A mentira é a principal ferramenta de Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Muitas notícias falsas estão sendo derrubadas por decisão do TSE, mas algumas delas continuam circulando, inclusive no plano de governo que o candidato apresentou ao tribunal. Bolsonaro utiliza baseia suas propostas em dados falsos sobre a relação entre porte de armas e homicídios, ou entre homicídios e população carcerária.
Bolsonaro mente ao dizer que “armas são instrumentos, objetos inertes, que podem ser utilizados para matar ou salvar vidas”, dependendo de quem a porta
De acordo com Felippe Angeli, gerente de Advocacy do Instituto Sou da Paz, “não se trata de opinião, de gostar de armas ou de questão ideológico-partidária. Na ciência e na academia, a relação entre o aumento do número de armas de fogo e o aumento de mortes está estabelecido, é como cigarro e câncer. Não se trata de opinião”.
Três estudos publicados por Harvard são bem enfáticos nesse sentido. O trabalho “Disponibilidade de armas e homicídio: uma revisão da literatura”, de Lisa Hepburn e David Hemenway, comprova que onde há mais armas, há mais homicídios. Um trabalho similar que compara 26 países ricos, liderado por Hemenway, comprova: entre as nações ricas, mais armas significam mais mortes.
Segundo o doutorando em economia na Unicamp, Thomas V. Conti, entre 2013 e outubro de 2017, foram encontrados 34 novos estudos empíricos indicando que armas tem um efeito promotor da violência, contra 7 com conclusões contrárias.
Bolsonaro mente ao dizer que países como Alemanha, Canadá e Finlândia são lugares onde “cada lar tem uma arma de fogo”.
Na Alemanha o cidadão deve comprovar de forma concreta que corre risco ou que tem que garantir a segurança de um objeto, o que se aplica a políticos ou serviços de segurança. Mesmo que a permissão tenha sido dada, ela restringe o porte, como por exemplo, em festas e eventos. Atualmente a Alemanha possui 19,6 armas para cada 100 habitantes, mas apenas 7 delas são legais.
No Canadá, desde 1995, para ter licença de posse de armas é preciso ter mais de 18 anos e passar por uma comissão que verifica, por exemplo, se o interessado nunca foi internado por problemas mentais ou se tem antecedentes criminais. O Canadá sempre regulou a posse de armas. Desde 1934 é obrigatório registrar qualquer armas de mão comprada no país e a primeira lei obrigando a ter licença é de 1979.
A Finlândia, por sua vez, possui uma quantidade relativamente alta de armas – 32 para cada 100 habitantes – mas a maior parte é de armas de caça e tiro esportivo – atividades populares no país há muitos anos. A posse de armas é regulada com licença obrigatória e todas as armas devem ser registradas.
Bolsonaro mente ao comparar o número de homicídios em países com características diferentes.
Felipe Angeli explica que não se pode comparar países de condições sociais diferentes. “Desigualdade social, universo prisional, quão homogênea é a sociedade”, tudo isso deve ser levado em conta. “Sempre que se fala que os Estados Unidos tem muitas armas e é menos perigoso que Brasil, mas ao se comparar com países de IDH próximo, os Estados Unidos tem 20 vezes mais homicídios”.
Bolsonaro mente ao dizer que os Estados Unidos são um exemplo de segurança.
Em uma entrevista à Globo News, ele chegou a dizer “se arma causasse uma explosão de mortes, os EUA seria o país mais violento no mundo”.
Segundo publicou a agência de checagem “Aos Fatos“, “os Estados Unidos não é o país mais violento do mundo, mas é muito mais violento do que qualquer um dos países mais ricos do mundo, de acordo com dados do UNODOC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime). (…) A declaração de Bolsonaro foi classificada como FALSA porque, apesar de os Estados Unidos não ser o país mais violento do mundo, o número de armas de fogo no país impacta de forma relevante os índices de violência”.
A agência ainda destaca que “nos Estados Unidos, em 2015, a taxa de homicídio foi de 4,88 assassinatos por 100 mil habitantes. Em todos os outros países do G7, composto também por Canadá, Alemanha, Itália, França, Reino Unido e Japão, as taxas ficaram abaixo de dois assassinatos por 100 mil habitantes, de acordo com dados do UNODOC“.
Já Honduras, que é o país mais violento do mundo com 55 homicídios por cada 100 mil habitantes, possui 14,10 armas por habitantes, quase o dobro do Brasil, e um IDH bem inferior, aspectos que somados, ajudam a explicar a violência.
Bolsonaro usa dados falsos ao comparar o Brasil com outros países da América Latina.
O candidato do PSL compara o Brasil com Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai utilizando dados que não condizem com a realidade.
Segundo levantamento da Small Arms Survey, principal entidade no mundo que pesquisa o porte de amas e assassinatos violentos, o Uruguai e a Argentina apresentam mais mortes que o divulgado pelo candidato de PSL. Além disso, ele só compara países que se encaixam em sua teoria irreal. A Colômbia, que possui mais armas por habitante que o Brasil, contabiliza muito mais mortes. Já o Peru, com menos armas, é mais seguro.
Confira abaixo os dados divulgados pelo último levantamento do Small Arms Survey de 2017
Da redação da Agência PT de notícias