Enquanto na Europa se discute um plano nos moldes do ‘New Deal’, adotado pelos Estados Unidos depois da Grande Recessão, nos anos 30m para reestruturar a economia e melhorar a vida do povo, o Brasil segue sob a omissão e a falta de ideias da dupla formada por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. O rastro de destruição da agenda neoliberal adotada pelo duo mostra sua face mais cruel: recessão generalizada, desemprego crescente e desigualdade avançada. Isso é fruto do impeachment fraudulento, que arrancou Dilma Rousseff da Presidência da República com a promessa de um novo salto na economia que não ocorreu. Na prática, até os ricos perderam dinheiro com o impeachment.
“O país não merece este governo. Já são 7,8 milhões de empregos perdidos desde maio, 9,7 milhões de trabalhadores sem renda e menos da metade das pessoas em idade para trabalhar está empregada”, lamenta a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR). “Os mais afetados pelo Covid-19 e a crise são os pretos, pardos e pobres”. A parlamentar critica a inoperância do governo, que negligencia o combate à pandemia e ainda impõe o arrocho ao povo. A política econômica do governo privilegia o rentismo das empresas, não alavanca o desenvolvimento nacional e aprofunda o arrocho para a maioria da população.
Estado forte
“No mundo inteiro se discute a importância de um Estado forte que olhe para quem mais precisa”, ressalta Gleisi. “É assim no Reino Unido, com Boris Johnson anunciando investimentos e estímulo do governo britânico para recuperar a economia”, destaca, citando que o mesmo se dá na reunião de cúpula da União Europeia, com Angela Merkel e Emmanuel Macron tratando do pacote de ajuda para o pós-pandemia. “Aqui, estamos falando de menos recursos, arrocho fiscal e dinheiro para os ricos”, critica. “É um escândalo porque não há saída com essa política econômica possível para o país voltar a crescer”.
Gleisi diz que a dupla Bolsonaro-Guedes conseguiu um feito e tanto em um ano e meio de governo: aprofundar a recessão e a desigualdade no país. O Brasil está em recessão desde o primeiro trimestre de 2020, encerrando um ciclo de fraco crescimento de três anos (2017-2019). A informação foi divulgada pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos, órgão ligado ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), vinculado à Fundação Getulio Vargas. Daí porque o PT prepara para lançar nas próximas semanas um Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil, como aposta para a superação da crise.
Submissão aos bancos
Caso mantenha a agenda imposta pela ortodoxia míope e canhestra de Paulo Guedes, o temor de muitos economistas é de uma piora sensível do cenário. Com impactos profundos na economia e na formação da sociedade nacional. Ou seja, o pior ainda está por vir. A desigualdade abissal do Brasil, considerado uma das nações mais desiguais do mundo, vai crescer ainda mais daqui para frente, porque o governo Bolsonaro se recusa a promover uma agenda que permita a retomada dos investimentos do Estado para induzir a economia.
Especialistas consideram que o formato de saída da crise do Brasil não será em “V” (queda e recuperação) – como chegou a ensaiar Paulo Guedes – ou “L” (queda e estagnação), o que significaria uma recessão ainda prolongada. O país deve experimentar uma saída da economia do tipo “K”: os mais ricos e as grandes companhias vão ganhar mais e os trabalhadores e empresas menores ficarão mais pobres, abrindo a distância entre os dois grupos. Na prática a desigualdade deixará uma marca ainda mais profunda na sociedade brasileira.
“Isso é resultado direto da precarização do mundo do trabalho. Aqui, cortaram os direitos dos trabalhadores com a promessa de mais empregos. E o que vemos agora é trabalhadores sem renda e com ocupação de espaço ainda mais precária no mercado informal”, critica a ex-presidenta Dilma Rousseff. Ela considera que a crueldade se dá em cima inclusive dos pequenos e microempresários, que apostaram no empreendedorismo e agora encaram falência e toda sorte de dificuldades porque os bancos não emprestam dinheiro.
Cenário de guerra
No mais, avalia-se que a ampliação da desigualdade no país se dará em função do acúmulo de renda pelo topo da pirâmide social brasileira e a perda da massa salarial de forma brutal nas classes mais baixas. Fora que o isolamento social atingiu o setor de serviços, repleto de vagas precárias e salários baixos. A prometida avalanche de dinheiro barato do Banco Central não chegou às micro e pequenas empresas. Ou seja, Guedes fracassou em todas as frentes, mas conseguiu deixar a salvar os grandes bancos e o sistema financeiro, que continua a obter lucros recordes mesmo em meio à crise que assola os setores da economia real.
Coordenador de Economia Aplicada da FGV, Armando Castelar avalia que o PIB só voltará aos mesmos níveis de 2014, quando Dilma estava à frente da Presidência, em 2024. O país terá vivido um retrocesso sem precedentes em uma década. “Há muita incerteza, estamos prevendo que a taxa de desemprego deve subir para 18,7%, cinco percentuais acima do que foi no pico da recessão de 2015, de 13,7%”, aponta o economista. “O que fazer com esse mundo de desempregados. Há um esgarçamento do tecido social não trivial. Significa uma explosão de informalidade no país. É um de fato”, diz Castelar, em entrevista ao jornal ‘O Globo’.
Na prática, aponta Gleisi Hoffmann, o Brasil perdeu o passo com o Golpe de 2016, que retirou Dilma do poder, com a promessa de que a economia melhoraria com a saída dela do Planalto. “O que constatamos agora um cenário de guerra. O país atravessa o seu pior momento na história, com perdas de direitos, desmonte do Estado e desmanche das conquistas sociais, não apenas da era Lula e Dilma, mas dos anos 30 e 50 do século 20”, ressalta a presidenta do PT.