Partido dos Trabalhadores

Bets: 1,3 milhão de brasileiros ficaram inadimplentes no 1º semestre, diz CNC

“O mercado do vício precisa ser contido”, reage Gleisi, autora do projeto de lei para proibir publicidade das apostas. “Jogo tem de ser tratado como álcool e fumo, sem incentivo nem propaganda”

Joedson Alves - Agência Brasil / Site do PT

De junho de 2023 a junho de 2024, os brasileiros já gastaram R$ 68 bilhões em jogos

“O mercado do vício precisa ser contido”. Assim reagiu a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, diante dos dados alarmantes divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), confirmando os impactos negativos, na economia do país e no orçamento das famílias, dos jogos de apostas online sem regulação. O levantamento mostrou que mais de 1,3 milhão de brasileiros ficaram inadimplentes no primeiro semestre de 2024 devido a apostas em cassinos online, boa parte utilizando o cartão de crédito de forma descontrolada.

De junho de 2023 a junho de 2024, os brasileiros já gastaram R$ 68 bilhões em jogos, o que corresponde a 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. As perdas decorrentes das apostas somam em torno de R$ 24 bilhões.

Leia mais: Apostas representam grave ameaça à vida de 25 milhões de brasileiros

Diante desse cenário, a CNC revisou para baixo a projeção de crescimento do setor varejista em 2024, de 2,2% para 2,1%. A queda é reflexo do impacto negativo decorrente do aumento desenfreado das apostas on-line, que tem comprometido a renda das famílias ao destinar, para jogos de azar, orçamento que seria para compras de alimentos, produtos de higiene pessoal, vestuário etc.

Confederação do Comércio divulgou q cerca de 1,3 milhão de brasileiros ficaram inadimplentes em 6 meses, por conta de apostas on-line, q tiraram R$ 68 bi da economia em 1 ano. O mercado do vício precisa ser contido. Por isso apresentei projeto de lei proibindo publicidade e marketing de bets

— Gleisi Hoffmann (@gleisi.bsky.social) Sep 21, 2024 at 10:30

Outra grave consequência das bets sem regulação é que o setor varejista pode ter perda de até R$ 117 bilhões em seu faturamento anual, o que significa redução de até 11,2%, apontou a CNC.

Leia mais: Petistas apresentam projetos para proibir propaganda de jogos de azar

“O crescimento do volume de apostas está diretamente ligado à perda de poder de compra das famílias, o que afeta toda a economia e o desenvolvimento do país”, alertou o vice-presidente financeiro da CNC, Leandro Domingos Teixeira Pinto em publicação do site Portal do Comércio.

A pesquisa da CNC trouxe mais dados alarmantes. Cerca de 22% da renda disponível das famílias brasileiras foi consumida em apostas no último ano, o que gera o aumento da inadimplência. Na avaliação do economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, as consequências econômicas e sociais do jogo sem controle afeta especialmente as classes mais vulneráveis. Muitos são beneficiários de programas sociais e chefes de família.

“Isso pode agravar ainda mais o ciclo de pobreza e desigualdade, já que muitos estão utilizando recursos essenciais para apostar”, reforça Tavares, ao afirmar que o público jovem e de baixa renda é o mais impactado.”

As apostas, que inicialmente parecem uma forma de entretenimento, acabam comprometendo uma parte considerável do orçamento, resultando na inadimplência e na redução do consumo de bens essenciais”, afirmou o economista ao Portal do Comércio.

Defesa irresponsável das bets

Em suas redes, Gleisi fez duras críticas ao artigo do presidente da Abert publicado no jornal O Globo defendendo a publicidade das bets em rádios e tvs.

“O Globo publica artigo de presidente da Abert defendendo publicidade de bets em rádio e TV. Interesse financeiro próprio, na contramão dos riscos de vício, inclusive infantil, e endividamento que o mercado de apostas provoca. Jogo tem de ser tratado como álcool e fumo, sem incentivo nem propaganda”, escreveu.

O Globo publica artigo de presidente da Abert defendendo publicidade de bets em rádio e TV. Interesse financeiro próprio, na contramão dos riscos de vício, inclusive infantil, e endividamento que o mercado de apostas provoca. Jogo tem de ser tratado como álcool e fumo, sem incentivo nem propaganda

— Gleisi Hoffmann (@gleisi.bsky.social) Sep 22, 2024 at 13:06

Para por um fim à farra das bets, Gleisi apresentou o projeto de lei 3524/2024 proibindo publicidade e marketing de casas de apostas online. Elas foram legalizadas em 2018 e, desde então, praticam publicidade ostensiva nas mídias digitais, rádios e tvs. Por isso, seu crescimento é exponencial, como também os lucros de quem comanda as plataformas e os prejuízos e ruína pessoal e famílias dos jogadores.

“A nosso ver, a vedação das ações de comunicação, publicidade e marketing relacionadas às loterias de apostas de quota fixa é essencial para reduzir a exposição da população a conteúdos que podem induzir ao comportamento de risco”, explicou Gleisi na justificativa do projeto de lei que quer neutralizar os efeitos do jogo compulsivo, com consumo consciente e socialmente responsável.

O projeto de lei prevê ainda a limitação de promoções que incentivem novas apostas por meio de bônus e vantagens, gerando ambiente seguro e responsável, e responsabilizar as plataformas de internet e provedores de conexão. Eles ficarão passíveis da exigência de bloqueio e remoção de conteúdos relacionados à publicidade de apostas, após notificação das autoridades.

Ouça o Boletim da Rádio PT:

Classificada como ‘pandemia’ pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a explosão de brasileiros viciados em jogos de azar nas plataformas online levou o governo a adotar medidas para “colocar ordem” na questão. Uma delas é a ação coordenada entre os ministérios da Fazenda e da Saúde, pois a dependência em jogos se mostra fortemente como um problema de saúde pública.

“Nós temos que começar a enfrentar essa questão de dependência psicológica dos jogos. Como começamos a regularização, nós vamos iniciar, depois dos quatro anos em que ninguém fez nada, desde 2018, quando foi legalizado o jogo eletrônico no Brasil, porque estamos vendo a necessidade premente de colocar ordem nisso, e de nos associarmos ao Ministério da Saúde – há muitos relatos de problemas de saúde, de dependência, que nos têm chegado – para criar as condições para que a gente possa dar amparo às famílias”, disse Haddad.

Da Redação