Partido dos Trabalhadores

Bolsonaro demonstra claro aspecto ditatorial, dizem especialistas

Comportamento do candidato tem aspectos de menosprezo a outros poderes, pregação de extermínio e intolerância a adversários, típicos de ditadores

Carta Capital

Jair Bolsonaro

Um novo escândalo envolvendo a candidatura de Jair Bolsonaro, do PSL, afina ainda mais a imagem de um caminho para a ditadura, em um eventual governo do ex-capitão do exército.

Bolsonaro já disse, no Acre, que iria fuzilar os petistas daquele Estado, levantou dúvidas sobre o resultado das eleições do primeiro turno, se recusa a participar de debates ou discutir francamente o seu obscuro plano de governo e, no último domingo (21), durante um ato na avenida Paulista foi exibido um vídeo do candidato em que dizia que irá prender quem for contra o governo dele caso seja eleito.

Para Luciana da Cruz Brito, doutora em História Social pela Universidade de São Paulo e pesquisadora do Instituto Du Bois da Universidade de Harvard (EUA), a figura do Bolsonaro se encaixa na imagem de um ditador.

“É um perfil ditador sim. Eu poderia ir para a Alemanha nazista, para citar exemplo, mas vou ficar no Brasil mesmo lembrando daquele slogan ‘Ame-o ou Deixe-o’. Essa ideia de que uma militância de esquerda, homens e mulheres, que não estejam de acordo com o perfil ditatorial e antidemocrático que deixe o país ou vá para a cadeia, lembra muito as políticas do período ditatorial”, disse a pesquisadora.

Agora, veio à tona o vídeo do filho do candidato dizendo que para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) seria necessário apenas um “soldado e um cabo”, durante uma palestra para militares em julho deste ano.

A declaração desrespeitosa em relação à última instância do poder Judiciário vindo de uma figura tão próxima a um candidato a presidência da República é preocupante. Assim como a resposta do próprio Bolsonaro que minimizou a fala do filho e acusou que os opositores estavam explorando a declaração fora de contexto.

Na verdade, o contexto era um possível pedido de impugnação da candidatura de Bolsonaro aceito pelo STF. Segundo Eduardo Bolsonaro, de 34 anos, numa situação de impugnação o caminho seria fechar o Suprema Corte.

“O que é o STF? Tira o poder da caneta de um ministro do STF. Se prender um ministro do STF, você acha que vai ter manifestação em favor do ministro do STF? Com milhões na rua?”, disse o herdeiro de Bolsonaro no vídeo.

De acordo com a pesquisadora, a fala do deputado resume o espírito ditatorial e impositivo da candidatura Bolsonaro.

“É sobrepor a lei. É sobrepor as instâncias nacionais de garantias de funcionalidade da lei, da democracia e de direitos. É sobrepor essas regras legais e constitucionais em nome da vontade de um pequeno grupo representado por uma família. Na fala e o no jeito de corpo do deputado que é a representatividade da branquitude e de uma masculinidade tóxica. Ele é autorizado a sobrepor qualquer instância da lei brasileira por ser um jovem branco, que pertence às elites nacionais. A fala dele é baseada em nada, em nenhum lugar na legislação, a não ser a própria vontade e ao grupo familiar que ele representa”, disse.

Repercussão

O ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, retrucou a declaração nesta segunda-feira (22). “Estas afirmações merecem por parte da Procuradoria-Geral da República, merecem imediata abertura de investigação porque, em pese se deva analisar o contexto da declaração, isso é crime da Lei de Segurança Nacional, artigo 23 inciso III, incitar a animosidade entre as Forças Armadas e instituições civis. Isso é crime previsto na Lei de Segurança Nacional”, disse.

O ministro do STF Celso de Mello também comentou a frase e fez críticas a Bolsonaro.

“Essa declaração, além de inconsequente e golpista, mostra bem o tipo (irresponsável) de parlamentar cuja atuação no Congresso Nacional, mantida essa inaceitável visão autoritária, só comprometerá a integridade da ordem democrática”, disse.

A preocupação com o futuro da democracia no Brasil, caso Bolsonaro vença a eleição, aparece também na análise da professora de História da Unesp de Franca, Marisa Saenz Leme.

“Ele é um ditador no caminho fascista, no meu modo de pensar, não é simplesmente um ditador, porque os seus apelos são os apelos do nazi-fascismo, que ele faz para uma população que o segue de modo cego. São apelos contra as instituições”, disse a professora.

De acordo com Marisa, a campanha Bolsonaro inflama os eleitores contra as instituições para enfraquecê-las. Daí, nem a realização de debates é necessária.

“O pior é que os seguidores acham que está certo, defendem isso. O que é que ele vai fazer lá, passar um estresses à toa com aquele comunista. Tudo contra ele é demonizado. Uma coisa contra ele é fake news. É perseguição. Aí demoniza tudo. Demonizou o debate”, comentou.

A professora, levando em conta a expansão do fascismo na Europa, comentou o modelo de governo que pode ser aplicado por Bolsonaro.

“Não é uma ditadura militar. É aquele procedimento que Hitler e Mussolini fizeram. Eles foram eleitos e, via Congresso, foram modificando a legislação. Para aprovar propostas de emenda constitucionais e por dentro vai transformando isso. Uma ditadura desses moldes, transformando por dentro o Congresso. Agora eu não sei até que ponto a sociedade consegue resistir e impedir”, disse Marisa.

Por Brasil de Fato