Ao adotar a agenda dos bancos e do sistema financeiro, o presidente Jair Bolsonaro está conseguindo piorar a vida do povo brasileiro. O fim do auxílio emergencial em dezembro, definido pelo Palácio do Planalto, pode levar 1/3 dos brasileiros à pobreza. A estimativa é do ex-ministro da Secretária de Assuntos Estratégicos do governo Dilma, o economista Marcelo Neri, diretor da Fundação Getúlio Vargas Social (FGV-Social). Nada menos do que 66 milhões de brasileiros cairão na pobreza a partir de janeiro de 2021.
“Isso representa meia Venezuela. Essas pessoas vão para pobreza e ainda com as cicatrizes do mercado de trabalho e os efeitos mais permanentes da pandemia”, avalia. “Saberemos como esses indicadores vão se comportar em setembro, mês que o valor do auxílio foi cortado pela metade”. O PT decidiu entrar em obstrução na Câmara dos Deputados pressionando pela votação da Medida Provisória 1000, que o reduziu auxílio emergencial pela metade de R$ 600 para R$ 300. A oposição luta sem trégua para que seguro-quarentena seja mantido. “Não vamos permitir a redução do auxílio-emergencial”, alerta o senador Humberto Costa (PT-PE).
De acordo com Neri, em um cenário considerado otimista, o Brasil ampliará em cerca de 16 milhões o total de pessoas consideradas pobres quando o auxílio emergencial pago aos mais vulneráveis terminar, no final deste ano. Esse contingente de “novos pobres” ampliará para quase um terço o número de brasileiros que passarão a viver com menos de R$ 522 ao mês, em média. O valor representa menos de meio salário mínimo e cerca de US$ 3 ao dia.
Solução é assegurar renda para o povo
É exatamente por isso que o PT está lutando para retomar no Congresso o debate em torno do programa Mais Bolsa Família, que vai ampliar o valor do benefício e a cobertura, garantindo a pelo menos 30 milhões de famílias uma renda básica, a ser custeada pela taxação dos super-ricos. “A inflação voltou, o salário diminuiu e o auxílio emergencial foi cortado pela metade”, denuncia o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE).
Na avaliação de Marcelo Neri, a interrupção dos pagamentos do auxílio emergencial pelo governo já a partir de janeiro do ano que vem aumentará o total de pobres de 23,6% (50,1 milhões de pessoas) para cerca de 31% (66,2 milhões). A hipótese é considerada otimista pelo próprio economista. O país voltaria ao mesmo patamar de depois do Golpe de 2016, quando Dilma foi afastada da Presidência da República no impeachment sem crime de responsabilidade aprovado pelo Congresso.
Neri lembra que no segundo trimestre deste ano, quando os efeitos do isolamento social e da paralisação do país, agravadas pela má condução da política econômica por Bolsonaro, provocou uma queda na renda média dos brasileiros de 20%. Mas a situação da maioria da população foi pior, porque os 50% mais pobres no país tiveram uma queda de renda ainda maior: 28%. A FGV Social avalia que o aumento da pobreza deve afetar mais as regiões Nordeste e Norte.
Da Redação