mesma situação, nos primeiros três meses de governo, a rejeição de Lula tinha sido apenas de 10% e a de Dilma, 7%, conforme comparou a pesquisa.
O jornalista Paulo Moreira Leite chegou a dizer que se a eleição fosse hoje, Bolsonaro teria perdido para Haddad. Ele citou o levantamento do Instituto Ideias Big Data, que mostrou a perda de cerca de 15 milhões de votos nesses primeiros três meses de desgoverno do capitão. Uma diferença maior do que a dos 10,7 milhões de votos que o colocou à frente de candidato do PT.
Outro fato que compõe esse quadro de esvaziamento político do mais despreparado presidente, desde o fim da ditadura militar, foi o fracasso das manifestações convocadas pela Lava Jato contra o STF. Talvez isso não tenha ficado tão evidente porque ocorreu no mesmo dia das robustas manifestações da Jornada Lula Livre. Parece que a extrema-direita não consegue mais encher as ruas como antes, quando era apenas um instrumento do golpe contra Dilma.
Tudo indica que o clima que está sufocando os direitos democráticos da sociedade brasileira começa a sofrer os efeitos de uma brisa de liberdade e consciência política, ainda pequena, mas persistente.
Sentimos isso em toda a parte, principalmente nas áreas populares, onde é maior a desaprovação de Bolsonaro.
Quando o PT dizia que lutar pela libertação de Lula é o mesmo que lutar pela democracia, não era retórica. Essa relação está se confirmando na realidade. Não pode haver democracia enquanto o principal líder popular do país for preso político.
A bandeira Lula Livre se funde com as crescentes manifestações populares contra a nefasta Reforma da Previdência, que visa acabar com a aposentadoria pública e universal garantida pela Constituição.
Ao mesmo tempo, e diante do descalabro do governo Bolsonaro, setores de centro começam a entender isso e a defenderem a libertação de Lula como condição para o Estado democrático de direito.
A sociedade brasileira começou um processo de mobilização popular parecido com aquele da fase final da ditadura militar e que só tende a se ampliar. A situação econômica cada vez pior, marcada pela sucessiva queda das taxas de crescimento, funciona como o amplificador da crise política causada principalmente por um presidente que não governa e deixa o país à deriva.
Os golpistas não esperavam que ao prender Lula por motivos políticos, estavam cavando a própria cova desse fracassado golpe que tenta desesperadamente continuar por meio de alguém eleito de forma suspeita e sem condições mínimas para governar.
Daqui para frente é a liderança nacional e internacional de Lula que se torna cada vez mais necessária para a saída democrática e pacífica da crise do país.
Benedita da Silva é ex governadora do Rio de Janeiro e deputada federal pelo PT-RJ
*Artigo publicado inicialmente na Mídia Ninja