Jair Bolsonaro (PSL) já declarou sua cega devoção aos militares, inclusive aos torturadores da época da ditadura militar. Na prática, Jair continua ampliando os postos de militares na administração federal, além de entregar ministérios e cargos de chefias nas mãos das Forças Armadas.
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, nos primeiros nove meses de governo, Bolsonaro já acumula aproximadamente 2.500 militares em cargos de chefia ou assessoramento, além de ter criado 325 postos para membros das Forças Armadas na administração federal. Ainda há a participação de 8 militares no comando de ministérios, todos sob indicação de Jair.
Através de pedido por meio da Lei de Acesso à Informação, a Folha obteve informações de mais de cem órgãos federais e, em pelo menos 30, houve ampliação do número de militares em relação ao governo golpista de Michel Temer (MDB). Em alguns setores, o aumento foi mais expressivo, como no Gabinete de Segurança Institucional, na Vice-Presidência, no Ministério do Meio Ambiente e no Ministério da Justiça. No último, comandado por Sérgio Moro, o número de militares quase dobrou – de 16 para 28.
Segundo a reportagem, até mesmo alguns costumes dos chamados funcionários verde-oliva foram adotados nos novos postos de trabalho. “Por ordem do general Guilherme Theophilo, secretário nacional de Segurança Pública, os militares da pasta devem ir fardados toda quarta-feira. Pela manhã, pontualmente às 8h45, eles se perfilam para a execução do Hino Nacional. A solenidade, conhecida como formatura, é comum apenas em unidades militares.”
Consequências
Em entrevista ao Brasil de Fato no começo do ano, a historiadora Ana Rita Fonteles, professora do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC), comentou a crescente presença de representantes das Forças Armadas no poder. “Eles não estão na política com igualdade de condições porque detêm as armas e, para além disso, um ethos [conjunto dos costumes e hábitos] também diferente do que seria o dos políticos do mundo civil – uma hierarquia que é própria, uma dificuldade muito grande de lidar com a questão da diversidade de convicções, da pluralidade de opiniões, e a questão principal de poder impor ou tolher determinados posicionamentos a partir das armas e dos seus interesses”, analisou.
Eles não estão na política com igualdade de condições porque detêm as armas – Ana Rita Fonteles
Fonteles frisou ainda que os militares de hoje em dia se enquadram no perfil conservador e que defendem os interesses de grupos como a elite agrária e econômica, o que indica menos pessoas no governo trabalhando em prol da diminuição da desigualdade social no país. “São categorias a favor, por exemplo, da revogação da demarcação de terras indígenas, que defendem o avanço sobre terras na Amazônia para o desenvolvimento de uma agricultura predatória, que combatem os movimentos sociais, que desacreditam a política como campo de relações próprias pra discussão de determinados temas, que querem liberar as armas”, exemplificou a historiadora.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da Folha de S.Paulo